Apanhem este comboio

Cidades que optem por contrariar a utilização do transporte individual poluente serão, a prazo, sempre melhores cidades para viver.

Têm imperado duas maneiras de ver a questão da baixa dos preços dos passes. Há aqueles que acham que tudo não passa de uma medida eleitoralista, formatada a tempo das europeias, mas com vontade de capitalizar os sorrisos dos eleitores/passageiros das legislativas. E há os que vêem na medida uma vontade devidamente calibrada de tornar mais acessíveis os transportes colectivos e, dessa forma, tentar resolver os problemas de trânsito e de poluição das áreas metropolitanas, muito em especial a de Lisboa. Ambas estão erradas.

Só as vistas curtas da primeira opção podem justificar a posição do PSD (o CDS absteve-se) que, no Parlamento, votou contra uma opção genericamente vista como benéfica pela população. Um erro político, em particular dos sociais-democratas, cujo presidente tinha prometido afirmar a sua diferença por não recusar propostas só por elas serem de um partido contrário, antes ponderando a qualidade das mesmas.

Ora, a qualidade de uma medida como esta é razoavelmente difícil de contrariar até porque, um pouco por todo o mundo, que não liga nada aos nossos calendários eleitorais, medidas similares estão a ser ensaiadas ou já estão em prática. Cidades que optem por contrariar a utilização do transporte individual poluente serão, a prazo, sempre melhores cidades para viver.

Quer isto dizer que o Governo fez isto sem pensar nas eleições e estava tudo devidamente pensado para a sua entrada em vigor? Não e não. Bastou olhar para os panfletos “Passes mais baratos”, distribuídos durante a campanha das europeias, para perceber que não houve um pingo de vergonha que os impedisse de lucrar o mais possível com a medida. Basta ver a forma como está a ser preciso adaptar carruagens para acolher a oferta para perceber que se reage, pois não foi possível prevenir.

Só que nada disto apaga o sentido correcto da baixa dos preços. Mesmo que se afadigue a oposição a apontar os erros, os efeitos benéficos continuam a ser sentidos no bolso dos portugueses e se uns tantos levantam a voz pela retirada de uns bancos no metro de Lisboa, se há enchentes na hora de ponta, se temos o sacrifício de andar mais a pé nos transportes públicos, a isso chama-se dores de crescimento.

Sim, tudo isto devia estar mais bem preparado, sim, devíamos ter mais dinheiro para carruagens, mas o aumento da procura é a demonstração de que há ainda muito caminho a fazer para retirar carros dos centros e ligações metropolitanas. Mas umas tantas indignações do primeiro mundo e a nossa proverbial falta de preparação e de dinheiro não nos deve fazer perder este comboio. Vai no sentido certo.

Texto alterado às 16h30 desta quinta-feira. Ao contrário do que estava escrito, o CDS-PP não votou contra o Programa de Apoio à Redução Tarifária nos Transportes Públicos (PART). Absteve-se na votação geral e votou a favor de alguns pontos da proposta. Pelo lapso as nossas desculpas ao CDS-PP e aos nossos leitores.

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