Direita tenta passar ao lado da crise, esquerda não esquece “cambalhota” nos professores

Primeiro-ministro assume “choque” com o “desplante” de Joe Berardo.

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“A senhora deputada é um caso difícil”, reagiu Costa a uma das interpelações de Assunção Cristas LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

No primeiro debate quinzenal após a crise política da semana passada, PSD e CDS enfrentaram o primeiro-ministro de forma diferente. Nem um nem outro disseram uma palavra sobre a ameaça de demissão ou sobre os professores, mas o PSD escolheu atacar as “boas contas” do Governo, a arma de arremesso que António Costa lançou contra a direita durante a crise. À esquerda, BE, PCP e PEV repetiram as críticas – a “cambalhota” do Governo e o “calculismo político” - já atiradas ao primeiro-ministro.

O líder da bancada parlamentar do PSD disparou várias perguntas sobre dívidas do Governo quer aos bombeiros, aos politécnicos, passando pelos fornecedores da saúde. No final de cada frase e antes de cada ponto de interrogação, Fernando Negrão questionava: “Chama a isto uma boa gestão das contas públicas?” O PSD foi assim directo ao argumento central que António Costa vincou na crise política: o da direita irresponsável que queria fazer aprovar com o diploma de recuperação do tempo de carreiras dos professores um gasto incomportável para o Governo das “contas certas”.

O líder da bancada do PSD acusou o executivo de fazer “brilharetes nas contas públicas” à custa das dívidas que não paga e do desinvestimento. Ao longo da interpelação de Fernando Negrão, o primeiro-ministro foi assumindo que pedia informações aos respectivos ministros para dar a resposta. Mas foi quando o PSD já não tinha tempo para replicar que António Costa devolveu as farpas à direita que “começa a legislatura a ameaçar os pensionistas que lhes vai cortar 600 milhões de pensões e acaba a legislatura em cima do joelho e sem fazer qualquer conta a propor-se aumentar irresponsavelmente a despesa certa e permanente em mais de 800 milhões de euros”.

Para o CDS-PP, este debate era o do ponto final na crise. Assunção Cristas pegou nos números divulgados esta segunda-feira pelo INE sobre a carga fiscal para acusar o Governo de bater recordes. O primeiro-ministro sustentou que o aumento da carga fiscal se deve à subida do emprego e das contribuições. Perante a insistência da líder do CDS-PP, António Costa fez uma ligeira pausa e disse em jeito de desabafo: “A senhora deputada é um caso difícil”. Ouviram-se risos na sala e em particular na bancada do CDS. A crispação da semana da crise parecia ter ficado para trás.

À esquerda, o BE não esqueceu a crise política, que só terminou na passada sexta-feira quando PSD e CDS chumbaram a recuperação integral das carreiras congeladas dos professores. Catarina Martins acusou o executivo de usar números em “bruto” de despesa para “duplicar” os valores do pagamento do retroactivo para criar a “crise artificial”. E rematou: “Senhor primeiro-ministro, a governação não pode ser um jogo e este jogo faz mal ao país”. António Costa lembrou o lugar do bloco no apoio ao PS ao dizer que a “política não é um jogo, seja quando se está no Governo, seja quando se está na oposição, seja quando se está na posição em que a deputada está”.

A intervenção da coordenadora bloquista esteve também centrada nas “manobras, trafulhice e prejuízos para o Estado” de Joe Berardo, que pediu um empréstimo de quase mil milhões à Caixa Geral de Depósitos. O primeiro-ministro assumiu que “o país está seguramente chocado com o desplante” do empresário, mas disse desejar que “o que é devido seja obviamente pago, porque não há nenhuma razão para que a Caixa Geral de Depósitos [CGD] perdoe qualquer tipo de crédito”.

Jerónimo de Sousa também não deixou passar a crise em branco. “Nenhum Governo que se diga de esquerda pode ficar contente com o bloqueamento de rendimentos”, apontou o líder do PCP, acusando António Costa de “calculismo eleitoral”. Mas o secretário-geral comunista acabaria por gerar risos na sala ao assumir que, por trazer mais uma vez o tema dos atrasos no pagamento das pensões, corria o risco de ser uma “cassete” ou “nos tempos modernos uma disquete”. O sorriso haveria de voltar ao rosto do primeiro-ministro quando a ecologista Heloísa Apolónia repetiu a palavra “cambalhota”, já usada no debate por Catarina Martins, para apontar o dedo ao PS sobre os professores. E garantiu: “Aqui, Os Verdes não deram nenhuma”. 

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