João Ferreira responde a Rio: se o fascismo nunca existiu em Portugal… “estamos conversados”

Candidato da CDU insiste na “batalha do esclarecimento, mobilização e informação” para “não dar força a Rui Rio para andar para trás ou dar ao PS a força que pretende para se livrar dos condicionamentos à sua esquerda”.

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LUSA/TIAGO PETINGA

Foi uma forma airosa de não responder directamente à pergunta sobre o que sente ao ver o PCP apelidado de partido da extrema-esquerda por Rui Rio. João Ferreira preferiu, primeiro, dizer que o PSD é que andou a “impor retrocessos aos portugueses e a tentar convencê-los que era empobrecendo as pessoas que o país ia ficar melhor”. Mas perante a insistência dos jornalistas, o candidato da CDU afirmou que ouvir Rui Rio dizer há pouco tempo “que nunca existiu fascismo em Portugal”. “Uma pessoa que afirma isto… diz muito sobre o seu referencial político e ideológico. Estamos conversados.”

“Alguém que nega que em Portugal existiu a mais longa ditadura da Europa, uma ditadura fascista… não é preciso muito mais. Todo o seu referencial [de Rio] é elaborado a partir desta posição. Estamos conversados sobre o posicionamento político e ideológico de Rui Rio”, insistiu João Ferreira.

“A prática é o melhor critério da verdade e a CDU, independentemente do qualificativo que Rui Rio possa usar para caracterizar a CDU, está associada nestes últimos anos a todas e cada uma das medias que permitiram melhorar a vida das pessoas e que introduziram alguma justiça social”, acrescentou. Para logo a seguir corrigir-se: “Pouca [justiça social], porque não tivemos um Governo de esquerda, mas sim um Governo minoritário do PS” a que a CDU apenas conseguiu “condicionar” em alguns aspectos. E por isso é que João Ferreira aproveita para dizer que não se pode “dar força a Rui Rio para andar para trás ou dar ao PS a força que pretende para se livrar dos condicionamentos à sua esquerda”.

João Ferreira falava no final de uma curta arruada na zona mais antiga do Montijo, em que foi acompanhado com cerca de meia centena de apoiantes, e também abordou a questão do controlo público de sectores vitais para o país para criticar os custos das telecomunicações e criticar o Governo por ter cedido à pressão da Vinci na escolha do local para o novo aeroporto. Deu também como exemplo, os CTT, cuja privatização o PCP propôs reverter na Assembleia da República mas PS, PSD e CDS chumbaram.

“A intenção é recuperar o controlo estratégico [de sectores e empresas] e pô-los a funcionar ao serviço do país”, argumentou o comunista, justificando-se: “O que a CDU defende não é nada que outros países não estejam a fazer. A Alemanha constituiu um fundo púbico para reforçar as posições do Estado em empresas e sectores estratégicos. Aquilo que Portugal está a sentir por prescindir de uma posição pública, forte e determinante nesses sectores estratégicos, está a ser assegurado por outros países, como a Alemanha, que não só mantêm mas reforçam a sua presença” noutros países.

“No Montijo pode sentir-se o reflexo de entregar sectores e empresas estratégicas a estrangeiros, como o favor que o Governo entendeu fazer à multinacional Vinci, prescindindo de uma infra-estrutura estratégica para o futuro do país como é o novo aeroporto de Lisboa e criando aqui uma espécie de aerogare no Montijo, atamancando uma solução que vai trazer prejuízo para o concelho.”

A caravana da CDU parou depois para almoçar com trabalhadores da Câmara de Palmela, na Sociedade Filarmónica Palmelense Os Loureiros, no alto da colina, com uma vista privilegiada sobre baía do Sado e parte da lezíria para nascente. Num constante apelo ao voto – “não arranjem desculpas para não ir votar”, disse um dos dirigentes locais aos cerca de 150 convivas -, João Ferreira vincou que a batalha das europeias “não se pode deixar apenas aos candidatos” e desfiou algumas medidas defendidas pelo PCP e aprovadas nesta legislatura.

O comunista não perdeu nenhuma oportunidade para meter PS, PSD e CDS no mesmo saco, recorrendo mesmo a comentários laterais. “Há quem ande muito atarefado a tentar mostrar diferenças, a encenar divergências e vale tudo: se os candidatos são mais ou menos engraçados, se aparecem mais os candidatos de uns ou de outros, se as direções partidárias dão mais importância a uns ou outros. Vale tudo para esconder o essencial.” E nesse essencial João Ferreira está sempre a insistir. Os três partidos “estiveram juntos na aprovação de propostas com impacto na agricultura, na pesca, na indústria, a aceitar cortes para o país”, e a apoiar a Comissão Europeia quando esta dizia que os salários não podiam subir em Portugal, enumerou.

“E agora sentem necessidade de mostrar a diferença”, vincou, afirmando desejar que façam mesmo isso para que vejam o que os deputados da CDU trabalharam em Bruxelas. “Fizeram mais aqueles três deputados do que os outros 18 todos juntos. (…) É por isso que temos que ter lá quem faça frente a estas chantagens e pressões e ponha o interesse do povo à frente.”

Lá e no Parlamento português, não se esqueceu João Ferreira de dizer, dando como exemplo o facto de o município de Palmela nunca ter aplicado o horário de trabalho de 35 horas para os seus funcionários apesar de ter sido ordem da troika ao anterior Governo. “Juntando a luta das populações e a intervenção da CDU, é o caminho para avançar em tudo o que falta.” Aqui, só falta dizer que a Câmara de Palmela é governada pela CDU e o presidente teve que dar pelouros a um dos eleitos do PS para conseguir governar em maioria.

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