Qualidade das selecções femininas está em “níveis de excelência”

No arranque da maior prova de futebol feminino em selecções, uma das mais experientes jogadoras da selecção portuguesa ajudou o PÚBLICO a apresentar quatro nações favoritas a vencer o Mundial.

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Francesa Eugénie Le Sommer é uma das jogadoras mais intituladas a entrar no Mundial feminino 2019 Gonzalo Fuentes/Reuters

Ano após ano, o impacto do futebol em todos os seus quadrantes tem contribuído para o interesse e aumento da competição no sector feminino. Quem o diz é Carolina Mendes, avançada do Sporting e internacional portuguesa por 82 ocasiões, que contou ao PÚBLICO o que o Mundial de futebol feminino, que arranca esta sexta-feira em França, pode reservar, destacando quatro equipas capazes de levantar o troféu.

Esta oitava edição do torneio arranca no momento das decisões na Liga das Nações, mas isso não irá impedir o futebol feminino de transmitir uma mensagem de progresso. Para Carolina Mendes, a “transformação do futebol feminino” está a acontecer “em todo o mundo”, há barreiras a serem ultrapassadas, permitindo que as selecções evoluam cada vez mais. “A qualidade das selecções está cada vez mais a atingir níveis de excelência”.

Estados Unidos

Campeã do mundo em 1991, 1999 e 2015 (última edição do Mundial) e olímpica em 1996, 2004, 2008 e 2012, a selecção feminina dos Estados Unidos apresenta-se tradicionalmente na máxima força. Número 1 no ranking mundial FIFA desde 2015, o país do soccer tem mostrado desempenhos elevados no feminino e muito acima do masculino, que vai dando sinais positivos a nível de clubes. O historial diz tudo: é a crónica candidata à vitória.

A convocatória de Jillian Ellis é dominada por jogadoras das equipas mais fortes do campeonato norte-americano (as actuais campeãs North Carolina Courage, os Portland Thorns, Chicago Red Stars, Utah Royals e Orlando Pride), reunindo um “elenco de luxo” e internacionalmente reconhecido no futebol feminino.

Carolina Mendes aponta a atacante Alex Morgan (109 golos) e as médias Megan Rapione e Tobin Heath como as jogadoras mais influentes, a par da capitã Carli Lloyd, de 36 anos, a jogadora com mais internacionalizações (274) e golos (110) pelos EUA e eleita melhor do mundo em 2015 e 2016. A grande maioria dos elementos desta selecção tem mais de 30 jogos com as cores norte-americanas - e algumas jogadores têm mais 100 partidas.

Inglaterra

A selecção inglesa poderá ser uma das boas novidades deste Campeonato do Mundo. Está actualmente no terceiro lugar do ranking FIFA. “Têm algo a dizer nesta competição”, refere Carolina Mendes, que elenca nomes como Lucy Bronze, jogadora do Lyon “e provavelmente a melhor lateral direita do mundo”, e a avançada Fran Kirby, do Chelsea, que considera uma das melhores jogadoras inglesas.

Este ano, Inglaterra já venceu um troféu, o torneio SheBelieves, organizado em solo norte-americano. As inglesas levaram a melhor sob os EUA, o Japão e o Brasil.

A convocatória desta selecção é dominada por (oito) jogadoras do Manchester City, segundo classificado do campeonato inglês feminino (e o primeiro clube a vencer um triplete de troféus domésticos). Fara Williams, a jogadora com mais internacionalizações (170), não está nas opções do seleccionador Phil Neville, ex-jogador do Manchester United e do Everton. Karen Carney (140 jogos) e Jill Scott (136 jogos) são as outras veteranas da equipa.

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Carolina Mendes, que fez 10 golos em 25 jogos esta época pelo Sporting, tem 31 anos e falou ao PÚBLICO sobre as selecções femininas a observar neste Mundial 2019 SPORTING CP

Japão

Estados Unidos e Alemanha são os habituais campeões e candidatos a vencer, mas a Noruega (1995) e o Japão (2011) são outras selecções que já conquistaram o desejado troféu. Agora no sétimo lugar do ranking FIFA, Carolina Mendes destaca o papel da capitã Saki Kumagai na equipa nipónica. É defesa central e joga no tetracampeão europeu Lyon. “É a capitã e comandante desta selecção. Com um título conquistado, é sempre uma forte candidata”.

A média Rumi Utsugi é a outra jogadora japonesa que joga fora do seu país, nos Estados Unidos. As restantes actuam no campeonato japonês, sendo a maioria da convocatória dominada por futebolistas do NTV Beleza, o tetracampeão de futebol feminino nipónico.

No continente asiático, o Japão tem dominado as competições de selecções nos últimos anos, vencendo as últimas edições dos Jogos Asiáticos (2018) e da Taça Asiática (2014 e 2018). O Japão é o vice-campeão mundial feminino, mas vai encontrar a Inglaterra logo na fase de grupos.

França

Ambição é a palavra-chave para as gaulesas. Num Campeonato do Mundo organizado em casa, uma possível conquista pode juntar-se ao título masculino conquistado na Rússia, em 2018, e às quatro Ligas dos Campeões femininas consecutivas conquistadas pelo Lyon.

É a equipa mais representada na convocatória e na qual actuam algumas das melhores jogadoras da actualidade para Carolina Mendes. Eugenie Le Sommer, nove vezes vencedora da Champions e de seis Ligas francesas, “dispensa apresentações” porque é “uma das atacantes mais poderosas do mundo” e na defesa estará Wendie Renard, “uma das centrais mais fortes do mundo”.

A França está no quarto lugar do ranking FIFA e ainda não venceu qualquer competição feminina de selecções. O melhor desempenho foi no Mundial de 2011, na Alemanha, e nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2212, onde chegou por ambas as vezes ao quarto lugar. Nos últimos jogos de preparação para este Mundial, venceu os Estados Unidos e o Japão por 3-1, mas perdeu com a Alemanha por 0-1. No jogo de abertura do Mundial goleou a Coreia do Sul por 4-0.

Atenção ao Brasil e, claro, à Alemanha

O Brasil, vice-campeão mundial em 2007, mantém nas suas fileiras a avançada Marta Veiga, actualmente a jogar no Orlando Pride dos EUA, eleita a melhor do mundo em 2006, 2007, 2008, 2009, 2010 e 2018, e a média Formiga, um ícone do futebol feminino brasileiro e que, aos 41 anos, estará no seu sétimo Mundial, um recorde.

A Alemanha foi campeã do mundo em 2003 e 2007, campeã europeia entre 2001 e 2013 e vencedora dos Jogos Olímpicos de 2016. Está no segundo lugar do ranking FIFA.

Dzsenifer Marozsán, média do Lyon (segunda classificada do prémio The Best FIFA 2018 e terceira na primeira Bola de Ouro feminina – 32 golos em 90 jogos) e a avançada do Wolfsburgo e capitã Alexandra Popp (46 golos em 96 jogos) são as principais figuras.

A internacional portuguesa Carolina Mendes não tem dúvidas de que França vai receber “um espectáculo único”, que tem tido cada vez mais adeptos, mas lembrou ao PÚBLICO que a modalidade “ainda sofre algum preconceito”.

Ada Hegerberg, norueguesa e a primeira vencedora da Bola de Ouro feminina, não joga pela sua selecção desde 2017 e não vai jogar no Mundial porque quer mais igualdade no futebol feminino. Para a avançada de 23 anos, que também joga no Lyon, faltam muitas condições para as mulheres e o dinheiro não chega, mesmo depois de a federação da Noruega ter decretado igualdade salarial em todas as selecções.

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