Manifestantes cercam quartel-general da polícia em Hong Kong

Os manifestantes exigem que a lei de extradição seja completamente retirada e não apenas suspensa. E preparam-se para resistir até o conseguirem.

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A polícia tentou fechar o portão do quartel-general da polícia, mas os manifestantes impediram-no ROMAN PILIPEY/LUSA

Pelo menos 1500 manifestantes voltaram a sair à rua em Hong Kong. E desta vez estão a cercar o quartel-general da polícia, localizado na baixa da cidade. A polícia pediu para abandonarem pacificamente o local por o protesto estar a “afectar” os serviços de emergência, mas os manifestantes não dão sinais de recuarem.

Quem está nas ruas exige que a lei de extradição seja definitivamente posta de lado, o que a chefe do Governo, Carrie Lam, não deixou claro no seu segundo pedido de desculpas ao povo de Hong Kong. Reafirmou a suspensão da lei ao explicar não haver calendário para voltar a discussão parlamentar por o Governo ter primeiro de ultrapassar as divisões – palavras que foram entendidas como o fim da proposta de lei, mas os manifestantes não acreditam e querem ouvi-lo de forma clara.

As desconfianças aumentaram quando, esta sexta-feira de manhã, uma deputada do partido Aliança Democrática para a Melhoria e Progresso de Hong Kong, pró-Pequim, ter defendido a reintrodução da lei numa entrevista na televisão. Pressionada, limitou-se a dizer que estava apenas a “expressar a sua opinião pessoal”.

O projecto-lei contestado autoriza a extradição de pessoas em fuga para vários países com os quais o território não tem actualmente acordos de extradição, incluindo a China continental. É encarada pelos manifestantes como um projecto legislativo que não terá apenas como alvo a criminalidade comum, mas principalmente quem se opõe à influência de Pequim na região administrativa especial.

A intensidade dos protestos diminuiu significativamente nos últimos dias, em parte por causa dos pedidos de desculpa do Governo e por a lei ter sido suspensa. No domingo passado, mais de dois milhões de pessoas saíram à rua contra a lei, o que foi a maior manifestação desde que o Reino Unido transferiu a soberania da região para a China, em 1997.

Entretanto, os manifestantes preparam-se para o pior. À semelhança dos protestos pró-democracia de 2014, cujo símbolo se tornou o chapéu-de-chuva por o usarem para se protegerem do gás pimenta da polícia, há quem esteja a enrolar os braços com sacos de plástico para a eventualidade da polícia avançar para os dispersar.

E, enquanto aguardam nas ruas, organizam-se para resistir. “Vão para algum sítio à sombra e fiquem hidratados. Mantenham a calma por o portão [do quartel-general da polícia] estar aberto, eles vão sair por ali daqui a pouco”, avisou um manifestante aos restantes, citado pelo South China Morning Post.

“Até ao momento não houve confrontos violentos – alguns manifestantes atiraram ovos aos polícias, mas nada de mais grave. Não há polícia anti-motim no local – talvez seja uma tentativa para acalmar a tensão”, explicou o jornalista da BBC em Hong Kong, Helier Cheung.

A polícia tentou encerrar o portão, mas os manifestantes impediram-no, elevando a tensão no local. “Libertem os detidos” é uma das palavras de ordem mais comuns, numa referência aos líderes dos protestos democráticos de 2014.

Os manifestantes recusam ser fotografados ou filmados por quem não apresente identificação de jornalista. Receiam que as imagens possam ser usadas pelas autoridades em processos criminais. “Não tirem fotos se não forem jornalistas. Todos os jornalistas que mostrem, por favor, o cartão de imprensa”, disse um homem ao megafone, citado pelo South China Morning Post.

A reivindicação de demissão de Lam pelos manifestantes, que era até há poucos dias uma das principais, parece ter sido abandonada, diz Cheung. Ao invés, apostam na retirada total do projecto legislativo e em exigir uma investigação independente à violência policial no protesto de 12 de Junho, quando a polícia de choque dispersou os manifestantes usando gás lacrimogéneo e balas de borracha.

As autoridades foram acusadas pela Human Rights Watch de usarem “força excessiva” contra os manifestantes. Não menos de 72 pessoas, entre os 15 e os 66 anos, ficaram feridas, incluindo duas em estado crítico. E 21 polícias deram entrada nos hospitais de Hong Kong.

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