Portugal coloca dívida pública na China a taxas mais altas

Tesouro português entra num mercado ainda por explorar por qualquer dos países da zona euro. Taxa de juro suportada fica acima daquilo que seria uma emissão de dívida normal em euros.

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rui gaudencio

Na primeira emissão do género feita por um país da zona euro, o Tesouro português realizou esta quinta-feira na China uma emissão de dívida de cerca de 260 milhões de euros (2000 milhões de iuans renminbis), abrindo as portas da dívida pública portuguesa a novos investidores, mas suportando uma taxa de juro mais alta do que a que seria obtida numa emissão normal em euros.

Pelas obrigações a três anos emitidas na China, o Estado português vai pagar, em iuans, uma taxa de juro de 4,09%, revelou a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública - IGCP. Levando em conta o contrato de swap [para protecção de variações cambiais] associado à conversão de iuans para euros, o custo efectivo suportado pelo Estado é de uma taxa de juro anual próxima de 0,65%.

Estes 0,65% são consideravelmente mais altos do que a taxa de juro que Portugal obteria, se tivesse feito esta emissão de dívida da forma mais habitual, em euros. Nos mercados secundários, a dívida portuguesa a três anos é neste momento transaccionada a uma taxa negativa de 0,24% (isto é, Portugal recebe juros por pedir dinheiro emprestado).

Este custo adicional na operação de colocação de dívida na China já tinha sido assumido pelos responsáveis do Ministério das Finanças, que têm vindo a defender que este é “o custo de entrada num novo mercado”. A ideia é a de que será possível, através de emissões de dimensão relativamente reduzida, aproveitar agora a elevada credibilidade de que gozam as finanças públicas portuguesas e habituar os investidores chineses a terem nos seus portefólios dívida pública portuguesa. Quando uma futura crise surgir, Portugal pode ter na China uma alternativa aos mercados de dívida europeus, que em 2011 se fecharam por completo ao país.

Para além disso, há uma forte componente política na decisão de realização desta operação, já que esta é mais uma forma de Portugal se destacar como parceiro europeu relevante para a China. A operação tem vindo a ser discutida entre Lisboa e Pequim durante os últimos anos, tendo ficado acertada aquando da visita do Presidente chinês, Xi Jinping, a Portugal no passado mês de Dezembro.

“É uma operação cujo custo, em euros, ficará acima das emissões de dívida habituais. Algo que se pode justificar pelos benefícios estratégicos que pode trazer”, afirma o economista Filipe Garcia, da IMF-Informação de Mercados Financeiros, assinalando que, “do ponto de vista financeiro, esta é uma operação com pouca importância”. Em relação à realização de novas operações idênticas no futuro, o analista diz que, “sendo uma operação com uma justificação essencialmente política, serão os políticos que irão decidir”.

A operação foi colocada em prática pelo Banco da China e pelo HSBC, com o aconselhamento da CaixaBI. De acordo com a nota publicada pelo IGCP esta quinta-feira, durante a realização do leilão de títulos de dívida, a procura superou mais de três vezes a oferta. “Com esta transacção bem sucedida, Portugal acede ao terceiro maior mercado obrigacionista do mundo, diversificando a sua base de investidores”, assinala a nota do IGCP.

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