João Ferreira jantou com 400 mulheres porque “não é ainda o tempo da igualdade”

Mulheres comunistas receberam candidato da CDU e líder do PCP quase em apoteose. Ferreira desafiou os outros partidos a reverem a sua posição sobre propostas para melhorar a conciliação entre a vida profissional e familiar para as mulheres.

Foto
LUSA/ANTÓNIO COTRIM

O jantar terminou com um poema recitado a Jerónimo de Sousa, mas era o aplauso ao candidato ao Parlamento Europeu que estava em jogo na Casa do Alentejo, onde cerca de 400 mulheres apoiantes da CDU encheram os dois salões principais nesta noite de segunda-feira. João Ferreira não se fez rogado - embora se tenha feito esperar. Os discursos estavam previstos para as nove da noite, mas aconteceram uma hora depois, embora ninguém tenha regateado os elogios às mulheres e a defesa incondicional de mais direitos e, sobretudo, igualdade.

Por que é que a CDU quis marcar o arranque da campanha com um jantar de apoiantes mulheres, questionou-se João Ferreira? A resposta veio logo a seguir: porque “este não é ainda o tempo da igualdade” e nesse campo, acrescentou o candidato, como dizia Ary dos Santos, este não é ainda o tempo em que as coisas “se tornam naquilo que a gente quer”. “Este não é ainda o tempo da liberdade em que estejamos, homens e mulheres, juntos em pé de igualdade.”

João Ferreira apelou sucessivamente ao voto na CDU falando ao coração e à razão da mulheres. Falou nos seus direitos de igualdade salarial, de direitos laborais, económicos, sociais, culturais; lembrou que são as mulheres quem mais sofre com o desemprego, com a pobreza, com restrições no direito à saúde, com a falta de conciliação da vida familiar com a profissional, com a violência - seja doméstica, de género ou através da exploração sexual.

E lembrou que também nos direitos das mulheres a realidade é muito díspar nos 28 Estados-membros. Isso mesmo foi assinalado num relatório da também comunista Inês Zuber, que deixou entretanto o seu lugar de eurodeputada. João Ferreira assinalou que Zuber elaborou um relatório que ficou célebre mas não pelas melhores razões. Apesar de fazer um diagnóstico muito fiel das várias realidades nos diferentes Estados-membros e de fazer recomendações para que o cenário de extremas desigualdades fosse mudado ou atenuado, o relatório acabou por ser chumbado pela direita e alguma social-democracia, lembrou João Ferreira.

João Ferreira foi muito aplaudido durante o discurso e tinha sido quase ovacionado quando, junto com Jerónimo de Sousa foi anunciado na sala. Juntos percorreram os dois salões repletos de mulheres, ao som dos gritos “CDU, CDU” que ecoavam já na rua das Portas de Santo Antão. Passearam por entre as mesas e distribuindo beijos e abraços como os noivos fazem nos casamentos - mas aqui até com mais histeria. Na mesa de João Ferreira ficou boa parte das mulheres da lista ao Parlamento Europeu e também, por exemplo, a deputada Rita Rato. No final, as mulheres leram a Jerónimo de Sousa um poema de Daniel Faria. 

"As mulheres aspiram a casa para dentro dos pulmões
E muitas transformam-se em árvores cheias de ninhos – digo,
As mulheres – ainda que as casas apresentem os telhados inclinados
Ao peso dos pássaros que se abrigam.”

Sugerir correcção
Comentar