Guia para acompanhar os resultados eleitorais

Quem ganha e quem perde as eleições não é só uma questão de números – dizem os políticos.

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Eleições acontecem no domingo Nelson Garrido

Nem sempre é fácil perceber quem perdeu as eleições só pelos discursos da noite eleitoral. Há partidos que têm menos votos, mas aumentam a percentagem. Outros ficam em segundo, mas reforçam a votação. O vencedor pode ganhar com um resultado muito aquém do esperado. Nunca ninguém gosta de assumir a derrota. Saiba como decifrar os truques dos discursos.

Mais mandatos

Este pode ser um dos critérios para distinguir vencedores e vencidos, mas não é o único. Em 2014, o PS ficou à frente com oito eleitos, logo seguido pelo PSD com seis – a coligação Aliança Portugal elegeu sete, mas na distribuição e lugares foram atribuídos seis ao PSD e um ao CDS. A CDU ficou em terceiro lugar (três eurodeputados), o MPT de Marinho e Pinto em quarto (dois mandatos) e o Bloco foi atirado para o fim da tabela (um lugar). Apesar das expectativas do Livre e do PAN, mais nenhuma força política conseguir fazer-se representar em Bruxelas. Desta vez, há uma derrota quase certa: a do MPT. O partido está numa espécie de relação complicada com os dois homens que elegeu há cinco anos: Marinho e Pinto desvinculou-se do partido e fundou um novo, pelo qual concorre (o PDR), e José Inácio Faria entrou como independente nas listas do Nós, Cidadãos!.

Mais votos

No caso das europeias, mais votos significa mais mandatos: quem tem mais votos é, portanto, o justo vencedor. Mas para ter um bom resultado e agradar a um partido não basta ter mais votos. Que o diga António José Seguro, que ganhou as europeias de 2014, com 31,46%, tendo sido pouco depois afastado do partido por ter tido uma votação que António Costa considerou “poucochinha”. Além do número de votos, há outras variáveis que contam para a sensação de vitória: as expectativas criadas, a evolução do resultado, os candidatos escolhidos, a comparação com os outros partidos. Se o PS, desta vez, subisse um ponto percentual mas o PSD subisse cinco, o PS ainda ganhava, mas a margem seria tão mínima que a recuperação dos sociais-democratas ofuscaria o resultado dos socialistas.

Evolução 2014/2019

Se o PS mantiver o resultado de 2019 pode até ganhar, mas será sempre uma vitória amarga. A comparação com as eleições de há cinco anos é importante para distinguir vencedores e vencidos na noite de 26 de Maio. Há sempre alguma força partidária que acaba por usar o critério da comparação com as eleições anteriores para dizer que ganhou terreno face às últimas europeias. E às vezes ganha, de facto, alguns pontos percentuais que não se reflectem no número de mandatos. Se o PAN ou a Aliança conseguirem eleger um eurodeputado, como antecipa a sondagem do PÚBLICO e da RTP, entrarão para a lista dos vencedores. Se a coligação Basta eleger André Ventura, será uma surpresa. Já se a CDU perder um dos seus três mandatos, mesmo que mantenha o número absoluto de votos, será, certamente, uma das derrotadas da noite. E o MPT, que chegou aos 7,15%, se se eclipsar no domingo, sofrerá a mais pesada das derrotas.

Comparação com as legislativas

Finalmente, se nada do que está descrito antes resultar e um partido quiser mesmo encontrar um critério para cantar vitória, ainda pode comparar o resultado das europeias com o das últimas legislativas para dizer que conseguiu melhorar o seu score eleitoral. No caso das legislativas, mantenha presentes os seguintes resultados: o PSD foi o partido mais votado, em coligação com o CDS (PàF), com 36,86% dos votos (qualquer coisa como quase dois milhões); o PS atingiu os 32,31%; o BE chegou aos 10,19%; a CDU 8,25%; e o PAN 1,39%. Na Madeira, sem coligação, o PSD ainda obteve mais 1,5%. Todos elegeram deputados.

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