Hugo Costa apresentou uma colecção sem género na Semana da Moda de Homem

O designer português inspirou-se nas mulheres sul-coreanas Haenyeo que representam a estrutura familiar semi-matriarcal. A mensagem é de igualdade de género. Aconteceu em Paris.

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Ugo Camera
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Corria o século XVIII na ilha sul-coreana de Jeju e as mulheres já superavam o número de homens que mergulhavam para garantir o sustento da família. As Haenyeo representam a estrutura familiar semi-matriarcal desta ilha e são, actualmente, um dos principais símbolos turísticos e culturais da Coreia do Sul, e também a inspiração do designer português Hugo Costa para a sua colecção Primavera-Verão 2020,​ que levou até à cidade de Paris durante a Semana da Moda Masculina. 

Estas mergulhadoras são “mulheres super-fortes, super-resistentes e subvertem completamente a forma como nós pré-historicamente somos educados – de que o homem é responsável pela procura do alimento para as famílias”, explica o criador ao PÚBLICO. Hugo Costa apresentou as suas criações nesta terça-feira, no número 43 da Rue Notre Dame de Nazareth, bem no coração de Paris. Ao invés de um desfile tradicional, o designer optou por uma apresentação dinâmica em que os modelos circulavam pelo espaço e posavam em vários pontos para a fotografia.

O espaço lembrava uma lota – ​com estruturas de peixes e marisco, nas louças Bordallo Pinheiro, dentro de caixas empilhadas onde paravam os manequins​. A colecção de Hugo Costa é composta por motivos piscatórios, como redes, coletes, impermeáveis e muitos bolsos – tudo em​ tons de verde, azul, branco e cor-de-laranja. “Estamos a falar de pessoas que mergulhavam com um fato de mergulho e com uma blusinha, um top, super-delicado por cima para não perder a feminilidade. Depois usavam uns cintos que pareciam feitos de câmara-de-ar de bicicleta. Pareceu-me muito interessante toda esta imagem. Claro que eu não tenho fatos de mergulho, mas tenho materiais estruturados”, justifica. 

Os bolsos estiveram presentes na maioria das criações. Segundo Hugo Costa, “os bolsos, pela função, o exagero de função é uma característica da marca. Nunca simpatizei com coletes, no entanto, faziam-me sentido por causa do imaginário piscatório que havia. O colete, a rede, todos os materiais e todos os detalhes foram pensados para coexistirem neste imaginário. Lá no estúdio, nós pensamos em todos os elementos e tentamos criar mais complexidade”, continua.

De acordo com o designer, o processo criativo foi relativamente simples. “Vi um documentário sobre elas. Acordei no dia seguinte e comecei a desenhar a colecção. Desenhei em duas tardes. Muito intuitivo, muito rápido”, disse. “Depois foi uma questão de irmos à procura dos materiais certos que tínhamos imaginado e encontrar os impermeáveis e as redes que faziam sentido por muito que fossem dois materiais tecnológicos (nós habitualmente trabalhamos materiais mais tradicionais)”, complementa. Apesar disso, Hugo Costa quis “manter alguns elementos que são nossos como o jeanswear, os denim que são fundamentais e fazem parte da nossa estratégia de marketing”. 

O desafio às normas de género

Apesar de se tratar da Semana da Moda Masculina, a colecção não tem género. “As roupas são sem género um pouco por consequência do meu design e por eu não pensar no género quando estou a desenhar, eu penso na silhueta, nos materiais, nas peças, no styling e crio imagens na minha cabeça. Essas nunca têm um corpo definido”, revela. Assim, o criador defende uma moda sem género, apesar de a base das suas criações ser masculina: “Há uma proximidade com o clássico masculino, faz parte das nossas inspirações, mas não seria honesto da minha parte continuar a dizer que desenho vestuário de homem, eu desenho um vestuário para quem quiser consumir. Simples. Quem se identificar com a minha forma de pensar”, acrescenta. 

Outra mensagem que quer fazer passar é uma mensagem de igualdade. “Eu sou um defensor da igualdade, como o meu pai diz eu era sindicalista. Evidenciar a igualdade, fazer as pessoas reflectir é algo que é muito meu, muito interventivo, sempre fui”, conclui. 

O PÚBLICO viajou até Paris a convite do CENIT.

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