Berardo pede desculpa: “No calor da discussão excedi-me”

Um dos grandes devedores da CGD, Joe Berardo, admite que foi impulsivo durante a sua audição no Parlamento, mas alega que foi “sujeito a um intenso interrogatório regido por regras políticas”.

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LUSA/ANTÓNIO COTRIM

O investidor José Berardo veio esta tarde, através de comunicado dirigido à comunicação social, pedir desculpas pela sua actuação “impulsiva” e “não devidamente ponderada” durante a audição, no passado dia 10 de Maio, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que averigua os actos de gestão realizados na CGD — no lote das 25 operações que geraram as maiores perdas para a CGD estão dividas de Berardo. 

A reacção de Berardo surge na sequência do coro de protestos que se levantou ao mais alto nível, após a sua ida à Assembleia da República. Uma prestação que justificou uma declaração, por exemplo do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que pediu a Berardo “decoro” e “respeito pelas instituições”, enquanto o primeiro-ministro, António Costa, afirmou que o país estava “seguramente chocado com o seu desplante” e reclamou que pagasse à Caixa “o que deve”.

No comunicado, José Manuel Rodrigues Berardo (assim se identifica no documento) alega que esteve na CPI, “durante 5h e 30 minutos”, “sujeito a um intenso interrogatório regido por regras politicas que não domino, nem quero dominar”, e que desde aí “tenho servido de bode expiatório de todos os males do sistema financeiro português desde 2007”. Garante, no entanto, que “não o irá aceitar passivamente”.

O investidor admite que “no calor da discussão me excedi, dando algumas respostas impulsivas e não devidamente ponderadas”. Mas que essa não foi a sua intenção e não quis “ofender quem quer que seja, muito menos faltar ao respeito devido à Assembleia da República”. Mas deixa farpas aos deputados, a quem lembra que “não teve amnésia selectiva, como tem acontecido com frequência nesta Comissão”. Lamenta ainda que “quase ninguém” o tenha questionado sobre “o objecto dessa comissão, a Recapitalização da Caixa e os actos de gestão”.

Entre 2006 e 2007 Berardo foi financiado pela CGD para comprar acções do BCP, e entrar na guerra pelo poder dentro desta instituição, títulos que depois deu em garantia dos empréstimos. Dois financiamentos a sociedades da esfera de Berardo estão entre as 25 operações que geraram maiores perdas para a CGD. Em 2015, a auditoria da E&Y à CGD, detectou uma exposição à Fundação José Berardo de 268 milhões de euros e de 53 milhões à sua holding pessoal, a Metalgest.

Na acção executiva metida em Abril deste ano pelos seus maiores credores, a CGD, o BCP e o Novo Banco, reclama-se de Berardo o pagamento de 962 milhões de euros. Apesar da dimensão das dívidas, nomeadamente à Caixa, e segundo o Expresso, Berardo recebeu do Estado, nos últimos três anos, 48,3 milhões de euros em benefícios fiscais. A maior parte dos benefícios fiscais foram atribuídos à Empresa Madeirense de Tabaco (EMT), detida em 48,8% pela Fundação José Berardo.

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