Uma peça de xadrez fechada numa gaveta era, afinal, um tesouro perdido há 200 anos

A peça que os especialistas acreditam ser de origem norueguesa foi comprada por um antiquário em 1960, por cinco libras. Essa peça faz parte de um conjunto desaparecido há mais de 200 anos e que pode vir a ser leiloada por um milhão de libras (mais de 1,1 milhão de euros).

,Peça de xadrez
Fotogaleria
Exemplo de uma das peças expostas no Museu Britânico e no Museu Nacional da Escócia, muito semelhante à agora encontrada REUTERS
,jogos
Fotogaleria
REUTERS
,Peça de xadrez
Fotogaleria
REUTERS
,Peça de xadrez
Fotogaleria
REUTERS

Uma peça de xadrez de um tabuleiro medieval que se julgava perdida há mais de 200 anos estava, afinal, fechada numa gaveta na casa de uma família de Edimburgo, Escócia.

A relíquia, adquirida pelo avô e deixada aos netos, esteve guardada durante mais de 55 anos porque ninguém da família imaginava que aquela pequena peça fazia parte da The Lewis Chessmen, uma das maiores atracções expostas no Museu Britânico e no Museu Nacional da Escócia, em Edimburgo.

A peça, com cerca de 8,8 centímetros de altura, é feita de marfim de morsa. Sabe-se agora que é uma das peças do tabuleiro de xadrez encontrado na Ilha de Lewis, na Escócia, em 1831. Esta, juntamente com outras quatro, estavam desaparecidas desde então.

A descoberta do tesouro na ilha de Lewis ainda é um mistério para os escoceses, mas entre a população circulam histórias de que as peças poderão ter sido desenterradas por animais enquanto pastavam. Os especialistas da época acreditam que as peças tenham sido enterradas pouco depois de serem produzidas e assim permaneceram durante 500 anos.​​

“Consideradas como as peças de xadrez mais famosas que sobreviveram desde a época medieval, os Lewis Chessmen garantiram o seu lugar na história quando foram encontrados em 1831 nas Hébridas Exteriores. O notável tesouro constituiu a maior descoberta de peças medievais de xadrez, e a partir do momento em que foram descobertas, os Lewis Chessmen construíram o seu próprio mundo misterioso repleto de folclore, lendas e uma rica tradição de contar histórias”, descreve a casa de leilões Sotheby's, em Londres, responsável pelo leilão da peça.

Vistas como um “símbolo importante da civilização europeia”, as peças infiltraram-se na cultura popular. Chegaram à televisão no programa infantil britânico The Sagas of Noggin The Nog, e, mais tarde, ao grande ecrã no primeiro filme da saga Harry Potter: Harry Potter e a Pedra Filosofal.

Um tesouro por cinco libras

Mal sabia o antiquário da família que, ao comprar uma peça de xadrez a outro vendedor de Edimburgo, em 1964, por cinco libras,​ estava a adquirir uma das peças há muito perdidas do Lewis Chessmen, uma das relíquias mais valorizadas no mundo do xadrez agora avaliada entre 600 mil libras (cerca de 677 mil euros) e um milhão de libras (mais de 1,1 milhão de euros).

Os netos, que guardaram a peça numa gaveta de sua casa depois da morte do avó, não faziam ideia do seu valor até a levar à Sotheby’s.

“A minha mãe gostava muito do Chessman e eu apanhava-a muitas vezes a admirar a sua complexidade e estranheza. Ela acreditava que a peça era especial e pensava mesmo que poderia ter algum significado mágico. Durante muitos anos, a peça ficou numa gaveta em sua casa, onde estava cuidadosamente embrulhada numa pequena mala. De tempos a tempos, retirava a peça de xadrez da gaveta para apreciar a sua singularidade”, lê-se no testemunho de um dos netos do antiquário à casa de leilões.

Foto
Mapa da Escócia e da Ilha de Lewis, local onde as peças foram encontradas SOTHEBYS

O especialista da Sotheby’s que examinou a peça, Alexander Kader, disse à BBC que o seu queixo “caiu” quando percebeu o que a família tinha em sua posse. “Trouxeram uma peça para avaliação e isso acontece todos os dias, uma vez que as nossas portas estão abertas para avaliações gratuitas. Somos chamados ao balcão e não temos ideia do que vamos ver. Na maioria das vezes, a peça não tem muito valor, mas não neste caso. Este chessman está um pouco danificado, perdeu o olho esquerdo, mas este ar cansado e desgastado pelo tempo pode aumentar o seu charme”, referiu o especialista citado pelo canal britânico

O conjunto que os especialistas acreditam ser de origem norueguesa dos séculos XII ou XIII inclui reis e rainhas, bispos, cavaleiros, carcereiros e peões. São cerca de 82 as peças que estão agora patentes no Museu Britânico e 11 as que estão no Museu Nacional da Escócia. A peça recém-descoberta é um carcereiro, um homem com capacete, escudo e espada, o equivalente a uma torre na versão moderna de um tabuleiro de xadrez. “Além das peças de xadrez, existiam 19 peões e 14 peças de jogos planas e circulares e ainda uma fivela de cinto de origem desconhecida”, lê-se na página da Sotheby’s.

Apesar de todas as restantes peças terem adquirido uma cor pálida de marfim, Alexander Kader acredita que a nova peça oferece uma visão diferente do tesouro. “O novo tom escuro tem o potencial de oferecer uma visão valiosa e nova sobre como as restantes peças de xadrez se pareciam no passado. Há certamente mais história deste guardião para ser contada, sobretudo sobre a sua vida ao longo dos últimos 188 anos em que ele foi separado dos seus companheiros de xadrez”, testemunha o especialista na página que anuncia a descoberta. 

O objecto será exposto em Edimburgo e em Londres pouco antes do leilão que acontecerá a 2 de Julho, sendo que a peça pode ser comprada ou emprestada a um museu.

Sugerir correcção
Comentar