Série russa vai contar a versão soviética de Tchernobil

Canal russo vai lançar série que descreve os acontecimentos do desastre nuclear e conta a versão soviética, em resposta à produção norte-americana da HBO.

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A série da HBO provocou um aumento do número de visitantes à região ucraniana afectada pelo desastre de 1986 Reuters/VALENTYN OGIRENKO

Chernobyl, a minissérie da HBO sobre o desastre nuclear de 1986, na região ucraniana da antiga União Soviética, vai ter uma versão realizada por um canal russo que implica os Estados Unidos no desfecho trágico da explosão de um dos reactores da central.

De acordo com o Washington Post, a série russa foi financiada pela NTV, uma estação que pertence ao departamento de media da companhia de gás natural russa Gazprom e que é conhecida pelas suas afinidades ao Kremlin. O Ministério da Cultura russo terá mesmo contribuído com 30 milhões de rublos (408 mil euros), segundo o Hollywood Reporter, para a produção da série que conta uma versão diferente da que é assumida como verdadeira.

Ilya Shepelin, crítico do Moscow Times, dá conta, esta semana, que vários colunistas ligados ao poder político do Kremlin usaram os seus espaços de opinião para diminuir a credibilidade da série acerca do retrato feito aos líderes soviéticos da época.

“Se os anglo-saxónicos filmarem algo sobre os russos, não corresponderá, de todo, à verdade”, escreveu Anatoly Vasserman, um colunista muito próximo do regime. A série com produção russa estará focada na premissa de que um operacional da CIA estava em Tchernobil no dia da explosão, com o intuito de levar a cabo um plano de sabotagem da central nuclear. A série segue, assim sendo, um grupo de oficiais do KGB que tentam detectar o infiltrado, de acordo com o Moscow Times.

O realizador da série, Alexei Muradov, afirmou ao diário russo que “uma das teorias sustenta que os americanos se terão conseguido infiltrar na central nuclear e que, no dia da explosão, tal como muitos historiadores assumem, um agente dos serviços secretos inimigos estava no local”.

Apesar desta teoria, os oficiais soviéticos concluíram, num relatório de 1986, que um erro humano e a consequente explosão tinham sido a causa do desastre, de acordo com o Los Angeles Times. Shepelin, crítico do jornal russo, aponta que a contestação russa em relação à série da HBO tem somente que ver com orgulho nacional e não com a exactidão dos factos.

“O facto de que uma série americana e não russa fale dos nossos próprios heróis é uma fonte de vergonha que os media pro-Kremlin não conseguem engolir”, escreveu esta semana. “Esta é a verdadeira razão por que contestam a série da HBO”.

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