Marisa Matias: “ataques”, “engraçadinhos” e “piadas” só ajudam à abstenção

“Temos todos e todas a percepção que estas eleições já são uma espécie de antecipação do que vai acontecer em Outubro. Não vale a pena fingir que não sabemos que assim vai ser”, disse Marisa Matias que arrancou a campanha oficial numa escola em Lisboa.

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Marisa Matias volta a ser a cabeça de lista do BE às europeias LUSA/ANTÓNIO COTRIM

A altura não a impediu de se sentar nas pequenas cadeiras ao lado das crianças da Escola Básica Maria Barroso, em Lisboa, no meio dos desenhos coloridos que pintavam. A eurodeputada e cabeça de lista do Bloco de Esquerda às eleições europeias, Marisa Matias, também foi ao recreio e tentou perceber as regras do jogo que ali se brincava. Mas acabaria por admitir à garotada que correr não era o seu forte. Gostando ou não, a bloquista já está na corrida para o Parlamento Europeu e arrancou a campanha oficial em Lisboa, apelando a outro tipo de debate entre candidatos.

“Sinceramente acho que devíamos estar a discutir política. Por muito que não seja tão engraçadinho discutir política como fazer essas trocas de mensagens e acusações pessoais. Não é através de ataques pessoais que vamos conseguir esclarecer seja o que for, prestar contas em relação seja ao que for”, respondeu já à porta da escola, quando questionada pelos jornalistas sobre a troca de acusações entre centristas e socialistas neste fim-de-semana – a presidente do CDS, Assunção Cristas, atacou Pedro Marques, a “má cara do candidato do PS” às europeias, em resposta a António Costa que criticou os “candidatos engraçadinhos” da direita.

“Devíamos concentrar-nos na discussão daquilo que são as propostas, o que fizemos, a avaliação do trabalho. Assim, as pessoas percebem quais são as diferenças das propostas a eleições. De outra forma, estamos a ver quem diz a melhor piada? Quem ataca melhor a outra pessoa? Isso não acrescenta nada. Isso só acrescenta uma coisa: abstenção”, afirmou ainda Marisa Matias.

Ambiente

O Bloco arrancou a campanha oficial nesta manhã, numa iniciativa que não contou com a coordenadora do partido, Catarina Martins. Ao escolher visitar esta escola, na baixa de Lisboa, Marisa Matias aproveitou também para agitar uma das principais bandeiras do partido: o ambiente. A Escola Maria Barroso foi inaugurada em 2017, ocupa uma parte do edifício do antigo Tribunal da Boa-Hora, e chegou às notícias, não pelas melhores razões: na escola mais moderna da cidade, os alunos comiam em recipientes de plástico.

Quando foi inaugurada e recebeu os primeiros alunos, a escola não tinha a potência eléctrica necessária nem para cozinhar, nem para lavar pratos. Por isso, as cerca de 100 crianças do jardim-de-infância e do primeiro ciclo comiam em recipientes de plástico fornecidos por uma empresa, com talheres e copos igualmente de plástico. Agora já não há plástico na cantina e a comida é feita na escola. Marisa Matias pergunta pela ementa: arroz de polvo. O aroma no ar não enganava.

Sentada na sala dos mais pequeninos ou a conversar com a miudagem agitada no recreio ao ar livre, Marisa Matias sabe que não são estes cidadãos de palmo e meio que lhe vão dar votos. Não foi à procura disso, mas de mostrar que as mudanças são possíveis. “Há cerca de um ano, as associações de pais fizeram uma manifestação para se acabar com o plástico e a má qualidade das refeições que havia nesta escola. Hoje em dia, já temos em Lisboa cinco mil crianças que já não têm de estar a comer com plásticos descartáveis, nem refeições de má qualidade e baixo valor nutricional”, lembrou a candidata, sublinhando que tal permitiu “reduzir 50 toneladas em termos da produção de plásticos”. Além disso, o facto de as refeições passarem a ser feitas na escola, com recurso a “produtores locais”, também reduz o impacto ambiental e aumenta a “qualidade” da comida, nota a bloquista. A candidata defende, porém, que as mudanças não acontecem apenas por “comportamentos individuais”, “é preciso regulação”.

No final da visita e ao lado do vereador do BE em Lisboa, Manuel Grilo, Marisa Matias voltou a responder à pergunta que se tem vindo a fazer desde que o calendário começou a aproximar-se da data das europeias. Estas eleições vão ser um ensaio para as legislativas? Marisa Matias voltou a admitir que sim: “É inevitável que haja uma relação entre as eleições até porque as políticas europeias estão relacionadas com as nacionais.” E, sem rodeios, acrescentou: “Temos todos e todas a percepção de que estas eleições já são uma espécie de antecipação do que vai acontecer em Outubro. Não vale a pena fingir que não sabemos que assim vai ser.”

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