Câmara do Porto vai abrir polo cultural na extinta Fundação Eugénio de Andrade

Autarquia chegou a acordo com herdeiros do poeta, que Rui Rio tentou despejar em 2011. Há planos para ali fazer um projecto de “índole cultural”

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Fundação Eugénio de Andrade foi extinta em 2011 Adriano Miranda

A novela tem muitos anos e envolve costas voltadas e desentendimentos duradouros entre a Câmara do Porto e os herdeiros do poeta Eugénio de Andrade. Mas parece ter agora um desenlace feliz. O executivo de Rui Moreira chegou a acordo com os ocupantes do imóvel, que aceitaram mudar-se para outra casa, também propriedade municipal, e vai ocupar o número 584 da Rua do Passeio Alegre.

A proposta vai ser votada na próxima reunião camarária e revela que “a direcção municipal de cultura pretende utilizar o imóvel para fins de índole cultural”, lê-se na proposta. O espaço, onde funcionou até 2011 a Fundação Eugénio de Andrade, extinta nesse ano, deverá estar “aberto aos restantes munícipes com aproveitamento do edificado na sua totalidade”, algo que “não se coaduna com a utilização habitacional de parte do edifício”. Que tipo de projecto será ali instalado a Câmara do Porto não quis adiantar, mas ao que o PUBLICO apurou não está em cima da mesa a reactivação da Fundação mas sim a criação de um novo pólo de cultura naquele espaço.

O piso térreo do edifício está, desde o início do ano, a ser utilizado para espectáculos pontuais de algumas companhia, com gestão da junta de freguesia local. Mas a utilização de todo o espaço forçará a autarquia a fazer obras significativas na casa.

A escritura pública de cedência gratuita, em direito de superfície, da chamada “Casa de Serrúbia” foi feita pela autarquia em 1997, ainda pelo presidente Fernando Gomes, para ali se instalar a Fundação Eugénio de Andrade. Mas quando a fundação foi extinta, em Setembro de 2011, um problema ganhava forma. Ainda nesse ano, a poucos dias do Natal, Rui Rio comunicava à família adoptiva do poeta, cujo espólio está na Biblioteca Municipal, ​a intenção de os despejar. Gervásio e Ana Maria Moura, pais do afilhado de Eugénio de Andrade, Miguel, habitavam no 2.º andar do edifício da fundação, tal como previa o protocolo firmado com a câmara, que concedia o usufruto gratuito do andar por um período de 70 anos. A família do poeta contestou e acabou por ganhar o processo, em 2015, provando ter o direito de ali habitar. 

Esse era, de resto, o desejo de Eugénio e foi condição para a sua mudança para a Foz do Douro. Numa entrevista ao PÚBLICO, em 1992, o poeta, falecido em 2005, dizia que só aceitaria viver no edifício da Fundação se lá morassem também o afilhado e os pais deste.

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