Estudo diz que limite de visitas diárias às Berlengas é demasiado elevado

As infra-estruturas actualmente existentes nas Berlengas continuam a não estar preparadas para receber 550 pessoas por dia, indica um estudo da Universidade de Aveiro.

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Durante a estação alta de 2018, a ilha das Berlengas recebeu mais de 1000 visitantes por dia. PP PAULO PIMENTA

Só 550 pessoas é que podem visitar, por dia, a Reserva Natural das Berlengas. A decisão foi tomada pelo Ministério do Ambiente, aconselhado por um estudo da Universidade de Aveiro (UA). A medida entrou em vigor a 22 de Maio deste ano, depois de ser publicada em Diário da República. Mesmo assim, os investigadores defendem que deveriam ser menos.

A investigação foi encomendada em 2010 pelo Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e desenvolvido por Henrique Queiroga e João Serôdio, biólogos do Departamento de Biologia e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da UA.

Segundo os biólogos da UA, citados em comunicado, o limite já implementado representa apenas um progresso “moderado” para atenuar os danos causados e a ele tem de ser acrescentado, em todas as situações, o pessoal de apoio ao turismo, residentes temporários e representantes das autoridades.

Henrique Queiroga explica que “considerando a rotatividade média dos diferentes perfis de visitantes, o valor de 550 visitantes em simultâneo pode provavelmente corresponder a mais de 700 pessoas a visitar a Ilha da Berlenga diariamente”.

“Isto pode facilmente elevar o número máximo de pessoas na ilha a mais de 900 quando as medidas de controlo da visitação estejam devidamente implementadas. Este número está claramente acima da capacidade do actual sistema de tratamento de águas residuais, que nunca foi requalificado para o valor de 500 equivalentes-populacionais”, acrescenta o biólogo.

O limite resulta dos quatro valores, entre 240 e 1290, propostos no estudo. Todos eles respeitam as limitações impostas no Plano de Ordenamento da Reserva Natural das Berlengas, mas o valor de 500 visitantes diários foi definido em linha com as recomendações para a implementação das boas práticas ambientais. Este número está condicionado à requalificação do sistema de tratamento das águas residuais para uma capacidade de 500 equivalentes populacionais.

Os investigadores apontam também vários danos à biodiversidade e condições de acolhimento, resultantes do elevado número de visitas: “Perturbação da avifauna nidificante, pisoteamento da flora, risco de disseminação da flora exótica por transporte de sementes, pólen e fragmentos vegetativos agarrados ao calçado e roupa, lixo atirado sem cuidado, poluição orgânica na praia e águas circundantes, destruição e vandalização dos equipamentos de acolhimento aos visitantes e pressão sobre os sistemas de abastecimento de água doce e de recolha do lixo”.

O arquipélago foi classificado como Reserva Mundial da Biosfera pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) em 2011. Tem estatuto de reserva natural desde 1981 e foi classificado como Zona de Protecção Especial para as Aves Selvagens em 1999. Os programas de monitorização da visitação do ICNF actualmente em curso registaram 19 dias com mais de 1000 visitantes por dia durante a estação alta de 2018 e um total de 82 mil visitantes durante todo o ano.

Texto editado por Ana Fernandes

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