Programas para Outubro

Os portugueses podem estar ou não a precisar de algo em que acreditar, mas certamente gostarão de ter em Outubro algo para escolher.

O PS continua a surfar a boa onda das europeias e arrancou para a discussão e apresentação do seu programa eleitoral, a ser concluído a 24 de Julho, antecipando o pousio dos meses de férias antes das legislativas. A direita para já prima pela ausência, enquanto à esquerda o Bloco ainda parece empenhado em fechar os dossiers desta legislatura e só o PCP está também de olhos postos no próximo sufrágio. Mas os comunistas partem de campo negativo, com uma premissa que é também um sinal do momento: há que evitar que o PS tenha “as mãos completamente livres”, que é o mesmo que dizer a maioria absoluta.

E os socialistas começaram por dar sinais para esse núcleo crucial de eleitores que são os funcionários públicos, falando num regresso à normalidade de actualizações salariais e ao reforço do número e da qualidade do quadro de pessoal. Às promessas soltas, ainda sem compromissos firmados, acrescentam dar prioridade a quatro frentes: desigualdades, alterações climáticas, demografia e transição para a sociedade digital.

Os três primeiros temas são de pertinência indiscutível, mas o enunciado do último, evitando tratar de frente o problema da competitividade económica, faz levantar o receio que a discussão possa não resultar em mais do que princípios genéricos que posicionam o PS nos temas certos sem se comprometer demasiado.

Os portugueses podem estar ou não a precisar de algo em que acreditar, mas certamente gostarão de ter em Outubro algo para escolher e é excelente que tanto o PS como os restantes partidos olhem para o horizonte, mas que pelo caminho não tenham também receio de dar respostas a questões imediatas. Como saber o que fazer para encerrar a luta dos professores, motivando a classe e estabilizando o sector. Ou perceber como se vai financiar o Serviço Nacional de Saúde e os restantes serviços públicos deficitários. E o que vai ser feito perante os crescentes problemas de habitação? O interior do país é para esquecer ou há alguma coisa para além do inconsequente plano de descentralização? Depois dos passes mais baratos, quais são os meios para suprir o aumento da procura e como é que isso se integra num plano de melhoria da mobilidade?

Mais um punhado de perguntas precisam de respostas que já tardam há demasiado tempo. Só que há também uma certeza – a viabilidade das soluções passa por contas equilibradas e por atendermos à questão fundamental de saber o que fazer com a economia para escapar à cauda da Europa. A “transição para a sociedade digital” é capaz de não chegar.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários