Um caranguejo de plástico à solta no Porto? É a engenharia ao serviço do ambiente

A Ordem dos Engenheiros da Região Norte promoveu um dia de reflexão sobre o “plástico de uso único” e as suas consequências — e decidiu alertar a comunidade com uma escultura na estação da Trindade. Porque também cabe à engenharia procurar “alternativas”.

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Quem por estes dias cruzar a porta principal da estação de Metro da Trindade, no Porto, vai dar de caras com um elemento atípico naquele contexto urbanístico. Trata-se de uma escultura de grandes dimensões, predominantemente laranja, que em tudo se assemelha a um caranguejo. O que pode passar despercebido à maioria dos transeuntes é o material que a compõe: garrafas de plástico usadas.

Os resíduos foram recolhidos durante várias semanas por estudantes da Academia do Porto (com especial destaque para os da Faculdade de Engenharia e do Instituto Superior de Engenharia) em acções de limpeza de praias e durante a Queima das Fitas, mas também por voluntários da Ordem dos Engenheiros da Região Norte (OERN).

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Esta foi a forma que a instituição encontrou de alertar a comunidade para os contornos preocupantes que a problemática dos plásticos em contexto marinho está a tomar e a urgência de encontrar soluções. Daí a organização ter promovido esta terça-feira, 11 de Junho, uma conferência na sua sede dedicada ao assunto. Em declarações ao P3 no local, Joaquim Poças Martins, presidente da OERN, sublinha a importância que os profissionais da área podem vir a ter na procura de soluções, já que foi “a própria engenharia que permitiu a invenção dos plásticos, por isso também tem de permitir a obtenção de alternativas”.

Na mira do dirigente estão especialmente os plásticos de uso único, algo que no seu ponto de vista não “faz sentido”. “O plástico é um material fantástico, agora usado uma vez não é bom e para isso a engenharia tem soluções.” Mesmo assim, o dirigente reconhece qualidades ao plástico e não tem dúvidas de que a matéria pode ter usos mais amigos do ambiente. “Se é eterno tem que ser aplicado noutras coisas: tubos de água, que têm que durar 200 anos, materiais de construção que não estejam sujeitos a corrosão”, defende. Para Joaquim Poças Martins, o caminho está já traçado: “O que não é reutilizável tem que ser redesenhado ou substituído. A questão não é ‘se’, mas quando.”

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Os artistas escolhidos para dar uma nova vida às garrafas recolhidas foram Xandi Kreuzeder e João Parrinha, membros do projecto Skeleton Sea. A dupla, que tem uma outra exposição patente no Oceanário de Lisboa, tem como grande propósito “criar arte com mensagens” através de resíduos recolhidos nas praias e nos mares de todo o mundo. A mensagem por detrás da obra que vai habitar o átrio da estação da Trindade até meados de Junho? “A necessidade de encararmos o problema do plástico de uma forma diferente”, destaca Xandi, enquanto apresenta a sua obra ao P3.

O artista de nacionalidade alemã não tem problemas em comparar as diferenças comportamentais dos seus compatriotas e da população portuguesa. “Na Alemanha não encontramos garrafas de plástico em lado nenhum porque todas têm um ‘depósito de retorno’ em que as pessoas recebem dinheiro por as deixarem lá. Não há garrafas de plástico na rua ou no lixo. Nós reciclamos quase 100%. Aqui, se for vidro ou plástico vai tudo para o lixo. Eu não sei a percentagem, mas o número do que é reciclado é muito pequeno.”

Artigo corrigido às 20h40. A escultura em questão representa um caranguejo e não uma aranha.

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