Oposição a Cristas: “Está em causa o partido como o conhecemos”

Críticos da direcção do CDS vão exigir uma reflexão em conselho nacional

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Assunção Cristas daniel rocha

Os críticos de Assunção Cristas não vão poupar a líder do CDS-PP pelos resultados das europeias de domingo. Querem que se responsabilize, tal como fez Nuno Melo, exigem uma reflexão profunda e avisam que pode estar em causa a existência do partido. Nesta quinta-feira à noite há reunião do conselho nacional e promete ser quente.

Depois de, na noite eleitoral, a líder do CDS ter dito compreender “os sinais” dados pelos eleitores, os críticos vão exigir mais explicações e querem saber que estratégia a direcção vai seguir para tentar recuperar votos nas legislativas. O partido retoma a orientação mais pragmática de tentar captar eleitorado noutras áreas que não a da direita ou ficará mais confinado a esse espaço, como defendeu Nuno Melo durante a campanha das europeias?

Para Raul Almeida, porta-voz da lista alternativa ao conselho nacional, um CDS “pragmático” e “sem ideologia conduzirá o partido a um precipício”. Filipe Lobo d’Ávila, líder desta lista de conselheiros nacionais, coloca em cima da mesa os números. “Um partido como o CDS ficar praticamente empatado em Lisboa, Porto e Coimbra com o PAN e em Setúbal e Faro ser o sexto partido mais votado tem de ter uma reflexão profunda”, afirmou ao PÚBLICO. Reservando a sua posição para esta noite, o ex-secretário de Estado da Administração Interna do anterior Governo assegura que “não está em causa a liderança de Assunção Cristas” - mas sim “o rumo e a existência do partido como nós o conhecemos”.

Abel Matos Santos, porta-voz da Tendência Esperança em Movimento (TEM), corrente interna do partido, assume também uma perspectiva pessimista: “O CDS tem ser o partido das causas e de valores. Se quer ir disputar eleitorado no PS e no PSD, acho que o resultado vai ser desastroso”. O conselheiro – que tem assento na comissão política nacional – apela à líder do partido para “ouvir os críticos e respeitar as estruturas”, sob pena de o CDS se tornar “o partido do táxi ou da trotinete”.

Entre os críticos da direcção há a preocupação de defender Nuno Melo, que consideram não estar a ser apoiado. Abel Matos Santos considera que o cabeça de lista esteve em campanha condicionado por “trapalhadas” como as das passadeiras LGBT e a crise dos professores. E recusa que a responsabilidade seja apenas do eurodeputado.

Raul Almeida diz mesmo que Nuno Melo e Pedro Mota Soares (o número dois da lista) fizeram a campanha em coordenação com a direcção. “Se não concordava com a campanha, porque é que Assunção Cristas ficou ao seu lado nos cartazes”, questiona. O antigo deputado critica a líder do partido por não assumir a sua responsabilidade pelos resultados. “Sempre que alguma coisa corre mal, a presidente do partido põe-se de fora e responsabiliza quem deu a cara. É uma demonstração de carácter que é incompatível com o ser presidente do CDS”, afirmou, referindo-se aos casos da polémica de Angola com Hélder Amaral, das passadeiras LGBT e da crise dos professores.

Enquanto os centristas vivem uma crise interna, Manuel Monteiro, ex-líder do partido, continua a ser convidado para conferências e outras iniciativas no partido. A próxima é no dia 10 de Junho, em Montemor-o-Novo, a convite da concelhia e da federação dos trabalhadores democratas-cristãos de Évora. E há quem não esqueça que Manuel Monteiro apoiou publicamente Nuno Melo nestas europeias.

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