BCE preparado para agir se a inflação não recuperar

Na última intervenção como presidente do BCE em Sintra, Mario Draghi sinaliza que podem estar no horizonte novas medidas, incluindo reduções de taxas de juro.

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“As fragilidades institucionais na união monetária não podem ser ignoradas” Kai Pfaffenbach/Reuters

O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, deu esta terça-feira sinais de que o banco pode estar próximo de lançar novas medidas de estímulo à economia, se se confirmar o cenário de manutenção da inflação da zona euro a níveis considerados demasiado baixos.

No discurso de abertura do segundo dia do Fórum do BCE, que se realiza esta semana em Sintra, o presidente do banco central fez questão de frisar em diversas ocasiões que o objectivo de inflação do BCE é simétrico, isto é, que tanto se tenta evitar uma variação de preços demasiado alta, como uma inflação demasiado baixa. E, no actual cenário, é a inflação baixa — motivada em grande parte por uma actividade económica lenta — que mais preocupa.

“O que interessa é que a política monetária se mantenha comprometida e não se resigne a uma inflação demasiado baixa. Nós mantemo-nos comprometidos”, afirmou Mario Draghi, adiantando que “num cenário de ausência de melhorias, de tal forma que um regresso sustentado da inflação até ao objectivo do BCE esteja ameaçado, estímulos adicionais serão necessários”.

A promessa de 2012

O presidente do BCE assinalou a existência de riscos, destacando “a ameaça do proteccionismo” e “as vulnerabilidades dos mercados emergentes, e deixou pistas sobre aquilo que o BCE pode vir a fazer, lembrando que mais cortes nas taxas de juro e novas compras de dívida pública continuam a fazer parte das ferramentas disponíveis. “Todas estas opções foram colocadas e discutidas na nossa última reunião”, afirmou Draghi.

No seu último discurso de abertura como presidente num Fórum do BCE, Draghi fez questão de deixar claro que se mantém a sua promessa, feita em 2012, de fazer “tudo o que for preciso” para preservar o euro. “Se a crise mostrou alguma coisa, é que nós vamos usar toda a flexibilidade, dentro do nosso mandato, para cumprir o nosso mandato”, disse.

Em jeito de balanço, Draghi defendeu as mudanças operadas no BCE durante a sua liderança, com a utilização de novos instrumentos, como a compra de dívida pública ou a adopção de taxas de juro negativas. E salientou a ideia de que o BCE tornou claro para todos que o seu objectivo de inflação “abaixo mas perto de 2%” é realmente simétrica, o que significa que, “para esse valor ser atingido em média, [a taxa] terá de ficar acima de 2% em algum momento no futuro”.

A reforma do euro

Draghi deixou também um recado aos governos europeus, defendendo a necessidade de se avançar mais na reforma da moeda única. “As fragilidades institucionais na união monetária que ainda subsistem não podem ser ignoradas, sob o risco de danificarem seriamente aquilo que já foi alcançado”, disse, apelando depois a um salto na integração política na zona euro, em várias frentes, seja no sector financeiro seja na política orçamental.

“A lógica sugeriria que, quanto mais integradas as nossas economias se tornam, mais rápida seria a conclusão da união bancária e de mercados de capital, e mais rápida seria a transição de um sistema de política orçamental baseado em regras para uma capacidade orçamental baseada em instituições”.

Na semana passada, o Eurogrupo apresentou uma proposta de reforma do euro que não produz avanços muito significativos nas áreas referidas por Draghi, apontando apenas para um orçamento comum de pequena dimensão para o investimento e reformas estruturas e não dando passos na direcção de um seguro comum de depósitos na zona euro.

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