Josyara leva a Belém a Mansa Fúria do seu Brasil

A jovem cantora e compositora baiana Josyara Lélis apresenta este domingo no lisboeta Espaço Espelho d’Água, em Belém, o seu mais recente disco Mansa Fúria. Às 19h.

Foto
Josyara NATALIA ARJONES

Talvez se recordem que, em Outubro de 2018, antes da vitória de Jair Bolsonaro nas presidenciais brasileiras, 48 artistas gravaram em São Paulo um manifesto sonoro a que deram o nome de Engenho da Dor, 48 vozes pela democracia. O primeiro rosto a surgir no vídeo era precisamente o da autora da canção, uma jovem de cabelo crespo e louro. Josyara, precisamente. Nascida em Juazeiro, no estado da Bahia, em 1992, Josyara Lélis dava então voz a um manifesto que proclamava assim: “Cantar pela democracia é a forma de expor a verdade em cada alma e cantar em memória dos que morreram nessa luta. Pela voz das almas silenciadas, não vamos retroceder, não vamos voltar!”

Nessa altura, já tinha atrás de si uma história longa de ligação à música. Começou, aos 10 anos, por tactear e dedilhar um violão que pertencia ao seu avô e a forma como se ligou a ele e às sonoridades que ia produzindo levou-a mais tarde a tocar em bares da noite na sua cidade natal, assim como em Salvador e em diversos festivais de música.

Calmaria e explosão

Gravou em 2012 o seu primeiro disco, Uni Versos, viabilizado pela Lei Rouanet de Incentivo à Cultura e com patrocínio da Petrobrás; e em 2018, depois de quatro anos a viver em São Paulo, lançou Mansa Fúria, este com apoio do projecto Natura Musical. Resultado de um choque, ou um diálogo, entre a sonoridade do violão e a electrónica, Mansa Fúria foi visto por Pedro Antunes, no jornal O Estado de S. Paulo, como um embate que traz consigo “calmaria e explosão”. Segundo ele, o disco é “o encontro do violão de ritmo inebriante de Josyara com alguma experimentação eletrônica. Tradição e o novo. O acústico e o elétrico. É tanto diálogo entre extremos que o álbum parece ser feito para 2018 e seu tempo da falta de diálogo entre opiniões opostas.”

Ao jornal Diário do Nordeste, num texto assinado por Felipe Gurgel, Josyara explicou assim o disco: “Queria [com o título] relembrar essa música antiga, pela letra dela e tudo mais. E desse ‘vai e vem’ de perder o chão, essa coisa da ‘mansa fúria’ é relacionada às águas. Sou ribeirinha, e depois fui para o litoral [Salvador/BA]. Nesses tempos de hoje, que tudo quer que a gente se separe, vem a importância da fala, da comunicação. E graças à internet, nós ainda temos um lugar de fala, digamos assim.”

Força e sensibilidade

De Juazeiro a Salvador, fixando-se depois em São Paulo, Josyara fez o seu próprio caminho musical. “As canções interpretadas por Josyara, sejam autorais ou releituras”, escreve-se na sua ainda curta biografia oficial, “trazem consigo a força e a sensibilidade inerentes à sua voz, através de arranjos muito próprios, que transitam entre ritmos brasileiros de diversas regiões (principalmente do sertão) e sonoridades universais.”

Pelo Espaço Espelho d’Água, em Belém, onde Josyara se apresenta ao vivo este domingo, têm passado, desde 2016, muitos músicos brasileiros: Bianca Gismonti (com a cantora portuguesa Maria João), Tiê, Pélico, Tulipa Ruiz, Filipe Catto, César Lacerda, Camará, Túlio Mourão, Felipe Antunes (com Jackeline Stefanski), Fernando Catatau, Bruna Caram, Maíra Baldaia, Paulo Padilha, Guilherme Ventura, Luciano Maia, Wanda Sá, Javier Subatin, a banda Silibrina, Helio Flanders, LaBaq e Luca Argel.

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