Conheça os vencedores do primeiro Mobile Film Festival em Portugal

A curta “Leando”, de André e Jan Wiborg, foi distinguida com o Grande Prémio - BNP Paribas, no valor de cinco mil euros, destinado a financiar uma curta-metragem. Esta foi a primeira edição do festival em Portugal.

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André Wiborg, de 60 anos, e o filho Jan, de 29, são os grandes vencedores da primeira edição do Mobile Film Festival em Portugal, que contou com mais de 70 participações. A dupla de Santo António dos Cavaleiros, habituada a contar histórias em conjunto, venceu o ambicionado Grande Prémio - BNP Paribas e terá agora cinco mil euros para aplicar numa curta-metragem.

60 segundos, um palco – para contornar os problemas de iluminação – e a história de “Leando”, a quem nasce uma planta carnívora na cabeça. “Há sempre uma solução para os problemas, basta ter imaginação”, afirma André, que se inspirou num poema pouco conhecido. “É cada vez mais fácil fazer filmes com poucos meios”, destaca o vencedor, que frisa a importância do Mobile Film Festival por proporcionar uma “democratização do cinema”. “Há sempre alguma limitação de meios, mas com o telemóvel é mais fácil”, reitera.

Gostou do desafio, mas não seguiu o plano original de fazer o filme numa volta de 360º, pois “o telemóvel vai adaptando o foco”. Contornou os problemas de estabilidade com um suporte e tentou a sorte, sem esperar levar o prémio principal, pois tinha ficado impressionado com a qualidade dos festivais internacionais, nomeadamente o de França. “Fiquei satisfeitíssimo, mas não esperava”, confessa André. Quanto a ideias para aplicar o Grande Prémio - BNP Paribas, ainda não há nada em concreto, mas será novamente uma colaboração entre pai e filho. “Somos uma dupla e temos vários projectos que queremos fazer”, finaliza.

Devemos legalizar a eutanásia?

João Simões Ribeiro, de 25 anos, foi considerado o Melhor Realizador da competição, graças a “Eles Quis”, uma curta que aborda a eutanásia. Na curta dois jovens, cuja relação não é conhecida, encontram-se no hospital, onde um deles ajuda o outro, muito doente, a pôr termo à vida e acaba preso. A favor da legalização, João salvaguarda que “tem de haver um grande estudo sobre a eutanásia e como poderá ser aplicada”.

Em relação ao desafio, o realizador acredita que “há um apelo à nossa criatividade”, tendo recorrido somente a cinco planos para tentar mostrar todas as emoções subjacentes à história que queria gravar. Formado em Cinema, está mais habituado a câmaras de maior porte, mas “filmar com o telemóvel foi engraçado, porque não foi fácil e tivemos de estudar bem o que íamos fazer”, recorda.

Questionado sobre se tenciona voltar a participar, responde afirmativamente e defende que “tem de haver” nova edição, acrescentando que, ao contrário de outros festivais, “qualquer pessoa pode ser criativa e participar, independentemente de ter uma boa câmara ou não”. 

A violência doméstica em destaque

Mal decidiu participar no Mobile Film Festival, Rui Teles, um especialista de mercado de 23 anos, pensou automaticamente em colaborar com Rita Balinha [nome artístico], de 26. “Sabia que queria trabalhar com ela e explorar uma forma de colocar as ideias em prática”, conta Rui, cuja curta foi premiada com o galardão de Melhor Argumento. Já a actriz e tradutora aceitou no imediato participar com o “melhor amigo”, até porque queriam fazer um projecto em conjunto “há bastante tempo”.

“(Des)amor” foi a primeira vez que Rui realizou uma curta com o telemóvel. 

A curta, com a voz off de Rita, aborda um caso de violência doméstica, que ecoa os vários casos de homicídio noticiados recentemente. “A mensagem existe, é intencional, embora considere que é ampla e complexa”, descreve Rui. “Numa das minhas aulas de interpretação, a Maria Henrique estava a falar de uma das mortes recentes e essa imagem ficou gravada”, conta Rita, admitindo que isso influenciou a sua prestação.

André Wiborg, de 60 anos, e o filho Jan, de 29, são os grandes vencedores da primeira edição do Mobile Film Festival. D.R.
João Simões Ribeiro venceu na categoria de Melhor Realizador com “Eles Quis”. D.R.
O projecto de Rui Teles - "(DES)AMOR" -venceu na categoria de Melhor Argumento. D.R.
Rita Balinha trabalhou em parceria com Rui Teles. D.R.
Iven Silva foi eleito o Melhor Actor com a curta "Invasão". D.R.
Tiago Soares é o realizador de "Invasão". D.R.
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André Wiborg, de 60 anos, e o filho Jan, de 29, são os grandes vencedores da primeira edição do Mobile Film Festival. D.R.

Um prémio para os Açores

A prestação Iven Silva, de 29 anos, na curta “Invasão”, da autoria de Tiago Soares, valeu-lhe a distinção de Melhor Actor. “Não estava à espera, já que foi feito à última da hora e um pouco à base do improviso”, recorda o açoriano, que guarda a ambição de ser actor, mas que “nunca a tinha levado adiante”. Actualmente desempregado, o profissional de Multimédia acredita que a popularidade do festival pode “eventualmente abrir portas”.

Por sua vez, Tiago Soares, técnico audiovisual de 27 anos, diz que é “muito gratificante” ver a curta destacada: “Sendo a primeira edição mais valor tem”, afirma, salientando que “ser top 20 já foi recebido com muita alegria”. O realizador mostra-se à-vontade com todo o tipo de câmaras, mas admite que o telemóvel traz algumas dificuldades a “nível técnico”, por ser muito automático. 

Ambos os intervenientes se mostram particularmente contentes por este ser um prémio para os Açores, e especificamente para Ponta Delgada, uma vez que põe o arquipélago “mais perto”, destaca Tiago. “Acho que é uma mais-valia para os Açores, pois às vezes somos um pouco esquecidos”, reforça Iven.