Verão terá temperaturas médias acima do normal

Instituto Português do Mar e da Atmosfera confirma que a tendência aponta para temperaturas médias “acima do normal”.

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Temperaturas poderão chegar aos 43ºC em Portugal PAULO CUNHA/LUSA

Se as temperaturas começaram já a subir nalgumas zonas do país, permitindo até algumas idas à praia antes de o Verão chegar, será a partir do próximo mês que o calor virá para ficar. Quanto aos meses de Verão, ficarão marcados por ondas de calor prolongadas, com os termómetros a chegarem aos 43 graus Celsius durante vários dias. É o que dizem as previsões avançadas pelo site de meteorologia norte-americano Accuweather.

Contactado pelo PÚBLICO, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) confirma que as previsões apontam para temperaturas com valores acima da média. “De facto, as tendências que são conhecidas internacionalmente e que são aceites basicamente por todas as instituições de ciência dizem que os próximos verões vão ser períodos com valores, em termos médios, acima do que é normal”, explica ao PÚBLICO Ricardo Deus, responsável de climatologia e alterações climáticas do IPMA.

O que poderá acontecer, acrescenta o especialista, é que “em alguns pontos de observação se registem valores recorde de alguns parâmetros”, como a temperatura. “No Verão do ano passado várias estações meteorológicas registaram valores acima dos 40 graus. Portanto, eu acho que provavelmente este ano, e segundo as tendências apontam, poderemos ter um Verão com temperaturas acima da média e estações meteorológicas onde se registem valores acima desse patamar dos 40ºC”, nota o meteorologista do IPMA.

Já Eric Leister, meteorologista do Accuweather que assina o comunicado, defende que a partir de Junho, as previsões apontam para “pouca ou nenhuma chuva” na Península Ibérica. “A grande história do Verão”, como intitulam, poderão ser mesmo as ondas de calor que vão chegar a Portugal e Espanha, assim como à Polónia e à Hungria. “O calor vai começar em Junho na Península Ibérica antes de se estender para Norte e para Leste durante os meses de Verão”, afirma o especialista.

Além de mais intenso, este calor poderá ser mais prolongado do que no Verão passado, altura em que se registaram temperaturas recorde nalgumas regiões de Portugal, assim como na Bélgica, Holanda e Alemanha.

43ºC em Portugal e Espanha

“Mesmo quando as ondas de calor mais intensas passarem, será por pouco tempo, com as temperaturas a manterem-se perto ou acima do normal, antes de voltarem a subir para níveis perigosos novamente”, acrescenta o meteorologista do Accuweather​. Nalgumas regiões de Portugal, os termómetros poderão mesmo chegar a atingir os 43ºC ou mais durante vários dias seguidos.

O IPMA refere que para poder ser considerada uma onda de calor é necessário registarem-se “seis dias consecutivos com temperaturas máximas diárias superiores em cinco graus a um valor médio”, explica Ricardo Deus.

Neste sentido, o especialista destaca que as ondas de calor estão relacionadas com as alterações climáticas que, segundo é possível constatar, “têm vindo paulatinamente a gerar alguns fenómenos extremos”. Portanto, conclui — em linha com os cenários climáticos divulgados pelo IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas) —​, “estes dias com temperaturas máximas elevadas é algo com o qual teremos de conviver nos próximos anos”, visto que “todos os anos estes valores têm vindo a subir”.

O Accuweather acrescenta que no Norte de França, na Bélgica, Polónia e Hungria poderão registar-se temperaturas a rondar os 38ºC. Por outro lado, segundo informação do Accuweather, países como a Grécia, Sérvia, Roménia e Bulgária serão ameaçados por violentas tempestades, com ventos fortes, trovoada e chuvas torrenciais neste Verão.

E se, por enquanto, as noites permanecem ainda frias, nos próximos meses o calor deverá prolongar-se pela noite dentro, de acordo com a informação disponibilizada pelo Accuweather. O que, explica o site, poderá constituir um problema em habitações sem ar condicionado que não conseguirão arrefecer durante a noite, antes que o calor regresse no dia seguinte.

Risco de incêndio até Setembro

A par do calor e do tempo seco, sobe também o risco de incêndio, principalmente no Norte de Portugal, com implicações ao nível da qualidade do ar, de acordo com o Accuweather.

Depois de um Inverno e Primavera chuvosos, a vegetação teve condições para crescer, explicam os meteorologistas, o que poderá potenciar o risco de incêndio. As ondas de calor intenso e o clima seco poderão acabar por secar esta vegetação, com um “elevado risco de incêndio durante a segunda metade da estação”, alertam os especialistas do site norte-americano.

O perigo de incêndio prolongar-se-á até ao Outono — que começa a 23 de Setembro —, com o clima a manter-se quente. O calor intenso e a falta de chuva em várias partes da Europa poderão resultar em períodos de seca, ameaçando ainda a cultura agrícola.

Quanto ao risco de incêndio florestal, este está relacionado com a componente meteorológica e o valor da temperatura (além de outros parâmetros que são monitorizados por outras instituições), explica o IPMA. “É normal que se as temperaturas atingirem valores mais elevados, provavelmente os valores deste índice também serão mais elevados”, diz ao PÚBLICO Ricardo Deus.

Porém, o especialista do IPMA acrescenta que a questão do risco de incêndio está associada a uma previsão meteorológica a curto prazo, numa escala de dias. “Fazer uma previsão quantitativa para o período de Verão é algo que requer uma análise mais profunda e não é assim tão linear”, sublinha.

Não obstante, “se recuarmos um ano, podemos constatar que, de facto, o período de Verão tem-se estendido tendencialmente para épocas a que não estamos usualmente habituados”. “Se olharmos para o Verão do ano passado, verificamos que até meses como Outubro tivemos valores de temperaturas médias um bocadinho acima do normal. Portanto, tendo em conta esta tendência e os cenários de clima que o IPCC também já divulgou, é provável que haja um deslocar da época de Verão para períodos em que nós também não estamos habituados”, conclui Ricardo Deus.

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