Erdogan aposta tudo na vitória na “sua” Istambul

O Presidente turco tem-se esforçado para que, na repetição das eleições locais, o seu candidato vença as municipais em Istambul. E, mesmo assim, poderá não ser suficiente.

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Comício de Ekrem Imamoglu, o candidato da oposição HUSEYIN ALDEMIR/Reuters,HUSEYIN ALDEMIR/Reuters
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Apoiantes do candidato do partido de Erdogan num comício ERDEM SAHIN/EPA
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Apoiantes do candidato da oposição durante um comício SEDAT SUNA/EPA
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Ekrem Imamoglu, candidato da oposição à presidência da Câmara de Istambul, junto ao líder do seu partido, Kemal Kilicdaroglu HUSEYIN ALDEMIR/Reuters
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O candidato de Erdogan à presidência da Câmara de Istambul, Binali Yildirim ERDEM SAHIN/EPA

Há 25 anos, Recep Tayyip Erdogan, então uma estrela em ascensão na política turca, era eleito presidente da Câmara Municipal de Istambul. A vitória marcou o início da carreira que o projectou como o líder turco mais poderoso das últimas décadas. Mas agora, a cidade onde tudo começou está perto de dar ao agora Presidente da República uma derrota histórica.

Quase três meses depois, a maior e mais importante cidade turca repete as eleições para escolher o presidente da Câmara Municipal. Porém, o confronto deste domingo pode ter repercussões que vão muito além de Istambul.

Nas eleições de 31 de Março, disputadas ao milímetro em Istambul, o candidato do Partido Popular Republicano (CHP), Ekrem Imamoglu, chegou a ser dado como vencedor, derrotando por uma curtíssima margem o escolhido por Erdogan para representar o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), o ex-primeiro-ministro, Binali Yildirim. No entanto, após um processo muito controverso, as autoridades eleitorais decidiram dar razão à queixa apresentada pelo AKP, de que houve indícios de irregularidades eleitorais, e ordenou a repetição das eleições.

A decisão da justiça eleitoral foi muito criticada pela oposição, que a acusou de actuar ao serviço de Erdogan. O tribunal considerou que alguns documentos referentes à contagem dos votos não foram assinados e notou que alguns membros das mesas de voto não eram funcionários públicos. A oposição questionou a pertinência de se repetir apenas as eleições para a presidência do município, e não para outros cargos locais que foram escolhidos no mesmo dia e nas mesmas circunstâncias. A não publicação do relatório das autoridades de supervisão eleitoral ajudou a aumentar as suspeitas.

“A nossa democracia sofreu um grande golpe”, denunciou Imamoglu, pouco depois de ser conhecida a decisão de repetir as eleições.

Desde então, Erdogan tem concentrado as suas atenções em Istambul quase em exclusivo, empenhando-se pessoalmente. O “homem forte” da Turquia participou em dezenas de comícios de campanha nos últimos dois meses e multiplicou os apelos junto dos antigos eleitores do AKP que se abstiveram em Março, descontentes com o rumo da economia. Numa decisão histórica, Yildirim concordou até em participar num debate televisivo com Imamoglu – desde que Erdogan chegou ao poder, nunca participou em qualquer debate com adversários políticos.

“Pela primeira vez na história do país, o Presidente está a concorrer contra um candidato local. Esta é a importância que a corrida em Istambul adquiriu”, escrevia no Guardian o presidente-executivo do Centro de Estudos Económicos e de Relações Internacionais de Istambul, Sinan Ülgen.

Erdogan e o AKP estão conscientes dos riscos que as eleições locais em Istambul acarretam. Algumas sondagens mostram Imamoglu com uma confortável liderança face a Yildirim. “Se perderem as eleições em Istambul duas vezes, significa que há um novo começo. Eles vão ter de começar a pensar no que vão fazer a seguir”, disse ao Financial Times Ali Carkoglu, professor de Ciência Política da Universidade Koc.

O conturbado processo de repetição das eleições deixou divisões até no AKP, com vários dirigentes a criticarem publicamente a posição do partido. Personalidades como o ex-primeiro-ministro Ahmet Davutoglu, ou o ex-Presidente Abdullah Gul, encabeçaram as críticas, e há quem anteveja a hipótese de que as dissidências possam fazer surgir novos partidos, enfraquecendo ainda mais a hegemonia de Erdogan e do AKP.

“Há tanto descontentamento que, na minha opinião, se houvesse um novo partido com uma matriz económica liberal, mais centrista, poderia facilmente ir buscar apoio entre os eleitores do AKP e da classe média alta”, disse ao FT o ex-membro da direcção do AKP, Osman Can.

Numa disputa que se prevê apertada, a chave para a vitória poderá estar entre a comunidade curda de Istambul, que constitui cerca de 15% do eleitorado da metrópole. Com isto em mente, o AKP tem adoptado uma postura mais conciliadora e, no início do mês, Yildirim fez mais de mil quilómetros para fazer campanha em Diyarbakir, a principal cidade do Curdistão turco. O Governo permitiu também que o líder histórico do Partido dos Trabalhadores do Curdistão, Abdullah Ocalan, preso há vinte anos, se reunisse com o seu advogado – algo que lhe era negado desde 2011, diz a Reuters.

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