As Marchas desceram a avenida e Lisboa parou para ver. “Mais juntinhos ficamos mais quentinhos”

As marchas desceram a avenida da Liberdade e esta encheu-se de gente de todo o lado. Querem ver a festa, seja porque a conhecem desde sempre ou porque nunca dela ouviram falar. E assim se enche a Lisboa dos bairros e do Mundo.

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É em dias de Santo António que as ruas de Lisboa mais se enchem, mas não só de lisboetas se fazem as festas populares. As marchas começam às 21h, mas às 19h já se vai enchendo o cimo da avenida de carros alegóricos, arcos, enfeites e muita cor. Há um toque de cada bairro a cada passo que se dá, e quanto mais perto do Marquês de Pombal mais curiosos, portugueses e não só, se vão encostando às grades e esperando o que está para vir. O bairro do Alto da Pina foi o vencedor da edição deste ano, o segundo lugar foi atribuído ao vencedor do ano passado, Alfama, e o terceiro a Penha de França.

“Vai manjerico a três euros!”, e são três também que os tentam vender. Mãe, filha e neto, em uníssono ou um de cada vez, vão gritando para quem passa que aqueles manjericos é que são bons. E os outros? Por toda a avenida da Liberdade, desde a rotunda até bem lá ao fundo, são muitos os que por lá se espalham na esperança de fazer negócio de manjerico, balão ou qualquer outro brinquedo que consigam vender.

As pessoas vão passando, mas a maioria nem repara, há algo mais importante prestes a começar. Os brindes, esses, todos querem. E há para todos os gostos: desde as sardinhas às canecas de cerveja, passando pelas perucas mais comuns, qualquer chapéu conquista quem saiu à rua para viver a alegria das marchas de Lisboa.

Em véspera do dia de Santo António, a cidade é uma explosão de cores. Os carros começam a chegar e os grupos que dançam em frente a eles já estão vestidos e arranjados. Quem por eles passa tira fotos, sorri e presta atenção. O vento sopra, “o que vale é que hoje está um calor do Oeste!”, ouve-se. Não é o frio que trava o início das marchas que mergulham noite adentro, com tanta energia que é capaz de criar o seu próprio calor. A Marcha Popular da Ribeira de Frades é a marcha convidada para este ano e já está posicionada ao cimo da Avenida da Liberdade, pronta para começar. Vestem laranja e seguram relógios, não há tempo a perder. Segue-se a Marcha Infantil A Voz do Operário, de cor-de-rosa e vermelho, peluches e coroas.

“As crianças é que são a alegria do mundo”. Quem o diz é a dona Lurdes, veio ver as marchas pela primeira vez. “Já vi muitas vezes na televisão e o meu marido costumava vir, mas eu nunca vim. E pelo ecrã nunca é a mesma coisa”, explica. É natural da Régua e orgulha-se de ser transmontana, mas vive perto de Lisboa há muito tempo. Espera encostada às grades pelas marchas que vão passando, gosta de olhar para os fatos e para os passos de dança.

São 24 as marchas a descer a avenida, desde S. Vicente até ao Bairro Alto, e com elas todo o esforço de quase um ano de trabalho. Cada um acredita na sua. “Hoje é que têm de dar o litro para ver se ganham, e que ganhe a melhor”, continua a senhora Lurdes, expectante.

Vêm os Mercados, mas enquanto passam não se ouve música a tocar. Alguém distribui rebuçados e quem os recebe partilha entre si, “para tirar o sabor das sardinhas”. O senhor João também se mantém de braços nas grades, vai olhando para cima e para baixo. Vive em Paris já há muito, mas é do Fundão e veio ver as marchas lisboetas pela primeira vez. Abre espaço para quem queira também ver, “mais juntinhos ficamos mais quentinhos” e sempre se conversa sobre a marcha a passar.

De cima a baixo a conversa vai correndo, em todas as línguas. Há quem já conheça a festa, mas muitos são os curiosos que visitam Lisboa – e Portugal – pela primeira vez e são surpreendidos com uma tradição tão lisboeta. Os telemóveis estão sempre no ar, fotografam e gravam ora aquilo que já conhecem ora aquilo que é novidade: há sempre espaço para guardar esta memória.

Enchem-se as ruas e as barracas, de cima a baixo a avenida vive e vai andando. As marchas acabam à porta do Rossio e a festa continua, noite dentro. Os bairros voltam ao seu sítio, mas levam a festa consigo e quem veio ver também os segue. E é na noite de Santo António que Lisboa se celebra a ela própria, por todo lado e em toda a gente.