Totti, “apunhalado”, assume adeus à Roma

“Capitão” eterno sentiu-se a mais na estrutura, que acusa de cometer os mesmos erros há oito anos, demitindo-se uma semana depois da contratação de Paulo Fonseca.

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Reuters/REMO CASILLI

Dois anos como director técnico da Roma bastaram para romper um cordão umbilical de três décadas com o eterno capitão “giallorrosso”, Francesco Totti, que se mostrou nesta segunda-feira desapontado com a insensibilidade dos proprietários americanos do clube que será treinado pelo português Paulo Fonseca.

Durante mais de uma hora, numa conferência de imprensa que teve como palco o salão nobre do Comité Olímpico italiano, Totti expôs os motivos de uma saída inevitável, apontando o dedo directamente aos responsáveis do clube: Baldissoni (vice-presidente executivo), Pallotta (presidente) e Baldini (consultor de Pallotta), com quem se terá reunido uma dezena de vezes em dois anos, sempre nos momentos críticos.

Apesar de garantir que preferia não ter vivido para assistir a este dia, Totti avisa que continuará a acompanhar os jogos da equipa… junto dos “romanistas”, na Curva Sul, juntamente com De Rossi, outro símbolo da Roma que esta época disse adeus aos relvados. Mais, como um verdadeiro “gladiador”, Totti encerrou a conferência com um conselho, anunciando que poderá ir mais longe nas críticas caso os americanos decidam reagir.

Na perspectiva de Francesco Totti, a política dos donos do clube passa pelo afastamento dos romanos, o que, admite, foi conseguido. Para quem chegou a ostentar o título de “oitavo rei de Roma”, passar de um pedestal para um gabinete secundário na estrutura do clube foi a gota de água. O facto de não ser consultado ou simplesmente ouvido no processo de tomada de decisão da escolha do treinador e de jogadores precipitou o adeus.

Respaldado numa experiência acumulada ao longo de 785 jogos (entre 1993 e 2017) e 307 golos, consubstanciada no “scudetto” da Serie A (2000/01) e num par de Taças de Itália, para Totti não subsiste qualquer ilusão.

“Chegou o dia. Talvez até fosse melhor morrer. Mas para o bem de todos, prefiro dizer ‘Ciao Roma’. A verdade…” - disparou directo às redes da administração - “… é que nunca me foi dada oportunidade de dar a minha opinião”, acrescentou, numa referência a questões como a recente contratação de Paulo Fonseca. “Chamaram-me a Londres dois dias antes do anúncio, quando já tudo havia sido decidido”.

Mas o último par de anos de Totti ao serviço da Roma apenas confirmou o que o atacante pressentira antes mesmo de encerrar a carreira de futebolista, aos 40 anos. O antigo avançado considera que os “erros” repetidos ao longo de “oito anos desperdiçados” deveriam funcionar como um alarme, perguntando-se onde pretende chegar o clube ao manter a mesma política.

A venda dos melhores activos como forma mais célere de cumprir o fair-play financeiro também contribuiu para o distanciamento que Totti refere, garantindo que no lugar dos americanos, caso dispusesse de verdadeiros símbolos romanos na estrutura, não hesitaria em entregar a gestão aos verdadeiros romanistas.

Totti guarda, apesar de tudo, os nomes dos que acredita terem-no “apunhalado pelas costas”, admitindo que apenas dez por cento da verdade fosse transmitida a Boston. Para já, uma certeza: regressar à Roma só com novos proprietários. Até lá, outros projectos podem ser apreciados. Alguns clubes italianos terão mesmo abordado Totti, que excluiu a Juventus deste rol.

A resposta da Roma

Em comunicado divulgado horas depois, a Roma considerou as palavras de Totti "fantasiosas e desfasadas da realidade”. “A AS Roma está extremamente desiludida com a decisão de Francesco Totti. Oferecemos-lhe o cargo de director desportivo, após a saída de Monchi, e estivemos até agora a aguardar uma resposta”, revela o clube.

“Estávamos preparados para ser pacientes e ajudar o Francesco nesta transição”, prosseguiu a Roma. “Entendemos que a decisão de sair do clube após 30 anos deve ser dura para o Francesco, mas acreditamos que a sua percepção dos factos e as decisões que tomou no clube são fantasiosas e desfasadas da realidade”, expõe. 

Na mesma nota, a Roma também antecipou que o clube não será vendido a accionistas.

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