Netanyahu dá nome de Trump a colonato nos Montes Golã

Foi o gesto de agradecimento por Trump ter virado a política externa norte-americana.

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Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelita, na inauguração do "Colinas Trump" ATEF SAFADI/EPA

Em jeito de agradecimento por todo o apoio do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, à política de colonatos e externa de Israel, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, atribuiu o nome “Colina Trump” a um antigo colonato israelita que será expandido até ao final deste ano nos territórios ocupados nos Montes Golã. E fez disso pompa e circunstância.

“A estabelecer uma nova comunidade nos Montes Golã com o nome do amigo de Israel, o Presidente Donald Trump. Um dia histórico!”, escreveu no Twitter Netanyahu. E a resposta de Trump não tardou a chegar: “Obrigado, senhor primeiro-ministro, é uma grande honra”.

Agradecimento muito apreciado por Trump, cuja fama imobiliária é em parte atribuída por ter torres de escritório e habitação com o seu nome em vários países – em muitos dos casos nem participa com investimentos nas construções, apenas fornecendo a marca “Trump”. Agora, tem também um colonato que irá consistir em 400 casas, com as primeiras 100 a serem construídas no final deste ano.

O colonato existe há cerca de 30 anos, tendo por agora apenas dez mil habitantes. E não é por acaso. Está rodeado ora por relva verde ora por minas terrestres, localizando-se a uns meros 12 quilómetros da fronteira com a Síria e a meia hora de carro da cidade israelita mais próxima, Kiryat Shmona, com uma população de cerca de 20 mil pessoas.

“A decisão do primeiro-ministro em construir um novo colonato nos Montes Golã é uma revolução. Estávamos sedentos por isso”, disse ao Guardian o presidente do conselho regional israelita para os Montes Golã, Haim Rokach, ao Guardian.  

Conquistados por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967, os Montes Golã foram depois anexados à Síria em 1981. Damasco ainda hoje contesta a anexação e as Nações Unidas não a reconhecem. De acordo com números do Estado israelita, quase 50 mil pessoas vivem nos Montes Golã, incluindo 22 mil judeus israelitas e quase 25 mil árabes israelitas, muitos dos quais antigos sírios que conseguiram regressar depois da sua conquista por Israel.

O novo colonato com o nome de Trump é sobretudo o agradecimento pela viragem da política externa norte-americana na aproximação a Israel, para uma mais agressiva no Médio Oriente – como o é contra o Irão – e de maior apoio para com Telavive, principalmente nas disputas israelo-palestiniana e territorial com a Síria.

Na primeira, Trump transferiu a embaixada dos Estados Unidos de Telavive para Jerusalém, cidade histórica disputada pelos israelitas e palestinianos, e cortou a ajuda humanitária à Autoridade Palestiniana - a Austrália seguiu-lhe depois os passos. Foi a primeira vez que um Estado reconheceu Jerusalém como capital de Israel, prejudicando assim a solução de dois Estados para o conflito na Palestina - solução não preconizada no plano de paz norte-americano para o Médio Oriente. E, na segunda, o Presidente dos Estados Unidos reconheceu os Montes Golã como território israelita, algo nunca antes feito.

Decisões que contribuíram para o fortalecimento político de Netanyahu e do seu partido, o Likud, poucas semanas antes de eleições legislativas em Israel, a 9 de Abril. Netanyahu venceu-as, mas não foi capaz de formar uma coligação governamental – o sistema político israelita assim o exige – e novas eleições foram convocadas para 17 de Setembro.

A par e passo, o endurecimento da posição de Washington contra o Irão era também há muito pedida por Israel, que nunca perdeu uma oportunidade de criticar o acordo nuclear de 2015 com Teerão, firmado sob a administração de Barack Obama. Trump abandonou-o e tem levado a cabo uma estratégia de responsabilização e isolamento de Teerão, firmando e aprofundando novas alianças no Médio Oriente.

“Após 52 anos, chegou a altura dos Estados Unidos reconhecerem totalmente a soberania israelita sobre os Monte Golã, que são de importância crítica para o Estado de Israel e para a estabilidade regional”, escreveu em meados de Maio o chefe de Estado norte-americano no Twitter. Reconhecimento profundamente apreciado por Netanyahu, que respondeu no Twitter: “Numa altura em que o Irão tenta usar a Síria como plataforma para destruir Israel, o Presidente Trump reconhece de forma corajosa a soberania israelita sobre os Montes Golã. Obrigado Presidente Trump!”.

Curiosamente, o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, também se tem aproximado de Netanyahu, seguindo, ainda que timidamente, os passos de Trump: em vez de transferir a embaixada brasileira para Jerusalém, como disse e repetiu tantas vezes, recuou ao último minuto e anunciou a abertura de um escritório diplomático. Mas os acordos e as posições entre Brasília e Telavive na cena internacional têm-se avolumado desde que Bolsonaro chegou ao Palácio do Planalto. Resta saber se o primeiro-ministro israelita também o irá recompensar um dia. E se com um colonato.

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