Le Pen um ponto à frente de Macron nas sondagens para as europeias

As sondagens vinham a mostrar a líder de extrema-direita e a lista às europeias do Presidente francês empatadas - a tendência está a alterar-se para a vitória de Marine Le Pen, uma das peças da estratégia populista para estas eleições do ex-estratega de Trump, Steve Bannon.

Foto
Marine Le Pen com Matteo Salvini e outros líderes da extrema-direita no último fim-de-semana em Milão Alessandro Garofalo/REUTERS

Marine Le Pen e o Presidente francês Emmanuel Macron estão presos num ciclo de repetição eleitoral, após as presidenciais de 2017. A poucos dias das europeias, a vantagem parece estar com a líder da extrema-direita: uma sondagem BVA para a Europe 1 revelada esta quarta-feira diz que a União Nacional está um ponto à frente da lista da República em Marcha de Macron (23%-22%), confirmando a tendência expressa noutro estudo de opinião, divulgado segunda-feira, do Cevipof, Fundação Jean Jaurés e Le Monde (23,5-23%).

Macron empenhou-se pessoalmente nestas eleições. Quer reformar as instituições europeias e dar-lhes novo fôlego, moldando-as ao seu interesse. Em Março, dirigiu uma carta a todos os cidadãos da União Europeia, com o título “Por um Renascimento Europeu” – e, não é coincidência, a lista de eurodeputados que concorre às eleições pelo seu partido e pelo Modem (centrista), chama-se Renascimento.

O Presidente francês quer ter uma palavra muito activa na escolha dos próximos dirigentes das instituições europeias, em especial do próximo presidente da Comissão Europeia, aliando-se a líderes liberais e de esquerda como o primeiro-ministro português António Costa para formar uma nova aliança progressista no Parlamento Europeu. Há sinais de que Michel Barnier, o francês que foi o negociador-chefe do “Brexit” por parte da UE, pode ser a sua escolha. “É inegável que Barnier é um homem de grandes qualidades”, disse Macron ao jornal belga Le Soir.

Mas se não for o vencedor das eleições no seu próprio país, ainda que por muito pouco, perde poder argumentativo — face ao que se teme que seja um novo grupo de nacionalistas e anti-imigração, com Le Pen e o italiano Matteo Salvini — e sofrerá uma humilhação.

A campanha francesa da lista Renascimento tem então sido uma mobilização contra a União Nacional de Le Pen, cuja lista às europeias é liderada pelo jovem Jean Bardella, um nome desconhecido do grande público até agora. Com o caso da queda em desgraça – e saída da coligação governamental – do Partido da Liberdade (extrema-direita) na Áustria, outro elemento desta aliança populista transeuropeia, a proximidade de Le Pen à Rússia (o seu partido contraiu um empréstimo de nove mil milhões de euros a um banco russo – e a admiração por Vladimir Putin (que durante a campanha das presidenciais de 2007 foi recebida pelo Presidente russo no Kremlin) tem sido usada na campanha da lista de Macron.

Le Pen desconversa. “A Macronia em pânico cai num complotismo delirante”, reagiu Le Pen no Twitter. E Bardella apela ao “voto útil” contra o Presidente Macron, com mensagens directas aos que participaram no movimento dos Coletes Amarelos. “Pedimos aos franceses que nos ajudem a travar a política de Emmanuel Macron”, pede.

Na verdade, estas eleições europeias tornaram-se em grande parte uma disputa entre duas figuras que não se candidatam por qualquer lista e não estão nos boletins de voto: de um lado, o norte-americano Steve Bannon, o ex-director de campanha de Donald Trump transformado em articulador da estratégia de poder da extrema-direita europeia, que tem como peças Salvini e Le Pen.

Do outro lado está Emmanuel Macron, que é tudo menos observador imparcial destas eleições. Tem muito em jogo, não só para França mas também para construir a sua própria herança política.

Sugerir correcção
Ler 46 comentários