Quem são os concorrentes das notícias pagas? O Netflix e o Spotify, indica estudo

Portugal continua a ser dos países em que mais se confia nos media. Mas também está entre aqueles onde menos se paga por notícias online.

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Na altura de escolher o que comprar, a maioria prefere entretenimento Clodagh Kilcoyne

Se tivessem de escolher apenas um serviço online pago, poucos seriam os que optavam por notícias. A maioria das pessoas escolhia um serviço de vídeo, como o Netflix, ou um serviço de música, como o Spotify.

A conclusão é do estudo Digital News Report, divulgado nesta quarta-feira pelo Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, e sugere que, na corrida por assinantes em que muitos órgãos de comunicação estão a apostar, a concorrência pelo dinheiro dos consumidores surge também fora do sector.

Entre os utilizadores com menos de 45 anos, apenas 7% pagariam por notícias se este fosse o único serviço online que pudessem escolher, segundo os resultados do inquérito feito pelo estudo. Já 37% estariam preferiam ser assinantes de um serviço de vídeo em streaming e 15% assinariam um serviço de música. Contudo, 31% disseram que não pagariam nada. Os restantes, escolheriam serviços como jogos ou espaço de alojamento online.

Na faixa etária cima dos 45, a tendência para pagar por serviços online é menor, com 40% dos inquiridos a dizer que preferia não subscrever nada. Neste caso, são mais do dobro os que optavam por notícias: 15%. Porém, o vídeo continua no topo, reunindo a preferência de 25% das pessoas.

O Digital News Report é publicado anualmente e procura traçar um retrato dos desafios do sector, desde o fenómeno das chamadas fake news aos desafios do negócio. Este ano, foram analisados 38 países, incluindo Portugal. Contudo, a questão sobre o tipo de serviços online por que pagariam foi colocada a pessoas de apenas 14 países, entre os quais Portugal não consta.

Há anos que o relatório aborda a questão do pagamento de notícias digitais. É um modelo de negócio pelo qual muitas empresas de media têm seguido para fazer face às quebras de receita nas edições impressas, e ao facto de plataformas como o Google e o Facebook ficarem com boa parte da publicidade online.

Este ano, o estudo nota que “apesar dos esforços do sector”, houve apenas um “pequeno aumento” no número de pessoas que pagam ou fazem donativos por jornalismo online.

“No negócio dos media, há quem se preocupe que, ainda que o número de assinantes continue a ser reduzido segundo alguns padrões, possamos já estar perto do limite superior”, escreve o investigador Richard Fletcher, um dos responsáveis pelo estudo. “Outros receiam o aparecimento de uma ‘fadiga de assinatura’, em que as pessoas ficam frustradas por serem obrigadas a pagar por múltiplos serviços separadamente. Será que apenas as maiores e mais proeminentes empresas de media vão sobreviver, ou como é que se vão portar quando forçadas a concorrer com serviços de entretenimento como o Netflix e o Spotify”?

Portugueses confiam muito mas pagam pouco

O capítulo sobre Portugal (assinado pelos investigadores Ana Pinto Martinho, Miguel Paisana e Gustavo Cardoso, do ISCTE) indica que este continua a ser um país onde muitos confiam nas notícias, mas poucos estão dispostos a pagar por elas – um fenómeno que já tinha sido mostrado pelos números do ano passado.

Portugal surge em segundo lugar na tabela da confiança nos media, com 58% dos inquiridos a afirmarem que, na maior parte das vezes, confiam no que é publicado na imprensa (é uma descida de quatro pontos percentuais face a 2018, que segue uma redução generalizada neste indicador). À frente está a Finlândia, com 59%.

Os utilizadores em Portugal mostraram também ser dos mais preocupados com a veracidade da informação que circula online, atrás apenas do Brasil, onde as últimas eleições presidenciais foram marcadas por intensas campanhas de desinformação.

Apesar da confiança nos media, Portugal continua a estar na cauda no que diz respeito aos pagamentos. Apenas 7% afirmaram ter pago por notícias online (menos do que os 9% do ano passado), colocando o país em quarto a contar do fim (este valor inclui pagamentos feitos por utilizadores em Portugal a sites de outros países).

Contabilizando apenas os pagamentos recorrentes – como as assinaturas, que dão às empresas de media uma fonte mais estável de receitas – o número de utilizadores pagantes desce para 5%.

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