“Quis escrever um romance físico, em que o corpo tem um papel importante”

Hotel Silêncio, de Audur Ava Ólafsdóttir, recebeu o mais importante prémio literário da Escandinávia, o do Conselho Nórdico. A autora islandesa escreveu um romance sobre a fragilidade do corpo, sobre as cicatrizes que vamos ganhando como medalhas de sobrevivência. É uma história de redenção sem epifanias, com o travo amargo de quem, não sendo já amado, encontra a salvação em se tornar útil para alguém.

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daniel rocha

Hotel Silêncio é o terceiro romance da escritora islandesa Audur Ava Ólafsdóttir (n. 1958) a ser traduzido para português. Se num dos seus livros anteriores, Rosa Candida (Marcador, 2016), Audur declamava uma espécie de ode contra os vikings, contra a antiga ideia de masculinidade — mostrando novas leituras dos papéis de pai e de amante — neste mais recente livro, e continuando a interrogar-se e a interrogar-nos sobre a ideia de masculinidade, conta-nos uma história de redenção de um homem que se perdeu de si mesmo, sem se aperceber, durante os anos de casamento. À beira de fazer 50 anos, Jónas Ebeneser está divorciado há algum tempo, o seu corpo já não tem a aparência de outrora que fazia com que as mulheres o desejassem, ele não tem um papel social de relevância, e tão-pouco vida sexual. Para complicar ainda mais as coisas, a ex-mulher informou-o de que a filha de ambos afinal não é sua filha biológica. A crise em que Jónas se encontra é profunda, e pensa no suicídio, à semelhança de alguns escritores que admira. E diz: “Para que eu sinta o meu corpo, terei de dar um tiro nele, de retalhar a minha carne com uma bala de aço. É assim que fazem os homens.” Mas não o quer cometer na Islândia, para não provocar mais dor à filha, e escolhe um país longínquo (nunca nomeado) de que apenas se sabe ter saído de uma guerra.

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