Porto

É uma casa burguesa, com certeza — e ganha prémios no século XXI

A obra da Casa António Patrício, no Porto, valeu ao atelier in_vitro o Prémio Nacional de Reabilitação Urbana de 2019, na categoria de Melhor Intervenção Inferior a 1000 metros quadrados.

José Campos
Fotogaleria
José Campos

Uma “típica casa burguesa portuense do início século XX” foi, mais uma vez, o ponto de partida de Joana Leandro Vasconcelos e Mafalda Cabeleira, arquitectas do atelier in vitro, também localizado no Porto. Desta feita, o edifício intervencionado foi a Casa António Patrício, um lote estreito e comprido com três pisos, duas fachadas e um jardim nas traseiras. Trata-se de um tipo de terreno no qual a dupla já está habituada a trabalhar, mas que nem por isso deixa de representar um “desafio” com “surpresas” à mistura. Um projecto que foi distinguido este mês com o Prémio Nacional de Reabilitação Urbana.

O objectivo foi, à semelhança do que aconteceu em obras anteriores, converter o edifício e projectar uma habitação adaptada às necessidades de uma família do século XXI, sem esquecer elementos originais, tais como a disposição das divisões e os materiais usados. As exigências que lhe foram apresentadas — e a que Joana prefere chamar “pedidos” por os proprietários do espaço serem seus amigos — vão ao encontro da sua lógica de trabalho, já que previam um espaço com boas condições de luminosidade e o uso de materiais naturais, como a madeira.

Foi, de facto, sobre esta matéria que recaiu a escolha de Joana e Mafalda para o revestimento da fachada posterior da casa, um dos elementos da estrutura inicial que sofreu uma profunda intervenção devido ao “muito mau estado de conservação” em que se encontrava. Uma excepção no conjunto global da obra e uma condição essencial para que Joana tivesse optado por este tipo de abordagem, como conta ao P3. “Tentamos reabilitar quando o estado de conservação o permite e quando as características dos elementos merecem ser preservadas.”

A cave da casa, no piso -1, foi a divisão que sofreu mudanças mais profundas por se tratar do andar em pior estado de conservação. Estas foram operadas ao nível dos “elementos construtivos e da organização espacial” e resultaram num espaço “único, amplo e com mais luz”, o que lhe conferiu um “carácter mais nobre”. Também a escada que lhe dá acesso foi substituída por uma estrutura metálica, constituída por uma “única chapa de aço que se desdobra e liga os dois pisos”.

Embora a reabilitação de edifícios históricos em contexto urbano ocupe um espaço considerável na lista de projectos de Joana, a arquitecta recusa a ideia de que esta solução se tenha tornado uma regra aplicada sem critério no seu trabalho: “Seria generalizar muito”, refere. No entanto, não esconde a preferência desta abordagem em detrimento da instalação de betão novo. “Preferimos a reabilitação a fazer tábua rasa dos edifícios, isto é, fazer tudo novo. Mesmo em termos financeiros, a obra tem um custo inferior se mantivermos o maior número de elementos possível."

A máxima usada no desporto diz que “em equipa que ganha não se mexe” e esta parece aplicar-se também a Joana e aos projectos de reabilitação urbana no Porto. Depois do Prémio João Almada atribuído em 2017 pelo seu trabalho na Casa da Boavista, Joana voltou a ser distinguida. A Casa António Patrício venceu, no início de Maio, o Prémio Nacional de Reabilitação Urbana (PNRU) de 2019, na categoria de Melhor Intervenção Inferior a 1000 metros quadrados. A arquitecta admite que “é sempre gratificante” ver o seu trabalho reconhecido e reconhece o impacto “motivacional” que este tipo de distinções tem na sua equipa, principalmente numa altura em que são muitos os projectos de reabilitação em contexto urbano.

Entre os vencedores deste ano do PNRU estão ainda o hotel portuense Le Monumental Palace, do gabinete Rodapé Arquitectos, a nova sede da Vieira de Almeida & Associados, do atelier Openbook Architecture e PMC Arquitectos, uma habitação na Rua do Teatro, no Porto, obra de Nuno Valentim, com Otília Ayres Pereira e Pedro Lima da Costa, a requalificação do Teatro Lu.Ca, de Manuel Graça Dias, a Sede e Centro de Logística da Cooperativa de Farmácias Plural, de Alexandre Saraiva Dias e Maria Amália Freitas, um restauro de um edifício na Rua Mouzinho da Silveira, em Lisboa, assinada pelo atelier Reabilita e, por fim, o conjunto de edifícios Sottomayor Residências, em Lisboa.

José Campos
José Campos
José Campos
José Campos
José Campos
José Campos
José Campos
José Campos
José Campos
José Campos
José Campos
José Campos
José Campos
José Campos
José Campos
José Campos
José Campos