Boris Johnson dominou o dia inicial da corrida tory mesmo estando ausente

Partido Conservador britânico aceitou dez candidaturas à liderança. Candidatos falaram do “Brexit” mas também dos impostos.

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Boris Johnson está a evitar a imprensa, depois e ter proposto um corte fiscal para os mais ricos num artigo no Telegraph FACUNDO ARRIZABALAGA/EPA

Dez candidatos formalizaram esta segunda-feira a sua entrada na corrida à liderança do Partido Conservador britânico, sem grandes surpresas e também sem grandes vencedores ou vencidos do dia. Os dez candidatos, potenciais primeiros-ministros, vão ser submetidos a várias rondas de votação –​ a primeira na quinta-feira – até ser encontrado um vencedor.

Uma figura destacou-se, segundo o Guardian, pela sua ausência durante o dia: Boris Johnson, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros conhecido pelas suas gaffes: tanto que o jornalista de política da BBC Ross Hawkins comentava que “o maior medo dos seus apoiantes não é qualquer outro candidato mas sim que ele diga ou faça qualquer coisa estúpida”.

A presença de Johnson fez-se através de um artigo de opinião no jornal The Telegraph em que defendeu um corte de impostos para os mais ricos – uma proposta que provocou críticas de quase todos os outros candidatos. De resto, está a manter-se afastado dos media, concentrando os seus esforços de campanha em contactos directos com alguns deputados, diz o Guardian, acrescentando, no entanto, que os outros candidatos se definiram sobretudo em oposição a ele, tanto na questão dos impostos como no “Brexit”.

Dos dez candidatos aceites, cinco fizeram lançamentos formais. Dois a quem o dia correu bem foram o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, e o ministro do Ambiente, Michael Gove.

O Guardian diz que Hunt foi quem pareceu ter as melhores hipóteses no campo “qualquer pessoa menos Boris”, apresentando apoios das ministras Amber Rudd (Trabalho) e Penny Mordaunt (Defesa). E Hunt fez um tributo à primeira-ministra interina, Theresa May: “A história vai ser mais generosa com ela do que foram hoje os jornais”.

Questionado sobre as hipóteses de uma saída sem acordo, Hunt diz que a exclui. Mas a alternativa que apresentou foi renegociar com a UE: “Se formos a Bruxelas e começarmos a ameaça-los com uma opção que sabemos que o Parlamento não aceita [o no-deal] isso não é credível”.

Já Gove, considerado o melhor na oratória, está a sofrer do efeito de ser visto como parte de uma dinâmica tóxica para o partido: a editora de política da BBC Vicky Hunt diz que “um alto responsável conservador não vai apoiar nem Johnson nem Gove por causa do azedume entre eles – se um deles vence, o outro pode, por causa desta animosidade, tentar ‘destruir o próximo governo'”.

Rory Stewart, o ministro do Desenvolvimento Internacional, declarou que em sua opinião, é ele o “único candidato que pode vencer” Boris Jonhson: “A escolha é entre o ‘Brexit’ dele e o meu ‘Brexit’, entre alguém que está a tentar ser mais Farage que Farage e alguém como eu que acredita no centro.”

Johnson já disse que, se vencer, sairá sem acordo se não for possível chegar a um novo pacto (o que Bruxelas já repetiu vezes sem conta) até ao novo prazo de 31 de Outubro.

Dominic Raab (ex-ministro do “Brexit”) apresentou-se como “o defensor do ‘Brexit’ com um plano”, e que este plano é regressar a Bruxelas com uma contraproposta em relação à solução para a fronteira da Irlanda (“backstop”) – mesmo que, mais uma vez, para a União Europeia as negociações estejam dadas como fechadas. Também atacou o plano de descida de impostos para os mais ricos proposto por Johnson, que apenas iria “reforçar a caricatura de que só estamos aqui para ajudar os ricos”.

Uma crítica partilhada pelo ministro da Saúde, Matt Hancock, que se referiu a cortes fiscais no abstracto: “Só os farei quando souber que é possível”. Hancock, que era contra a saída do Reino Unido, criticou a ideia de que é preciso ter alguém do campo do “Brexit”, e embora prometa concretizar o “Brexit”, esse é o seu ponto fraco.

Raab tinha, na véspera, sugerido suspender os trabalhos da Câmara dos Comuns para impedir uma saída sem acordo (a única coisa em que os deputados estão de acordo é que não querem o no-deal); esta segunda-feira, Esther McVey, a antiga ministra do Trabalho que se definiu como uma “outsider”, garantiu que não permitira mesmo qualquer votação parlamentar antes do prazo de saída e que concretizaria a saída sem acordo.

Faisal Islam, antigo editor de política da televisão Sky, classificou no Twitter esta corrida como “muito estranha”, enumerando as propostas: “Planos fiscais que não vão ser aceites no Parlamento, ‘planos para o ‘Brexit’ que não vão passar no Parlamento, promessas de não ir a eleições antecipadas… promessas feitas a pequenas partes do eleitorado, e não está nas mãos do vencedor concretizá-las”.

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