Reserva Federal perde a paciência e sinaliza descida das taxas

Depois das mais recentes pressões de Trump, e um dia depois de Draghi admitir voltar a descer taxas, a autoridade monetária americana começou a movimentar-se no mesmo sentido.

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Reuters/KEVIN LAMARQUE

A Reserva Federal norte-americana (Fed) deu, pela primeira vez em mais de uma década, sinais de estar a começar a mudar ligeiramente a sua posição, numa altura em que a economia dos Estados Unidos continua a crescer de forma sólida.

Apesar de ter mantido a sua taxa de juro de referência entre 2,25% e 2,5%, a Fed eliminou a expressão “paciente” quando se referiu à sua postura face aos custos de financiamento. Um sinal que os mercados interpretaram imediatamente como uma alteração no sentido de começar a admitir uma descida das taxas de juro.

Jerome Powell, presidente da Reserva Federal – muito criticado pelo presidente dos Estados Unidos por não estar a estimular ainda mais a economia através de um corte de taxas – deixou claro no comunicado divulgado esta quarta-feira, depois de uma reunião de dois dias, que existem incertezas suficientes que justificam esta mudança de postura.

Apesar de continuar a acreditar que a criação de emprego e inflação se mantêm dentro do objectivo, a Reserva Federal identificou que “aumentaram as incertezas” na economia, daí que – “perante as inexistentes pressões inflacionistas” – a autoridade “irá monitorizar de perto as implicações da informação sobre as perspectivas económicas e irá agir de forma apropriada para” assegurar que o crescimento económico continua robusto.

Os investidores leram estas palavras e apressaram-se a comprar acções em Wall Street, eliminando as perdas que os índices bolsistas norte-americanos apresentavam antes da divulgação do comunicado, ao mesmo tempo que as taxas de juro da dívida americana sofreram uma descida e os futuros sobre as taxas da Fed sinalizaram a possibilidade de um corte já em Julho.

No comunicado, citado pela Bloomberg, a Fed mudou a sua avaliação sobre a economia de um ritmo “sólido” para “moderado”, confirmando as análises que apontam para um eventual abrandamento económico na sequência da guerra comercial iniciada por Donald Trump. O presidente dos EUA reagiu, esta terça-feira, ao discurso de Mario Draghi, em Sintra, que deu indicações claras de que o BCE está disposto a voltar a estimular a economia da zona euro, provavelmente através de novas descidas das taxas de juro. Trump falou em desvantagem do dólar face ao euro perante aquilo que entende ser uma postura diferente das duas autoridades monetárias. No dia seguinte, a Fed – que subiu as taxas de juro quatro vezes no ano passado – perdeu a paciência e respondeu.  

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