Áustria pode ficar sem Governo segunda-feira - chanceler enfrenta moção de censura

Se a oposição votar contra Sebastian Kurz, a Áustria ficará mais de três meses com um governo de gestão - algo sem precedentes.

Foto
Kurz e Van der Bellen: o Presidente diz que em alturas como esta "é que se pode ver a beleza da Constituição". CHRISTIAN BRUNA/EPA

O chanceler austríaco, o conservador Sebastian Kurz, vai enfrentar na segunda-feira uma moção de censura no Parlamento na sequência do escândalo do vídeo que envolveu o seu antigo parceiro de coligação, o partido de extrema-direita FPÖ. Kurz arrisca ver-se afastado do Governo e o país ficar entregue a um governo de gestão até à tomada de posse do Executivo que sair das eleições antecipadas marcadas para Setembro.

A moção foi apresentada pelo mais pequeno partido com assento parlamentar (o ecologista de esquerda Jetzt (Já), com sete lugares em 183), na sequência da saída dos ministros do partido de extrema-direita que governava há 17 meses com Kurz.

O FPÖ caiu em desgraça após a divulgação, na sexta-feira passada, de um vídeo em que o seu líder e vice-chanceler, Heinz-Christian Strache, foi apanhado a discutir formas de contornar a lei de financiamento dos partidos em troca de potenciais contratos públicos inflacionados a uma suposta milionária russa, e ainda meios para controlar os media na Áustria, chamado aos jornalistas “prostitutas”.

A divulgação das imagens de parte da conversa regada a álcool numa casa de férias em Ibiza provocou um enorme sentimento de vergonha e protestos espontâneos em Viena (no discurso de demissão, no sábado, Strache desvalorizou o seu comportamento: “Foram cenas de copos”, disse).

O chanceler, Sebastian Kurz, quebrou a coligação e pediu eleições antecipadas. Mas está a ser muito criticado por ter formado governo com o FPÖ, por não ter desistido da coligação mais cedo depois de sinais de alarme, e muitos comentadores e políticos repetem: “tínhamos avisado” que não era boa ideia governar com a extrema-direita.

O Presidente, que é quem demite membros do Governo, seguiu a recomendação de Kurz e afastou esta terça-feira o ministro do Interior, Herbert Kickl (cujo ministério tem a tutela da investigação que agora decorre às finanças do seu partido). Os restantes ministros do partido demitiram-se em protesto pelo afastamento de Kickl, como tinham prometido: o dos Transportes, Norbert Hofer (antigo candidato presidencial e novo líder do partido) e ainda os titulares da Defesa e Assuntos Sociais.

A ministra dos Negócios Estrangeiros, Karin Kneissl, independente mas nomeada pelo FPÖ, mantém-se no cargo – a ministra casou no ano passado e teve um convidado destacado, o Presidente russo, Vladimir Putin, com quem dançou e a quem fez uma vénia. Kneissl é uma as protagonistas da proximidade do partido com a Rússia, que não é segredo: o FPÖ tem um acordo de cooperação formal com o partido Rússia Unida, no Governo russo.

Antes de sair, o ministro do Interior ainda assinou um regulamento impondo um limite máximo de 1,5 euro por hora para renumeração de trabalho voluntário feito por requerentes de asilo.

Os ministros vão ser substituídos por técnicos, e falando aos jornalistas ao lado do chanceler, o Presidente, Alexander Van der Bellen, aconselhou serenidade no meio da tempestade política na Áustria: “Não há razões para preocupação”, disse. “É em alturas como estas que se pode ver a elegância e a beleza da Constituição.”

Quanto a Kurz, o seu destino na segunda-feira, o dia após as eleições europeias, poderá ser definido pelo Partido Social-Democrata (SPÖ). Tirando a extrema-direita, que já anunciou que votará a favor da moção, os social-democratas e os liberais ainda não disseram o que planeiam fazer. O SPÖ tem criticado Kurz e apoiado a ideia de um governo de transição novo até às eleições, e a moção de censura teria precisamente este efeito. Três meses com um governo deste género seria uma situação sem precedentes no país.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários