Teatro Experimental do Porto regressa ao renovado Clube Fenianos

Além do TEP, que continuará a não ter morada definitiva, são mais duas as entidades que vão ser acolhidas naquele espaço onde se está a criar o Condomínio de Artistas.

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NELSON GARRIDO

Ainda não vai ser esta a morada definitiva do Teatro Experimental do Porto (TEP), que não tem sede definitiva desde 1994, quando um incêndio destruiu a Sala-Estúdio do edifício da antiga Escola Académica, onde a companhia de teatro mais antiga do país em actividade funcionava desde 1981. Mas é à casa onde o grupo nasceu que regressa para fazer parte de um motor que funcionará a três cilindros, pelo menos para já - a curto prazo serão quatro.

Nesta quarta-feira, o Clube Fenianos Portuenses, com a assinatura de protocolos com três entidades culturais da cidade, deu mais um passo para a criação, em plena Baixa, do já anteriormente anunciado Condomínio de Artistas. No segundo piso do edifício desta instituição que este ano celebra 115 anos, recentemente reabilitado, além do TEP, há lugar guardado para a Ópera na Academia e na Cidade e para a Invicta Big Band. O objectivo do clube é recuperar o lugar que ocupava como “centro de artes performativas e para a música”, para voltar a cumprir o desígnio “de “local de acolhimento de artistas da cidade com programação activa”.

Durante os últimos 15 anos, os cerca de 3 mil metros quadrados do segundo piso do edifício estiveram “praticamente devolutos”, diz-nos Vítor Tito, vice-presidente da instituição. No final do ano passado, as obras arrancaram em direcção ao futuro que os Fenianos pretendem alcançar. Para lá chegarem é ao passado que vão buscar inspiração, aos anos em que o clube se mantinha mais activo a nível de programação e de interacção com os vários agentes artísticos da cidade.

Para isso, o segundo andar do edifício foi remodelado de forma a cumprir essa vontade. “Foram criados dois tipos de espaços, os dedicados, de trabalho, e os de espectáculo, que são quatro”, explica o responsável pelo clube. Naquela área existe um teatro com cerca de 120 lugares, a Sala António Pedro, em homenagem ao fundador do TEP, um anfiteatro com capacidade para oitenta pessoas, uma sala de co-work e, nas traseiras do palco, um espaço armazém de apoio à produção. No piso inferior, o principal, já existe o Salão Nobre, onde cabem 300 pessoas, o Salão Flamingo, um “open space”, preparado para receber 120 visitantes, e a biblioteca, com cerca de 80 lugares.

É na área reabilitada que nasce o Condomínio de Artistas Fenianos, para acolher estruturas artísticas da cidade. Resultado dos protocolos assinados, aquele piso acolherá a Invicta Big Band, orquestra de jazz e música ligeira que ali vai ficar alojada e a Ópera na Academia e na Cidade - liderada pelo maestro Ferreira Lobo, durante anos responsável pela programação de ópera do Coliseu -, que para ali leva o seu acervo (guarda-roupa e cenário).

As instituições escolhidas pelo clube, segundo Vítor Tito, têm todas uma ligação antiga com os Fenianos, como é o caso do TEP, que nos anos 1950 exerceu ali os primeiros anos de actividade. “Nos anos 50, os Fenianos acolheram o TEP e apadrinharam o lançamento do teatro moderno em Portugal”, recorda. Agora, regressa à casa que o viu nascer para ali deixar o seu acervo público - alguns milhares de livros da bibliografia, sobretudo sobre teatro, e parte do guarda-roupa e cenários.

Além desta vertente, estas entidades, e mais uma ainda por escolher (está reservada para uma estrutura emergente), terão a liberdade para trabalhar em conjunto de forma a permitir que durante todo o ano os Fenianos tenham uma programação regular. Outro objectivo, adianta, é montar no mesmo local uma escola artística aberta a toda a população, com o apoio pedagógico destas estruturas. A partir de meados de Junho, o espaço também contará com uma programação dedicada à guitarra clássica, com concertos em cinco dias da semana.

TEP ainda à procura de casa definitiva

O director artístico do TEP, Gonçalo Amorim, diz que esta parceria faz parte de um acordo, nascido da “boa relação entre as instituições”, que funcionará na base de uma troca de necessidades e vontades. Nenhuma das estruturas que vai ocupar o espaço pagará qualquer renda.

Para o TEP este regresso é feito com alguma “carga simbólica” e uma oportunidade para levar avante os planos de seguir em frente com a vertente da formação.

Porém, ainda não será esta a casa definitiva da companhia que em 1999 se mudou para Gaia, onde ficou até à mudança de executivo municipal. Desde essa altura, pela mão de Paulo Cunha e Silva, falecido em 2015, ensaiam no Teatro Municipal Campo Alegre e têm uma sede temporária na Rua do Paraíso. “Continuamos a procurar o espaço para montar o nosso teatro”, diz.

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