Diário de campanha, dia 1: A difícil tarefa de largar o soundbite

Ninguém consegue deixar um soundbite a falar sozinho, se é que isto se pode dizer assim. Os soundbites não falam, mas dizem muita coisa. Sobretudo em política e em campanha.

Um dia de campanha oficial – e vários de pré-campanha – e já se nota o quão difícil é introduzir os temas da Europa no discurso dos candidatos. Nuno Melo andou de pé descalço, na praia, a apanhar lixo pelo ambiente e passou a mensagem de que o CDS defende “plástico zero” no mar. João Oliveira e Jerónimo de Sousa falaram sobre direitos laborais e conciliação entre vida familiar a vida profissional. Marisa Matias trouxe à baila as alterações climáticas e PS e PSD falaram sobre fundos, sobre passado e futuro. Nada mau para um primeiro dia.

É justo dizer que foram aflorados alguns temas interessantes, mas também é justo registar que alguns candidatos não foram capazes de resistir à tentação de responder a provocações prévias. E hoje, o primeiro dia de campanha começou com os principais protagonistas a ajustarem contas, ainda, com o primeiro-ministro, que na sexta-feira falou sobre os candidatos “engraçadinhos” para os debates televisivos que a direita escolhe.

Ninguém consegue deixar um soundbite a falar sozinho, se é que isto se pode dizer assim. Os soundbites não falam, mas dizem muita coisa. Sobretudo em política e em campanha.

No dia em que os partidos deram oficialmente início à caravana que os há-de levar pelo país adentro, Assunção Cristas escolheu defrontar António Costa noutro palco: o debate quinzenal. No Parlamento, falou-se sobre incêndios e percebeu-se que o primeiro-ministro voltou a encostar-se à esquerda, desta vez em matéria de SIRESP e nas críticas a Joe Berardo e à gestão da Caixa Geral de Depósitos.

Também foi no dia em que Pedro Marques foi chamado de Pedro Martins e Nuno Melo de “Melinho das feiras” que Marcelo Rebelo de Sousa veio à tona e explicou o seu silêncio de onze dias com uma questão de “necessidade”. Falou aos jornalistas durante 15 minutos e ficou a saber-se que pouco depois das eleições, a 7 de Junho, há-de receber os partidos em Belém.

De Viana do Castelo a Palmela, foi um dia preenchido. Até Luís Montenegro, adversário de Rui Rio, marcou presença numa acção do PSD em Espinho ao lado de Paulo Rangel. Pediu um cartão amarelo ao Governo. Subitamente, o PSD de Rio parecia o PSD de outros tempos, quando se enterrava o machado de guerra ao primeiro sinal de que o poder parecia estar perto. Chamavam-lhe dinâmica de vitória.

Apesar de o partido se ter apresentado unido, a perspectiva de poder não parece estar muito perto para os sociais-democratas. Pelo menos no que diz respeito a eleições legislativas. Na sondagem que marcou o dia do arranque da campanha, a primeira depois da crise política, vê-se o PSD a subir 0,3 pontos percentuais, mas o PS a subir o dobro. E António Costa muito acima de Rui Rio em termos de confiança política para o cargo de primeiro-ministro. O estudo de opinião é da Aximage e foi publicado nesta segunda-feira no Correio da Manhã e no Jornal de Negócios.

Quem não resistiu a comentá-lo foi Rui Rio. “Já saiu a sondagem independente que nos anuncia que o PS ganhou com a crise política ensaiada pelo primeiro-ministro. Foi mais rápido do que eu esperava. Com o epílogo na sexta-feira – mais trabalho de campo e tal e coisa – contava com este último acto só lá para quarta-feira”, escreveu o líder do PSD no Twitter (a rede social que originou uma polémica recente e até uma demissão no PSD). Ironias à parte, este tweet é a prova de que há política além da campanha. E de que estas europeias não serão só sobre Europa.

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