Professor durante a semana e futebolista ao fim-de-semana

Durante três anos Jamal Lowe teve de conciliar as duas actividades para conseguir subsistir, mas aos 25 anos a sua carreira pode estar prestes a dar um salto.

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Jamal Lowe DR

Vir do nada e chegar ao topo? O futebol está cheio de histórias improváveis de sucesso, uma das mais notáveis talvez seja a de Jamie Vardy, que pouco antes de tornar-se num símbolo do Leicester City campeão de Inglaterra e ter chegado à selecção andava pela quinta divisão, trabalhou numa fábrica e chegou a ter uma pulseira electrónica no tornozelo por se ter envolvido em desacatos num pub.

O percurso de Jamal Lowe não foi tão acidentado, mas a sua história não deixa de ser a de alguém que enfrentou a adversidade e deu a volta por cima. Com 25 anos, este extremo deu nas vistas na época que terminou – e pode bem dar o salto em breve para um clube com ambições. Antes disso, porém, parecia que o momento dele nunca ia chegar. Até que recebeu o convite de um emblema que já andou pelo topo e caiu em desgraça. E a aliança funcionou para ambas as partes.

Jamal Lowe foi uma das figuras do Portsmouth na temporada 2018-19, em que o emblema do sul de Inglaterra foi quarto classificado no terceiro escalão e falhou a subida ao Championship na meia-final do play-off de promoção. Mas os “pompey” – duas vezes campeões de Inglaterra e que, entre 2003 e 2010, disputaram a Premier League antes de se debaterem com graves problemas financeiros e caírem para o quarto escalão – podem consolar-se com o facto de terem conquistado o Checkatrade Trophy (troféu disputado pelos clubes da terceira e quarta divisão e algumas equipas jovens de emblemas da Premier League) em pleno Estádio de Wembley.

No recinto que serve de casa à selecção inglesa, o Portsmouth empatou 2-2 com o Sunderland (com um golo de Jamal Lowe) e depois venceu nos penáltis. Tudo isto perante 85 mil adeptos, algo distinto daquilo a que o jovem futebolista estava habituado – apesar de ter crescido perto de Wembley. “Sempre me pareceu um mundo diferente. Passava de comboio mas nunca pensava que iria jogar ali. Nunca entrei em Wembley, nem para ver um jogo, ou assistir a um concerto, portanto a minha estreia lá vai ser especial”, dizia ao diário inglês The Guardian antes da partida.

A história de Jamal Lowe começou no Barnet, onde completou a formação – e chegou a fazer jogos na equipa principal, às ordens do jogador-treinador e ex-internacional holandês Edgar Davids. “Era uma estrela mundial num clube pequeno. Era jogador-treinador e acho que era difícil encontrar o equilíbrio entre as duas funções”, recordava Lowe, que entraria num ciclo de empréstimos que o fez passar por seis emblemas antes de deixar o Barnet.

“Precisava de um emprego para manter-me à tona. Tinha contas para pagar, não podia ficar em casa e esperar pelo dinheiro do futebol porque não era suficiente”, contou Jamal Lowe, que deu aulas de Educação Física a miúdos da primária enquanto esperava pela sua oportunidade. “Houve momentos em que pensei: ‘Será que vale a pena, ou devo simplesmente encerrar este capítulo? Devia dedicar-me a fazer outra coisa?’ Mas consegui dar a volta, que é o que interessa. Toda a gente passa por tempos difíceis mas só os mais fortes ficam de pé. Ainda bem que não desisti”, acrescentou.

No perfil de Jamal Lowe na rede social Twitter lê-se, à laia de mote, “O amor acima do dinheiro”, e a postura dele no futebol continua a ser essa: “Assinar pelo Portsmouth foi um passo na direcção certa. Queria jogar ao mais alto nível e eles deram-me uma oportunidade. Haverá sempre equipas que pagam mais, ou empregos que pagam mais. Mas o importante é sentirmo-nos felizes”, contava ao The Telegraph em 2018.

Ele, que já enfrentou turmas de miúdos e milhares de adeptos nas bancadas, está pronto para tudo – e a imprensa britânica refere o interesse de clubes como Leeds United, West Bromwich Albion e Middlesbrough. “Podes estar perante 20 alunos e eles não querem saber o que tens para dizer, ou ir ao estádio e ter milhares à espera de uma boa exibição. Eu diria que são coisas igualmente difíceis”, confessou. Superado o desafio na escola, venham os altos voos futebolísticos.

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