(Mais) um fim-de-semana para celebrar Serralves (e os dois aniversários redondos que comemora este ano)

Emmanuelle Huyhn e MC Carol, Joan Jonas e Adrian Sherwood, Miguel Pereira e Dur Dur Band: a 16.ª edição do Serralves em Festa promete mais um programa de apelo transversal, e o regresso de alguns artistas que marcaram as edições anteriores.

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Lais Pereira

Celebrar Serralves. Este é o mote e o objectivo da programação do Serralves em Festa de 2019, apresentada esta terça-feira por Ana Pinho, presidente do conselho de administração da Fundação de Serralves, Philipe Vergne, o recém-chegado director do museu, e os responsáveis pelo programa do evento. O pontapé de saída desta edição “especial”, que coincide com as celebrações do 30.º aniversário da fundação e do 20.º do museu, será dado no dia 31 de Maio, às 18h, com uma conversa, Post: The Works of Art in the Age of Social Reproducibility, em que o curador italiano Francesco Bonami debaterá com Philippe Vergne o lugar da produção artística num mundo dominado pelas lógicas populares (e populistas?) das redes sociais.

Do longo fim-de-semana de portas abertas que entre 31 de Maio e 2 de Junho levará nova enchente a Serralves consta também a estreia absoluta de The Big Show SEF, de Miguel Pereira, uma peça que o coreógrafo está a criar especificamente para a ocasião e que, através de memórias e testemunhos de espectadores e artistas convidados, passa em revista alguns dos melhores momentos das 16 edições anteriores do Serralves em Festa. “Trata-se de uma peça original que promete celebrar estes aniversários e que pretende trazer as pessoas para o espírito do festival”, explicou Cristina Grande, responsável pelo serviço de Artes Performativas da fundação.

Nas artes performativas, destacam-se também Cribles Live Porto, de Emmanuelle Huynh — outra criação especial para o Serralves em Festa, a partir de uma anterior peça da coreógrafa já ali apresentada —, e Mirror Piece II, de Joan Jonas. Esta última prevê, através do uso de espelhos, a “multiplicação das perspectivas do público presente e daquilo que este irá observar”, induzindo uma série de questões sobre as fronteiras entre realidade e representação —  um momento que Cristina Grande antecipa como “particular e histórico”. A artista norte americana inaugura, já esta sexta-feira, uma exposição que poderá ser vista ininterruptamente durante as 50 horas do festival.

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Rob Jones

Em linha com o que aconteceu nos últimos dois anos, as artes circenses também vão marcar presença, desta vez com La Spire, de Chloé Moglia e Cia Rizhome, uma peça que conjuga acrobacias com poesia e que tem o céu como cenografia. A performance terá como base de apoio uma “escultura-objecto” idealizada pela artista, ocupada por “um grupo de seis acrobatas que convidam o público a seguir a evolução ascendente desta espectacular acrobacia aérea”.

Nas escolhas musicais, sobressaem os HHY & The Macumbas, presença marcante da actual cena musical portuense, que para o Serralves em Festa se vão fazer acompanhar do histórico produtor britânico Adrian Sherwood. Nídia, produtora e DJ lisboeta que tem desenvolvido um trabalho muito pessoal entre o kuduro e o tecno com reconhecido impacto internacional, e a brasileira MC Carol, nome fundamental do funk brasileiro e do activismo contra a discriminação sexual e de género, são outros dos destaques do programa deste ano.

A referência a temas da actualidade foi aliás uma das preocupações dos programadores do evento, que também se reflecte nas escolhas musicais. A presença da Dur Dur Band, por exemplo, um grupo proveniente da Somália que se tornou famoso na década 80 mas teve de abandonar o território aquando da irrupção de um conflito civil em 1991, traz ao Serralves em Festa a questão migratória: a obra da banda, repleta de funk e soul, é uma memória viva da perseguição aos artistas do país, que se estendeu a várias etnias.

Para além da Somália, estima-se que mais 19 países estejam representados na edição deste ano do Serralves em Festa. A diversidade é uma necessidade primordial de um evento que pretende ter um carácter nacional e internacional e que quer, ano após ano, cimentar o seu estatuto de “maior evento de cultura contemporânea em Portugal e um dos maiores a nível internacional”. Em 2018, um novo recorde de público foi batido, com 250 mil pessoas a passarem por Serralves durante as 50 horas da iniciativa.

As actividades educativas, uma das imagens de marca do Serralves em Festa, também não vão faltar nesta edição, com o destaque a ser dado à partilha, nomeadamente nas oficinas Memória Rendilhada, Talheres Dançantes e Paisascópio.

O Serralves em Festa pode já estar a caminho da maioridade, mas esta será a primeira edição para Philippe Vergne, que assumiu a direcção do Museu de Serralves apenas em Abril. O novo director partilhou com os jornalistas a sua surpresa perante a dimensão do evento e a abrangência do programa, repleto de artistas com grande notoriedade. Vergne confessou-se especialmente agradado com a gratuidade da iniciativa, que encara como “um presente para a cidade e uma forma lhe devolver” tudo o que tem dado à instituição.

À semelhança do que tem acontecido nos últimos anos, as actividades do Serralves em Festa têm início na noite de sexta-feira (31 de Maio) e prolongam-se até ao fim da tarde de domingo (2 de Junho). Texto editado por Inês Nadais

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