As declarações de Vítor Constâncio sobre a CGD e Berardo no Parlamento

O ex-governador do Banco de Portugal (BdP) deu aval ao crédito da Caixa Geral de Depósitos a José Berardo para a compra de acções do banco rival, o BCP. No entanto, à comissão parlamentar de inquérito, que decorreu no passado dia 28 de Março, Vítor Constâncio afirmou o contrário, garantindo que o BdP só tem conhecimento das operações de crédito depois de os bancos as efectivarem.

De acordo com a documentação a que o PÚBLICO teve acesso, o ex-governador do Banco de Portugal (BdP) autorizou Berardo a levantar 350 milhões de euros junto da CGD para comprar acções do BCP, facto que omitiu perante a comissão parlamentar de inquérito, que decorreu no passado dia 28 de Março.

À data, Vítor Constâncio respondeu às perguntas da comissão parlamentar acerca da “política de crédito em geral”, para vincar que “um supervisor não tem poderes de interferência na politica comercial das instituições”. O ex-governador prosseguiu então com explicações, argumentando que a interferência que existe por parte de um supervisor “é no sentido da natureza das operações que fazem”, isto é, “por exemplo, essas operações de dar crédito para acções e com garantia de acções”.

"Claro que [o BdP] só tem conhecimento delas [operações de crédito] depois" de os bancos efectivarem. "Como é óbvio. É natural! Essa ideia de que [o BdP as] pode conhecer antes é impossível", afirmou, em resposta à comissão parlamentar.

“Essa escolha, sendo legal, não pode ser objectada pelo supervisor”, repetiu. “E foi nesse sentido que eu disse que [um supervisor] não define as orientações de política comercial”, acrescentou Vítor Constâncio. O ex-governante insistiu que não opinou ou interveio na escolha dos créditos “de onde os bancos tentam fazer dinheiro” através de juros. “O Banco de Portugal, ou o supervisor, olha para isso e só tem conhecimento [das escolhas] depois. Essa ideia de que pode conhecer antes é impossível”, garantiu.