Angela Merkel, ainda a mais desejada

Por que tanta gente continua a gostar da chanceler alemã, que está de saída da política?

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Angela Merkel tem a saída anunciada para 2021 OMER MESSINGER/EPA

Ela nega, mas as especulações continuam. Talvez signifiquem, afinal, que muita gente a Europa ainda não está preparada para a sua saída de cena. Oficialmente, esse momento só deverá acontecer em Setembro de 2021, não deveria acontecer antes de Setembro de 2021, quando os alemães escolhem um novo Bundestag e, portanto, a sua próxima chanceler (ou o próximo). Mas correm também rumores de que a sua saída poderia ser abreviada. A sua sucessora designada, Anegrette Kremp-Karenbauer, diz que não. Mais uma vez, nunca se sabe.

Merkel chegou à liderança da CDU em 2000, depois de afastar com rudeza todos os potenciais candidatos à sucessão de Helmut Kohl. Venceu as eleições em 2005 por uma unha negra, contra Gerhard Schroeder, o então chanceler do SPD. Voltou a ganhar mais três vezes: vai no seu quarto mandato e já superou a longevidade de Kohl. Marcou duas estreias absolutas: a primeira mulher chanceler e a primeira que vinha do Leste.

Apanhou ventos de feição, graças às reformas económicas e sociais do seu antecessor. Começou por hesitar sobre a necessidade de uma estratégia conjunta da União Europeia para fazer face aos efeitos destruidores da crise financeira de 2008 e para evitar que se transformasse numa Grande Depressão. Houve apenas uma Grande Recessão. Nunca viu com bons olhos a injecção maciça de dinheiro nas economias para contrariar os efeitos da crise. Logo que pode, tomou o comando da resposta às sucessivas crises que se abateram desde aí sobre a Europa: da dívida, do euro, dos refugiados. Impôs duríssimas políticas de austeridade aos países que a dívida tornou particularmente vulneráveis, a troco da ajuda financeira. Capitaneou a profunda reforma das regras da união monetária, para torna-las à prova de incumprimento. Manteve os seus eleitores satisfeitos com a lógica da “punição” aos infractores.

Vista como o rosto da austeridade por muitos europeus, poderia ter-se transformado numa figura detestada. Nada disso aconteceu. Porquê? Porque manteve duas convicções tão fortes, que até os mais críticos se vêem forçados a admirar: na Europa e na liberdade. Até aos 34 anos, foi cidadã da Alemanha de Leste. Da sua rua, via-se ao fundo o Muro de Berlim. Porque abriu os braços a um milhão de refugiados. Em nome dos valores europeus.

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