Administração do São João garante que avaria em máquina de radioterapia não prejudicou doentes

As avarias nas máquinas de radioterapia levaram um paciente a apresentar queixa à entidade reguladora. A administração garantiu que as avarias não prejudicaram os doentes em termos clínicos e que a nova máquina está a funcionar a 100% desde o fim de Fevereiro.

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Paulo Pimenta

A administração do Centro Hospitalar e Universitário de São João garantiu esta quarta-feira que a avaria numa máquina de radioterapia não prejudicou, em termos clínicos, os doentes que recebiam tratamentos naquele centro hospitalar.

Em conferência de imprensa no Hospital São João, o presidente do Conselho de Administração, Fernando Araújo, garantiu que um novo equipamento já está em funcionamento desde o fim de Fevereiro e, em conjunto com um segundo equipamento do mesmo tipo, tem permitido dar resposta a todos os doentes. A nova máquina de radioterapia​, que custou certa de cinco milhões de euros, possibilita o tratamento de cerca de 120 doentes por dia, cerca de 28 mil por ano.

“Gostaria acima de tudo de tranquilizar os doentes e as famílias, por vezes em situações muito vulneráveis, de que os problemas do passado estão neste momento ultrapassados. O Hospital de São João garante com a máxima qualidade, com o esforço de uma equipa de radioterapia altamente competente, uma resposta em tempo útil a todos os doentes que necessitem”, referiu Fernando Araújo.

As avarias dos equipamentos de radioterapia levaram um paciente a apresentar queixa à Entidade Reguladora da Saúde (ERS). O paciente em questão teve de esperar mais de cinco meses e meio para começar um tratamento de radioterapia, prescrito a 24 de Abril de 2018 e iniciado a 10 de Outubro desse ano. De acordo com a lei, o tratamento em questão deve ter início 15 dias depois de terem sido prescrito. 

Apesar do centro hospitalar possuir dois equipamentos de radioterapia, um deles, da marca Varian, tem “20 anos, já descontinuado pela empresa, mas ainda em funcionamento, tratando 60 doentes por dia e que será desactivado com a entrada em funcionamento do novo aparelho”, garantia a administração numa resposta enviada à ERS em Dezembro de 2018.

O segundo, da marca Siemens, tem 14 anos e tem dado “muitos problemas”, com avarias diárias que afectam os tratamentos e o tempo de vida dos pacientes. As interrupções constantes levaram o hospital a deixar de usar este último aparelho, optando por enviar estes doentes para fora do hospital.

“É verdade que este segundo equipamento esteve avariado durante meses. Isso levou a que vários doentes tivessem de ser transferidos para outras instituições de forma a serem tratados em tempo útil, o que gerou desconforto nos doentes e nas famílias, algo que nos preocupa. No entanto, não conhecemos nenhum caso cuja vida tenha sido afectada por causa deste problema”, garantiu o presidente do Centro Hospitalar de São João.

Doentes já não estão a ser transferidos

Questionado sobre os efeitos que estas avarias possam ter tido na vida dos doentes com cancro, nomeadamente na diminuição do tempo de vida de alguns pacientes por não terem sido tratados em tempo útil, o também ex-secretário de Estado da Saúde afirmou que todos os problemas tinham sido complemente solucionados no final de Fevereiro, deixando de ser necessária a transferência de doentes para outras unidades hospitalares. 

“A radioterapia tem um timing importante dentro dos protocolos oncológicos e esse timing tem de ser cumprido, há prazos máximos definidos na lei para tal. Ao hospital compete ter os equipamentos e os processos para que quando o doente precise tenha a resposta e já o conseguimos a partir de Fevereiro”, disse.

Tal como noticiou o PÚBLICO em Outubro de 2018, a autorização para entrada em funcionamento do novo equipamento foi demorada, mesmo apesar de o aparelho ter sido instalado em Fevereiro daquele ano e de o Laboratório de Protecção e Segurança Radiológica, entidade responsável pela avaliação de segurança, ter feito a inspecção em Maio.

O laboratório – que explicou que os trabalhos de avaliação têm, “em geral, uma duração de três meses, que pode dilatar-se em função do cumprimento das condições contratuais” – afirmou que o processo se atrasou porque o hospital não cumpriu o contrato e só naquele mês efectuou o último pagamento.

De acordo com Fernando Araújo, as inspecções a este tipo de equipamentos são “um processo complexo”, uma vez que emitem radiações e que é necessária a autorização de várias partes para garantir segurança no seu uso. “São processos que são mais demorados porque temos que ter a certeza absoluta, de acordo com a lei, que o processo garante a segurança de quem o utiliza”, refere.

O período de tempo em que o aparelho não esteve a funcionar, garante o director, não chegou a um ano, mas “foi um processo longo”. Enquanto isso, os doentes que necessitavam daquele tipo de tratamento foram transferidos diariamente para outras unidades hospitalares para receberam os cuidados em tempo útil. 

“Os doentes foram transferidos para outras unidades, foi esse o impacto negativo na vida deles, sendo que a maior parte foram orientados para o Instituto Português de Oncologia - Porto (IPO) que fica aqui ao lado”, afirmou Fernando Araújo.

A administração garante ainda que apesar de estar segura de que não terá problemas com o novo equipamento num futuro próximo, tem opções para resolver o problema caso uma das máquinas avarie. “Trabalhamos em rede no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e o IPO tem um parque de tratamentos com radioterapia muito evoluído e quando eles tem problemas recorrem a nós e vice-versa”, disse o director do Hospital São João que referiu ainda que as críticas, nomeadamente a que receberam da parte da Entidade Reguladora da Saúde, são sempre construtivas e "tentam sempre defender o interesse dos doentes” e “melhorar a forma como prestamos cuidados”.

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