Dois anteriores prémios Camões elogiam Chico Buarque, um dos artistas mais conhecidos da língua portuguesa

Escritor e músico, Chico Buarque soube do prémio em Paris, onde está para comemorar o seu aniversário, em Junho.

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Luciana Whitaker/REUTERS

O anterior Prémio Camões, o escritor cabo-verdiano Germano Almeida, destacou a singularidade das canções de Chico Buarque que “fazem literatura”, ao comentar a atribuição ao músico e escritor brasileiro da mais importante distinção do universo da língua portuguesa.

Germano Almeida, que recebeu o prémio no ano passado, acrescentou à agência Lusa que a escolha do júri ao atribuir na terça-feira o prémio da 31.ª edição a Chico Buarque não desmerece o galardão. “Chico Buarque é um músico, mas muito particular. A sua música tem mensagem, tem poesia. Não é um cantor vulgar”, disse à agência Lusa.

Sobre a particularidade de Chico Buarque ser cantor, como aconteceu com Bob Dylan, Prémio Nobel da Literatura em 2016, o escritor cabo-verdiano reconheceu que poderá ser um sinal dos tempos: “Tudo está relacionado. Não há uma grande diferença nas diferentes formas de expressão. Romance, poesia e música contribuem para o mesmo — desenvolvimento da humanidade, maior alerta das situações.”

Chico Buarque, que está em Paris, segundo o jornal Folha de São Paulo, onde normalmente passa o seu aniversário que é a 19 de Junho, dia em que faz 75 anos, fez apenas uma declaração através de uma breve nota divulgada pela assessoria de imprensa. “Fiquei muito feliz e honrado de seguir os passos de Raduan Nassar”, referindo-se ao mais recente brasileiro a ganhar o prémio em 2016.

Também o poeta Manuel Alegre, que venceu o mesmo prémio em 2017, destacou a contribuição de Chico Buarque para a difusão da língua e da cultura portuguesas, como músico, poeta, autor de peças de teatro e romancista. “Ele tem qualidade como artista, como compositor, como cantor, mas, sobretudo, como autor com características variadas múltiplas, todas elas ricas e enriquecedoras da língua portuguesa e da difusão da língua portuguesa. É provavelmente uma das pessoas mais conhecidas hoje no mundo artístico de língua portuguesa”, disse Manuel Alegre, também em declarações à Lusa.

O poeta português deu os parabéns a Chico Buarque e mostrou-se “muito satisfeito”: “É um autor muito popular, e o facto de ser popular e de as suas obras chegarem longe, mostram que ser popular não é impeditivo de um autor poder ter qualidade e chegar ao Prémio Camões”, frisou Alegre.

Prémio Camões desde 1989:

Criado por Portugal e pelo Brasil em 1989, o Prémio Camões tem um valor de 100 mil euros. Na sua história, houve apenas uma recusa, a de Luandino Vieira, em 2006.

1989 - Miguel Torga, Portugal

1990 - João Cabral de Melo Neto, Brasil

1991 - José Craveirinha, Moçambique

1992 - Vergílio Ferreira, Portugal

1993 - Rachel Queiroz, Brasil

1994 - Jorge Amado, Brasil

1995 - José Saramago, Portugal

1996 - Eduardo Lourenço, Portugal

1997 - Pepetela, Angola

1998 - António Cândido de Mello e Sousa, Brasil

1999 - Sophia de Mello Breyner Andresen, Portugal

2000 - Autran Dourado, Brasil

2001 - Eugénio de Andrade, Portugal

2002 - Maria Velho da Costa, Portugal

2003 - Rubem Fonseca, Brasil

2004 - Agustina Bessa-Luís, Portugal

2005 - Lygia Fagundes Telles, Brasil

2006 - José Luandino Vieira, Portugal/Angola

2007 - António Lobo Antunes, Portugal

2008 - João Ubaldo Ribeiro, Brasil

2009 - Arménio Vieira, Cabo Verde

2010 - Ferreira Gullar, Brasil

2011 - Manuel António Pina, Portugal

2012 - Dalton Trevisan, Brasil

2013 - Mia Couto, Moçambique

2014 - Alberto da Costa e Silva, Brasil

2015 - Hélia Correia, Portugal

2016 - Raduan Nassar, Brasil

2017 - Manuel Alegre, Portugal

2018 - Germano Almeida, Cabo Verde

2019 - Chico Buarque, Brasil

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