A visita de Marisa a uma cuidadora informal para defender a urgência de um estatuto

José Soeiro, que acompanhou a eurodeputada nas iniciativas desta quinta-feira, espera que dia 24 haja um texto comum sobre a matéria.

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Marisa Matias andou pelo Porto na tarde desta quinta-feira LUSA/JOSÉ COELHO

Luísa Vieira não se importa de abrir a porta de casa a Marisa Matias, já a conhece das lutas pelos direitos dos cuidadores informais. Na sala de estar, recebe a cabeça de lista do Bloco de Esquerda às eleições europeias e o deputado José Soeiro que, no Parlamento nacional, tem representado o partido nas negociações para a criação de um Estatuto do Cuidador Informal. Luísa Vieira não se importa de abrir as portas de casa e de contar a sua história, quer dar voz a quem se sente desamparado pelo Estado: há muitos anos que cuida do marido, com Alzheimer, sem quaisquer apoios.

Trabalhava num supermercado, mas, depois do diagnóstico do marido e de tentar compensar o orçamento familiar com algumas limpezas, acabaria por, em 2010, deixar tudo para cuidar, 24 horas por dia e sem descanso, do marido. Vivem da reforma e do complemento de dependência que ele recebe: aos 410 euros juntam-se 105. Se não fossem as ajudas familiares, Luísa Vieira admite que não conseguiria fazer face a tantas despesas, até de saúde.

Já para poder descansar, conta o apoio dos dois filhos em dois dias da semana e, nos outros, o marido está algumas horas num centro dia. Argumenta que o descanso ao cuidador é pago, na rede pública de cuidados continuados, mas chega a custar 30 euros por dia, não tinha esse dinheiro. Quando tem algum tempo livre, vai a Matosinhos comer um gelado, com uma amiga, sabe-lhe muito bem o passeio, mesmo que esteja uma ventania desgraçada no Porto, onde vive.

A visita que os bloquistas fizeram nesta quinta-feira a Luísa Vieira serviu para alertar para a importância de se chegar a um consenso na Assembleia da República para a criação de um Estatuto do Cuidador Informal que acautele alguns direitos para estas pessoas que, em Portugal, se estima que sejam 800 mil, sublinha Marisa Matias. O que Luísa Vieira mais precisava, diz, era de apoio financeiro, mas também psicológico.

José Soeiro espera que no final da próxima semana, dia 24, seja possível entregar um texto comum aos partidos sobre o tema. E que, em negociação, estão questões como dar aos cuidadores a possibilidade de o descanso ser feito, sem pôr a pessoa de quem se cuida na rede de cuidados continuados, mas através do apoio domiciliário. Outro ponto em negociação, continua, passa por tentar acautelar, através do seguro social voluntário, uma carreira contributiva para os cuidadores que, não trabalhando, não descontam. O deputado também acredita que vá ser possível chegar a acordo para atribuir a estes cuidadores, que se despedem do trabalho, o equivalente a um subsídio de desemprego, ao qual não têm direito.

Marisa Matias – que há nove anos trabalhou na estratégia europeia de combate ao Alzheimer e outras doenças e que considera que há países da União Europeia mais avançados nesta matéria do que Portugal – não tem dúvidas da pertinência da questão, até pelo aumento das demências em vários países: “Estas pessoas cuidam dos outros e não têm ninguém que cuide delas.”

Por não acautelar todas as questões que o BE defende, como a conciliação dos cuidados com a profissão, Marisa Matias refere-se, para já, ao que considera ser a primeira versão de um estatuto, que espera ver aprovado ainda nesta legislatura, mas que deseja que venha a ser mais ambicioso. 

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