Trabalhadores do São Carlos e da CNB alargam greve a mais dois bailados

Sindicato vai ser recebido pela ministra da Cultura na quarta-feira e emitiu novo pré-aviso de greve para bailados em Junho e Julho. Paralisação em torno de harmonização salarial levou ao cancelamento de todas as récitas de La Bohème no São Carlos.

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Nuno Ferreira Santos

O Sindicato dos Trabalhadores do Espectáculo, do Audiovisual e dos Músicos (Cena-STE) emitiu novo pré-aviso de greve para dois bailados da Companhia Nacional de Bailado (CNB) em Junho e Julho, informou a direcção da estrutura sindical ao final da noite de segunda-feira. A paralisação faz parte do protesto em curso dos trabalhadores do Organismo de Produção Artística (Opart), um braço-de-ferro que levará também à reunião do Cena-STE com a ministra da Cultura na quarta-feira.

O protesto dos trabalhadores do Opart, responsável pela gestão conjunta do Teatro Nacional de São Carlos (TSNC), da CNB e da Orquestra Sinfónica Portuguesa, levou já ao cancelamento de todas as récitas de La Bohème entre 7 e 16 de Junho no TNSC. Agora, informa o sindicato, os trabalhadores da CNB decidiram avançar com pré-avisos de greve aos bailados Nós como Futuro, agendadas para 27, 28 e 29 de Junho no Teatro Camões, e Quinze Bailarinos e Tempo Incerto, em cartaz a 17 e 18 de Julho no Teatro Municipal Joaquim Benite como parte da programação do Festival de Almada.

O pré-aviso de greve até agora existente abrangia não só a ópera no São Carlos mas também as apresentações do bailado Dom Quixote no Teatro Municipal Rivoli, no Porto, entre 11 e 13 de Julho, e os espectáculos do Festival ao Largo, em Lisboa, também em Julho. A direcção do sindicato explica em comunicado que Nós como Futuro e Quinze Bailarinos e Tempo Incerto só não tinham sido abrangidos pelo pré-aviso inicial por não terem então as suas datas confirmadas. “Perante os factos actuais serão então alvo de pré-aviso”, diz o Cena, que desde domingo discute novas formas de luta após a adesão à paralisação em torno de La Bohème que levou o São Carlos a cancelar as suas récitas.

Entretanto, e depois de terem dirimido argumentos sobre esta greve e o anúncio de três milhões de euros para obras de requalificação no São Carlos, uma delegação do Cena-STE vai ser recebida pela ministra Graça Fonseca na quarta-feira. Na semana passada, o sindicato pediu uma audiência ao primeiro-ministro para discutir o tema Opart e, diz agora a estrutura de representação dos trabalhadores em comunicado, “esta reunião é também a resposta do primeiro-ministro, que decidiu delegar a sua representação na sra. ministra. Continuamos a julgar que a solução dificilmente passará por esta tutela”, diz o sindicato na mesma nota, manifestando-se ainda assim expectante que Graça Fonseca “aponte uma solução clara e séria para a resolução do conflito”. 

Em causa nesta greve estão várias reivindicações, como a harmonização salarial entre os trabalhadores técnicos do TNSC e a CNB e pagamento de retroactivos desde Setembro de 2017, bem como a aprovação de um regulamento interno para o Opart e a atribuição de uma sala de ensaios à Orquestra Sinfónica, entre outras. A administração do Opart chegou a comprometer-se com os trabalhadores a processar ainda este mês de Junho a dita harmonização salarial que representa, diz o sindicato, cerca de 170 euros mensais para cerca de 20 trabalhadores, num bolo (com retroactivos) de 60 mil euros previstos de despesa.

Mas esse compromisso foi entretanto contrariado pela tutela - que tem responsabilizado os dois vogais da administração, Samuel Rego e Sandra Simões, por erros nas negociações, deixando de fora o seu presidente, Carlos Vargas, e pretendendo substituir os vogais em breve. No comunicado enviado segunda-feira às redacções, o Cena-STE diz estranhar que o presidente do Opart “estará toda esta semana em férias” já depois de ter estado na China na semana passada em trabalho - “seria de esperar que esta semana fosse inteiramente dedicada a encontrar soluções para o conflito laboral existente. Desta forma, julgamos que os trabalhadores sentirão ainda menos confiança no dr. Carlos Vargas e considerarão que, cada vez mais, ele é também parte do problema”. Entretanto, a Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto vota esta quarta-feira o requerimento do Bloco de Esquerda para ouvir o Cena-STE e o Opart sobre a greve dos trabalhadores do TNSC.

O compromisso por escrito quanto aos prazos prometidos para a concretização do equilíbrio salarial divide ainda então sindicato, tutela e conselho de administração do Opart, tendo este último suspendido as negociações a 6 de Junho. Desde então, e nos dias em que estavam programadas récitas de La Bohème, os trabalhadores da CNB, TNSC e Orquestra Sinfónica manifestaram-se frente ao São Carlos. A adesão à greve foi de 65% na primeira récita, 39% nas duas récitas seguintes e 35% e 33% nas últimas apresentações, segundo dados do São Carlos. Todas foram canceladas.

A ministra Graça Fonseca, que apresenta esta terça-feira o novo Plano Nacional das Artes nos estúdios da CNB, anunciou sexta-feira na Antena 1 que a nova sala de ensaios da orquestra será contratualizada até final de Julho, sem revelar a sua localização. Nas últimas semanas foram também cumpridas outras reivindicações sindicais, como a promoção de um pequeno conjunto de bailarinos da CNB ou dado mais um passo no sentido da integração no Opart de 11 coralistas e seis bailarinos, abrangidos pelo Programa de Regularização Extraordinária dos vínculos precários do Estado (PREVPAP).

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