Lage imita Vitória e coloca Benfica como “rei da cambalhota”

Os registos dos campeonatos nacionais desde 1995 (introdução dos três pontos por vitória) dão ao Benfica supremacia nas recuperações heróicas. Indo mais atrás na história, os “encarnados” também são os “reis” das segundas voltas.

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João Félix, no Dragão, no jogo que permitiu ao Benfica subir à liderança da Liga. LUSA/JOSE COELHO

O Benfica é o campeão nacional, mas, para lá chegar, teve de recuperar sete pontos de desvantagem, nesta temporada. Segundo os dados recolhidos pelo PÚBLICO, esta façanha faz dos “encarnados” a única equipa a fazer hat-trick em matéria de recuperações de, no mínimo, cinco pontos.

Desde 1995, ano em que a vitória passou a valer três pontos, o Benfica já conseguiu ser campeão depois de recuperar cinco, sete e oito pontos.

Não se pense, ainda assim, que os lisboetas têm o “exclusivo” das recuperações históricas. Apesar de serem os únicos com três registos acima dos cinco pontos recuperados, os “encarnados” têm a companhia de um Sporting valente, na viragem do século, e de um Boavista heróico, também por essa altura.

2018/19 - Lage corrigiu o que Vitória lhe deixou

À jornada 15, o Benfica visitou Portimão para enfrentar um Portimonense em boa forma e perto dos lugares europeus. A equipa de Rui Vitória parece ter ligado pouco ao “cartão-de-visita” algarvio e saiu de Portimão com uma derrota por 2-0.

Consequências: Rui Vitória foi despedido e Luís Filipe Vieira colocou na mão de Bruno Lage um Benfica a sete pontos do FC Porto.

Os “dragões” escorregaram em Alvalade, Guimarães e Moreira de Cónegos, permitindo a aproximação a um Benfica que saltou para a liderança na visita ao Estádio do Dragão, na jornada 24. E nunca mais foi apanhado.

2015/16 – Vitória, Vitória, ficaram na história

O pináculo deste registo do Benfica foi em 2015/16, com Rui Vitória, ano em que, à jornada 13, tinha oito pontos de atraso para o Sporting.

Com menos um jogo do que os “leões”, o Benfica empatou com o União da Madeira, no acerto do calendário, um deslize que, no entanto, fez com que a desvantagem “real” fosse de sete pontos. Recuperada na totalidade nas 21 jornadas que faltavam.

2013/14 – Jesus tramado e ajudado pelo Belenenses

Antes disso, em 2013/14, com Jorge Jesus, os “encarnados” estiveram a cinco pontos do FC Porto, entre as jornadas 6 e 8. Curiosamente, essa diferença foi feita e desfeita com cortesia do Belenenses de Marco Paulo.

Primeiro, os “encarnados” empataram (1-1) na recepção aos “azuis”, no Estádio da Luz. Duas jornadas depois, a equipa belenense recebeu o FC Porto no Restelo e, com um empate igual, “devolveu” ao Benfica aquilo que lhe tinha tirado: ter “apenas” três pontos de desvantagem para o FC Porto de Paulo Fonseca. Diferença recuperada no que restou da época e Fonseca foi despedido.

1999/00 – Um fim digno para o jejum

Em 1999/00, após 18 anos sem o título nacional, o oásis da festa “leonina” terminou em grande estilo. Ou não tivesse o Sporting recuperado sete pontos de desvantagem para o Benfica, diferença que, à jornada 7, fazia parecer o mais do que provável prolongar do jejum dos “leões”.

A derrota do Sporting em Alverca, por 2-1, cunhou os tais sete pontos, desvantagem desfeita logo na jornada seguinte, com uma derrota “encarnada” no Bessa.

O Sporting acabou por se sagrar campeão e dar o “aperitivo” para a “imitação” do Boavista, no ano seguinte.

2000/01 – “Boavistão” em tudo

Os portuenses conquistaram o único título nacional que têm no museu depois de uma recuperação de oito pontos, em 2001.

À jornada 12, o Boavista visitou Alvalade, somando um geralmente satisfatório empate a zero, mas que, à data, deixava a equipa portuense a oito pontos do líder FC Porto.

Para bem dos pecados “axadrezados”, a jornada seguinte trouxe uma derrota dos “dragões” de Fernando Santos, em Braga – marcaram Riva e Barroso para os minhotos e Esquerdinha para os portistas.

Foi aqui que começou a recuperação do Boavista: o FC Porto ainda perderia em Leiria, antes da visita amaldiçoada ao Bessa, que valeu à equipa de Jaime Pacheco uma vitória por 1-0 (marcou Martelinho) e consequente salto para a liderança da Liga.

Nota, ainda, para as valorosas – ainda que menos impressionantes – recuperações de cinco pontos operadas pelo FC Porto em 2005/06, 2008/09 e 2011/12.

Benfica também é “rei” das segundas voltas

Como curiosidade, o PÚBLICO analisou, ainda, as recuperações após a viragem da primeira volta. Neste capítulo – e incluindo o registo total do campeonato nacional, e não apenas após a introdução dos três pontos por vitória –, o Benfica também foi a única equipa a conseguir ser campeã após ter uma desvantagem acima dos cinco pontos no final da primeira volta.

Em 1970/71, o Benfica de Jimmy Hagan chegou a meio do campeonato em quarto lugar, a seis pontos do Sporting de Fernando Vaz. Pelo meio, ainda havia V. Setúbal e Académica.

Nessa temporada, o Benfica e o FC Porto, apesar dos seis e oito pontos de desvantagem a meio do campeonato, fizeram recuperações tremendas, que valeram aos “encarnados” o título nacional – 12 vitórias e uma derrota na segunda volta – e aos “dragões” a subida do sexto para o terceiro lugar, pouco atrás do Sporting.

Em termos de contagem geral, considerando todos os campeões que não lideravam a meio do campeonato, o Benfica é, também, o “rei” das segundas voltas.

Os “encarnados” foram campeões sete vezes depois de chegarem a meio do campeonato fora da liderança, contra as cinco do FC Porto, quatro do Sporting e uma do Belenenses.

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