Investigador português procura “código de barras” das espécies

Filipe Costa, professor da Universidade do Minho, integra consórcio internacional que quer compilar sequências curtas de ADN de pelo menos cerca de dois milhões de seres vivos.

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ADRIANO MIRANDA/Arquivo

Filipe Costa, professor da Universidade do Minho, é um dos mil cientistas que integra um consórcio internacional que quer descobrir os “códigos de barras” das diferentes espécies. O projecto Bioscan, que é lançado este domingo, pretende encontrar sequências curtas de ADN de cerca dois milhões de seres vivos nos próximos sete anos.

O sistema de identificação usado por esta equipa de investigadores baseia-se em “códigos de barras” de ADN, que são sequências mais curtas de ADN, que permitem uma identificação rápida, mas ainda assim eficaz, das espécies. O seu funcionamento é semelhante ao dos códigos de barras dos produtos comerciais, definindo para cada espécie um conjunto específico de caracteres genéticos.

Os códigos de barras são agrupados numa biblioteca global, que pode ter aplicações, por exemplo, na indústria alimentar – permitindo a verificação da autenticidade de alimentos –, no controlo de produtos nas alfândegas ou na detecção de pragas agrícolas. “Caminhamos para saber logo se a lata de conserva tem cavala ou sarda, se a planta do bosque tem perfil medicinal, se um mosquito é da espécie que transmite malária ou se uma determinada erva é considerada invasora na União Europeia”, explica Filipe Costa, investigador do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) e professor do Departamento de Biologia da Escola de Ciências da Universidade do Minho, num comunicado daquela instituição.

Mas o grande investimento é mesmo na bioprospecção e na conservação da biodiversidade. “Através dos códigos de barras de ADN, pode-se também fazer avaliações em larga escala sobre o impacto das alterações ambientais na estrutura dos ecossistemas. Isso permitirá à humanidade gerar informação suficiente para formular políticas que protejam a biodiversidade global”, diz o investigador. O Bioscan promete descobrir “plantas, animais, fungos, algas e seres unicelulares” a um ritmo “sem precedentes”.

“Conhecemos cerca de dois milhões de espécies, mas estima-se existirem possivelmente entre dez a 20 milhões, há um trabalho gigante por fazer. Por isso, esperamos até 2026 compilar códigos de barras de ADN de pelo menos os cerca de dois milhões de espécies formalmente reconhecidas, revelando, pelo caminho, numerosas novas espécies”, acrescenta Filipe Costa.

O Bioscan é lançado este domingo em Trondheim, na Noruega – envolverá mais de mil investigadores de 31 países e tem um financiamento de 180 milhões de euros para os próximos sete anos. O projecto é gerido pelo International Barcode of Life (iBOL), que se apresenta como o maior consórcio de sempre para a biodiversidade. A iniciativa é liderada pelo investigador Paul Hebert, da Universidade de Guelph (Canadá), que em 2010 apresentou uma proposta de inventariação da biodiversidade baseada no ADN que, ao longo de cinco anos, gerou os “códigos de barras” de ADN de meio milhão de espécies.

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