Esquerda evita danos ao Governo em relatório sobre Tancos

Direita acusa “geringonça” de máquina branqueadora, de ilibar responsabilidades do executivo e de escolher a Judiciária Militar para bode expiatório.

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Constituição da comissão parlamentar de Tanjcos Daniel Rocha

PS, Bloco e PCP travaram esta terça-feira as consequências políticas que poderiam pôr em causa o executivo socialista na gestão do assalto a Tancos. “É o relatório que é conveniente ao Governo e ao PS”, criticou o deputado Telmo Correia, do CDS-PP, partido que propôs a constituição da comissão parlamentar de investigação ao roubo dos paióis.

A votação das conclusões com maior repercussão política, referentes às responsabilidades governativas, foi ditada pela actual maioria parlamentar, chumbando as alterações propostas pela direita. Foi esse o destino, entre outras, da conclusão sugerida pelo CDS criticando a omissão do ex-ministro da Defesa Nacional, Azeredo Lopes, na comissão parlamentar de Defesa Nacional de 12 de Setembro de 2018 sobre ter estado reunido no dia do achamento do material roubado em Tancos, a 18 de Outubro de 2017, com o então director-geral da PJM e hoje arguido, coronel Luís Vieira.

O mesmo aconteceu à classificação pelos centristas de interferência política no Exército em vários episódios da acção do ex-ministro da Defesa, embora neste caso com a abstenção do Bloco, e à referência ao memorando de responsáveis da Polícia Judiciária Militar (PJM) que revela a acção ilegal daquele órgão de polícia criminal no achamento do furtado, neste caso com a abstenção do PSD.

As conclusões do CDS-PP que visavam afectar o primeiro-ministro foram rejeitadas à esquerda: nomeadamente que António Costa sabia das queixas de Joana Marques Vidal, então procuradora-geral da República, sobre a não cooperação da Judiciária Militar nas investigações e que o chefe do Governo mentiu ao responder negativamente, a 25 de Outubro, sobre se sabia do memorando da PJM, quando o teve em mãos no dia 12 de Outubro, na mesma data em que o ministro Azeredo pediu a sua demissão.

Este episódio, em que o primeiro-ministro explicou como desconhecimento a data anterior a 12 de Outubro de 2018, foi invocado há uma semana pelo CDS como motivo mais do que suficiente para votar contra o relatório. No deve e haver, o deputado Telmo Correia encontrou um lado positivo.

“Ficámos com a história completa. Desse ponto de vista a comissão parlamentar de inquérito valeu a pena”, admitiu quanto ao conhecimento com que os deputados ficaram da situação das instalações de Tancos e de alguns meandros militares. Contudo, ficou-se aquém das responsabilidades políticas que se procuravam. “Ficou a tentativa de branqueamento do PS e da maioria política que o apoia, a ‘geringonça’ é a melhor máquina branqueadora”, acusou. Já resolvido a contento está a discrepância de números quanto ao material roubado, pela incorporação de um reparo centrista no relatório final sobre 80 lança-granadas.

“O deputado relator [Ricardo Bexiga, do PS] tentou ilibar a responsabilidade política e transformar a PJM num bode expiatório”, atacou esta terça-feira Berta Cabral do PSD. A antiga secretária de Estado da Defesa de José Pedro Aguiar-Branco reconheceu o “notório esforço de incorporação das alterações dos grupos parlamentares” do relator, mas sentenciou a sua insuficiência e recordou que, em Tancos, “o Estado falhou”.

Foram entregues 151 propostas de alteração ao relatório preliminar - 52 da bancada laranja, 42 do CDS, 26 do Bloco de Esquerda e 31 do PCP – das quais 98 foram introduzidas. “Este é o relatório da comissão, não avaliei estados de alma, procurei assentar as conclusões em factos”, defendeu-se Ricardo Bexiga. “Este relatório foi sólido, independente e rigoroso”, sintetizou o socialista Jorge Gomes.

“As conclusões são fiéis ao que passou na comissão parlamentar”, assegurou o deputado bloquista João Vasconcelos. O parlamentar admitiu que o ex-ministro da Defesa não terá tomado conhecimento da totalidade do memorando que a PJM entregou ao seu chefe de gabinete.

O comunista Jorge Machado constatou que a totalidade das propostas de alteração do seu grupo foi aceite. “O relator fez um esforço para fazer um relatório sobre factos, as alterações do PSD e do CDS não têm base na factualidade”, apontou.

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