Aproximação ao Vox pode custar ao Cidadãos um lugar no grupo de Macron na UE

Governo francês não aceita “ambiguidades com a extrema-direita” e diz que eventuais pactos entre Rivera e Abascal “questionam cooperação” entre liberais espanhóis e LREM no Parlamento Europeu.

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Governo francês diz que Macron e Sánchez estão em sintonia em relação à Europa Reuters/CHARLES PLATIAU
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Albert Rivera, líder do Cidadãos Reuters/Susana Vera

O Governo de França lançou esta sexta-feira um sério aviso a Albert Rivera, instando o líder do partido espanhol Cidadãos a abandonar quaisquer planos para um compromisso político com o Vox, sob pena de por em causa a sua filiação ao grupo dos partidos liberais no Parlamento Europeu. O executivo liderado pela República em Marcha, de Emmanuel Macron, disse não aceitar “ambiguidades com a extrema-direita”, particularmente se estas se traduzirem em pactos a nível nacional.

“Uma plataforma comum entre o Cidadãos e a extrema-direita colocaria em causa a cooperação política para a construção de um grupo centrista renovado da União Europeia”, alertaram fontes da presidência francesa, citadas por vários jornais espanhóis. “Um grupo progressista e liberal não se pode dar ao luxo de ser acusado de debilidade ou ambiguidade. Tem de haver uma coerência ideológica”, acrescentaram.

As declarações das referidas fontes surgiram no âmbito de uma entrevista concedida esta sexta-feira pela secretária de Estado francesa para os Assuntos Europeus a um grupo de jornalistas de Espanha, em Paris.

Referindo-se aos planos de renovação da Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa (ALDE) – a terceira maior força do Parlamento Europeu depois das eleições de Maio –, Amélie de Montchalin disse que os liberais europeus têm de “definir o que significa fazer parte do grupo” e “quais são os seus limites”, com a garantia, porém, de que “a aliança com a extrema-direita não é uma opção”. 

E, para incómodo do Cidadãos, que rejeita sentar-se à mesa com Pedro Sánchez para debater os termos da investidura do próximo Governo espanhol, a secretária de Estado elogiou a estratégia do dirigente socialista para a Europa: “Sánchez demonstrou um forte compromisso pró-europeu no seu programa (…) e as suas grandes prioridades seguem a mesma linha de Macron”.

O Cidadãos, por seu lado, reafirmou, em comunicado, o seu empenho na colaboração “estreita com a República em Marcha” e desvalorizou as preocupações do partido do Presidente francês, lembrando que rejeitou negociar acordos tripartidos de governo com o Vox e o Partido Popular (PP).

O pacto alcançado entre Cidadãos, PP e o partido de Santiago Abascal para derrubar o Partido Socialista (PSOE) na Andaluzia, em Dezembro do ano passado, abriu as portas para acordos semelhantes, na sequência das eleições autonómicas e municipais que se realizaram em Espanha no mesmo dia das europeias. Ao mesmo tempo, Rivera tem insistido na sua indisponibilidade para entrar num governo nacional com os socialistas ou para permitir a investidura de Sánchez.

As duas posturas em conjunto têm valido ao líder liberal críticas várias dentro da ala progressista e europeísta do seu próprio partido. A mais recente veio de Francesc de Carreras, um dos fundadores do Cidadãos. Num artigo de opinião no El País, o professor de Direito Constitucional apelou à responsabilidade de Rivera para abrir mão do “cordão sanitário” imposto ao PSOE e ajudar a desbloquear o impasse no Parlamento – que dura desde o final de Abril.

“Não entendo que agora nos falhes, Albert, que o Cidadãos nos falhe, que o jovem maduro e responsável se tenha convertido num adolescente caprichoso que fez uma viragem estratégica de 180 graus e que privilegia supostos interesses do partido ao interesse geral de Espanha”, escreveu Carreras, lançando o apelo: “Estás a tempo de rectificar”.

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