O exame de Português “correu bem”, mas há quem pense no ensino privado para entrar no superior

Na Escola Secundária de Camões, a generalidade dos alunos achou que o exame de Português, que decorreu esta terça-feira, “correu bem”. Também a Associação de Professores de Português (APP) se mostrou “muito agradada” com a prova, que diz ter ido “ao encontro das expectativas dos alunos”.

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O exame de Português do 12.º ano foi realizado por mais de 70 mil alunos Daniel Rocha

Há quem reveja a matéria à última hora e não dispense dar uma vista de olhos no livro de Português antes de entrar na sala. À entrada, um rapaz pede uma caneta ao funcionário – tinha-se esquecido do estojo. O nervosismo paira no ar antes do primeiro toque para a entrada, às 9h05. Fica tudo silencioso. Os alunos vão ocupando 25 salas na Escola Secundária de Camões, em Lisboa, enquanto os professores confirmam as listas dos cerca de 500 alunos que foram a exame nesta terça-feira, tanto a Português, como Português Língua Não Materna.

Soa o segundo toque, às 9h30. Os alunos que já estão nas salas começam a prova. Já não é possível entrar nas salas, mesmo que se chegue atrasado. Há quem tente, sem sucesso - dois alunos ficaram retidos nos transportes por causa de um acidente. No entanto, já só poderão ir à 2.ª fase.

Sobre o nervosismo dos alunos, Lídia Teixeira, professora de Português nesta escola há 23 anos, refere estas situações imprevisíveis, mas também o facto de a sociedade pressionar os alunos nestas alturas. Aliás, conta que já chegaram a ter dois workshops com uma psicóloga para trabalhar a ansiedade dos estudantes.

“A própria sociedade cria esta ideia que o exame é um momento marcante, determinante, que nós tentamos desconstruir um bocadinho. É apenas um momento na vida deles. Até porque nunca se sabe, pode acontecer algum problema no dia do exame”, diz Lídia Teixeira.

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No final do exame acabou por “não haver surpresas”, na opinião de Filomena Viegas, presidente da Associação de Professores de Português (APP).

“Vai ao encontro das expectativas que os alunos tinham face ao exame, se os alunos se prepararam para a prova esta não tem surpresas”, especifica, acrescentando que a APP ficou “muito agradada” com o exame. A prova desta terça-feira foi realizada por 72.910 alunos. Estavam inscritos 77.198.

O decorrer da prova

Enquanto o tempo da prova vai passando, algumas professoras lembram ao PÚBLICO os temas em que os alunos sentem mais dificuldades. Ana Enes, professora de Português nesta escola há dez anos, refere que os estudantes têm mais dúvidas na gramática: “Os alunos são muito cépticos em relação à gramática, e às vezes nem se esforçam, porque acham que não conseguem”, explica.

Já Lídia Teixeira aponta para a poesia: “Num poema é preciso estar com mais atenção. A narrativa ou o texto dramático acabam por ser mais fáceis para os alunos”, afirma.

Sobre este assunto, Ana Enes vai mais longe e explica que, apesar de as matérias do 12.º ano usarem uma língua mais próxima dos alunos, o nível de interpretação acaba por ser mais complexo do que aquele que é utilizado na lírica trovadoresca, por exemplo: “A simplicidade do texto, apesar da aparente barreira da linguagem, é atractiva. Eles entendem todo aquele cenário das cantigas de amigo, das cantigas de amor e do trovador”, clarifica.

Do entusiasmo ao nervosismo

A conversa termina mesmo a tempo do toque que encerra a prova. Os alunos apressam-se a juntar em grupos, para compararem respostas. Alguns saem com o passo apressado e o telemóvel bem colado ao ouvido, dispensando a troca de impressões com os colegas.

As professoras vão abordando os vários grupos de estudantes – no fundo, também elas estão um pouco ansiosas por eles. Dos nove alunos entrevistados pelo PÚBLICO, todos foram unânimes em considerar que a prova “correu bem”. Mas as reacções face às correcções que as professoras indicam vão variando: há quem se abrace, há quem admita um erro de gramática atrás de um sorriso nervoso.

A mais expressiva foi Ivone Gradim, de 17 anos, que pulou de alegria ao confirmar com a professora que grande parte das respostas da gramática estavam correctas: “O exame correu-me bastante bem, tinha a certeza do que estava a fazer. Quero seguir Direito, e este exame pode ser decisivo, uma vez que Português é a minha nota mais baixa”, conta.

Também Tiago Alves, de 20 anos, afirmou que a prova “correu melhor do que estava à espera”. Fez o exame como aluno externo, por estudar no curso profissional de Multimédia, mas não sentiu que isso fosse uma dificuldade.

“Em algumas escolas o ensino de português nos cursos profissionais não é tão aprofundado, mas eu concordo que se faça a mesma prova. Acho que cabe ao pessoal do profissional estudar mais do que os de ensino regular”, confessa o aluno, que espera entrar num curso de Audiovisuais e Som nas Caldas da Rainha, “ou até na Escola Superior de Comunicação Social”, em Lisboa.

No entanto, este exame acaba por não ser decisivo para toda a gente, ou porque o curso em que desejam entrar é muito diferente ou porque, a esta altura do campeonato, o ensino privado é a melhor hipótese.

“Quero seguir Matemática Aplicada e este exame não é decisivo para a média, pelo que acabei por não lhe dar tanta importância. Preciso de me focar noutros, como o de Físico-Química e Matemática”, conta João Rocha, de 17 anos.

Já Tiago Tomás, de 20 anos, tem em mente o curso de Direito, mas sabe que terá de “recorrer à privada”: “Foram duas, três semanas em que estudei bastante, mas não estou muito confiante em ter uma nota que me suba a média. Se calhar podia ter dado mais, mas também não devemos deixar de fazer a nossa vida por causa de exames”, defende. com C.V.

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