Greve climática: faltas de alunos podem ser justificadas pelos pais, dizem directores

Muitos directores garantem que protesto pelo clima não vai motivar faltas injustificadas, desde que encarregados de educação aprovem e desde que haja “bom senso”.

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Ines Fernandes

“Se um encarregado de educação disser que está de acordo com a participação do aluno na manifestação, não me passa pela cabeça ser eu a injustificar uma falta dessas.” Não podia ser mais claro o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira, na véspera da segunda greve pelo clima, marcada por estudantes. A generalidade dos directores, concorda com a premissa: desde que os pais aprovem, os jovens que participem nas manifestações convocadas para esta sexta-feira não terão falta.

Manuel Pereira acredita que a escola “não deixando de cumprir a lei, também não pode deixar de estar com os alunos”. E se uma das obrigações da educação é “estimular a capacidade crítica e de intervenção” dos estudantes e “há um conjunto de jovens preocupados com o planeta que vão receber”, não podem ser os professores “a colocar obstáculos”.

O que é preciso, defende o dirigente da ANDE, é que impere o “bom senso”. Esta é também a expressão a que recorre Rosário Queirós, que dirige o agrupamento Clara de Resende, no Porto, para comentar a participação dos alunos na greve climática marcada para esta sexta-feira: “Tem que haver bom senso.” E “se um pai me disser que está de acordo com esta falta do aluno, então está justificado”, concorda também aquela directora.

O presidente da outra associação de directores de escolas, a Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas, Filinto Lima, é o único dirigente escolar contactado pelo PÚBLICO a divergir desta interpretação. Não que esteja contra o protesto dos estudantes sobre e emergência climática. Apenas não encontra um caminho legal para justificar uma eventual falta dos alunos. “Não vejo como possam ser justificadas. Mesmo que o quisesse, em que me suportaria? Não existe um documento que sirva para justificar uma falta destas”, expõe.

De qualquer das formas, Filinto Lima acredita que os alunos não serão prejudicados pela participação nas manifestações desta sexta-feira e que, nos casos em que haja testes, os professores “serão sensíveis” e encontrarão outra data para que os alunos possam fazê-los. Dulce Chagas, directora do agrupamento de escolas de Alvalade, em Lisboa, deu mesmo indicações aos professores para que não marcassem momentos importantes de avaliação para este dia.

Ainda assim, esta directora “não se compromete à partida com uma decisão”. Apesar de ter dado “liberdade aos directores de turma” para justificarem as faltas dos alunos, estes têm que comprovadamente participar nos protestos pelo clima. “Não pode andar aqui ninguém a brincar”. Foi assim que aconteceu naquele agrupamento de Lisboa em Março, no primeiro destes protestos estudantis “e não houve problemas”. “Também não faltaram muitos”, conta.

Dulce Chagas acredita, porém, que, dois meses volvidos, “os alunos estão mais despertos” para a emergência ambiental. “Há mais consciência. Sente-se uma outra movimentação na escola”, conta. Porém, se isso terá ou não impacto numa maior mobilização para a greve desta sexta-feira é ainda uma incógnita. Sobretudo, porque o protesto acontece “numa fase derradeira do ano” em que os alunos estão muito focados nas notas finais e, no caso do ensino secundário, nos exames nacionais, que começam dentro de poucas semanas.

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