PS quer “punir” e “sancionar” a direita. Costa não falou em Pedro Marques

“O deputado fake”, a comparação entre o Benfica que é bom e “o Sporting não presta” e a luta contra a “direita” que quis “sancionar” Portugal. Está lançada a campanha socialista.

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LUSA/MIGUEL A. LOPES

O início de campanha do PS teve todos os clichés habituais de quem vai para a estrada, menos o candidato. Ou melhor, o candidato foi, apareceu, discursou e apontou à oposição, mas os convidados de honra não o mencionaram nos seus discursos. “Frans! Frans! Frans! Frans” gritou António Costa sem parar no fim do discurso. “Viva António Costa! Viva António Costa!”, gritou Frans Timmermans, o candidato dos socialistas à Comissão Europeia. Pedro Marques, o cabeça de lista do PS às eleições europeias de dia 26 de Maio, lá estava ao lado de ambos no final dos discursos, mas só Jorge Coelho o lembrou.

Tirando este ofuscamento do candidato nos discursos dos principais protagonistas deste domingo de campanha em Mangualde, tudo estava a correr bem aos socialistas. O almoço fazia lembrar os antigos comícios cheios de convivas à espera do tradicional lombo de porco assado (que começaria já às três da tarde), a bater recordes de presenças, 2100 pessoas, diz a organização.

Os intervenientes, com relevo no PS local (João Azevedo) e nacional (Jorge Coelho), aos gritos no palanque a puxar pela dinâmica da campanha. Chegaram também os anúncios de obras (a requalificação do IP3, decidida quatro dias antes desta chegada dos socialistas a Mangualde chegaria aos discursos) e respostas às “campanhas negras” dos opositores. Um menu recheado na véspera da abertura da campanha oficial.

O recheio da tarde foi distribuído por António Costa que, num discurso em que foi buscar algumas ideias que tem vindo a defender, se centrou na necessidade de “dar mais força ao PS” para “dar mais força à Europa” para ter à frente da Comissão Europeia Frans Timmermans. Um “dois em um” como lhe chamou. No discurso que fez, lembrou que muitos não acreditavam em Portugal – Timmermans tinha antes dito que tinha sido um dos resistentes que se transformou em crente –, mas que se resultou por cá, pode de resultar na Europa. 

“Conseguimos em Portugal e vamos conseguir na Europa uma frente progressista”, defendeu. Para este seu propósito, e porque nos corredores de Bruxelas muitas vão ser as negociações necessárias a fazer, Costa garante que o “PS não é um partido fechado” e recorda que em Portugal conseguiu ter uma “qualidade única de fazer amigos em todos os sítios e com aqueles que connosco disputam eleições”.

Se por cá foi BE, PCP e PEV, em Bruxelas junta-se a Alexis Tsipras (Grécia) e Emmanuel Macron (França). O objectivo final: “De Tsipras a Macron vamos conseguir construir uma grande frente progressista que vai fazer a mudança que é necessária. Não podemos ter à frente da Europa quem nos quis castigar, punir como se a austeridade não tivesse sido castigo suficiente”, frisou.

No fim, um grito repetido de apoio ao holandês: “Frans!” Não ao seu cabeça-de-lista, que se juntaria para a fotografia de família, mas sem menções dos principais convidados.

Frans Timmermans, o holandês candidato dos socialistas, centrou o seu discurso em António Costa, e acabaria a dar-lhe vivas, também ele esquecendo Pedro Marques. “Ele foi para Bruxelas com um plano: temos de parar com a austeridade. Tenho de cuidar das necessidades do meu povo. (…) Tenho de ser honesto convosco: pensei, isto é impossível!”, referiu. Mas, acrescentou, “António consegue ser extremamente convincente” e dissemos-lhe: “Se tem este compromisso, vá em frente e faça. Quem disse não? Weber disse que não”.

Manfred Weber, o nome contra quem concorrem os socialistas europeus, foi ponto presente nos discursos de todos os intervenientes. A começar pelo candidato. Pedro Marques fez uma crítica e um apelo num só. Caracterizando Paulo Rangel como “deputado fake”, defendeu que o social-democrata proclama a sua influência em Bruxelas mas “não lhe conhecemos em 10 anos um trabalho relevante para Portugal. Não lhe conhecemos uma medida, uma acção que tenha mudado a vida dos portugueses”.

A acção que teve, disse, é a de apoiar Manfred Weber, o alemão que, diz e repete o PS, defendeu “sanções contra Portugal”. “Se [Paulo Rangel] tem tantos quadros no Partido Popular Europeu por que não conseguiu influenciar Weber a não aplicar sanções em Portugal?” Depois da crítica entra o apelo: “Essa direita que defendeu sanções tem de ser sancionada nas urnas”.

Marques usou o verbo “sancionar” para um apelo ao voto. Jorge Coelho usou o verbo “punir” e outros argumentos para os eleitores não votaram em PSD e CDS. Para o histórico socialista, natural de Mangualde, é pelo que se passou na votação do diploma dos professores (e não só) que os eleitores não devem confiar naqueles dois partidos. O PSD é “um partido cata-vento” que ao aprovar o diploma que repunha aos professores o tempo integral de serviço que tinha sido cortado “pôs em causa o nosso presente e o nosso futuro”.

No meio de um elogio de “coragem” a António Costa por ter feito o que fez, Coelho faria um apelo dramatizado ao voto: “Faço um apelo, a direita tem de ser punida no próximo dia 26; tem de levar uma resposta dos portugueses para que não se metam neste tipo de acção política. Em causa está o futuro do país”, disse, num tom uns decibéis acima.

Outro dos argumentos utilizados por Coelho foi o facto de Paulo Rangel dizer que a lista do PSD é boa e as dos outros partidos “não prestam”. Para exemplificar que o “conceito é infantil”, Coelho lembrou conversas que tem com os “netinhos”, um de 10 anos e outro de seis, benfiquistas por influência do pai e que gozam como avô pela sua preferência clubística: “Ó avô por que és do Sporting? O Sporting não presta. Parece isto [que faz Paulo Rangel] a minha equipa é boa, a tua não presta. A minha lista é boa, a tua não presta”, disse.

Começar em casa sem riscos

O tom de voz elevado foi uma característica do homem que receberia mais aplausos neste almoço. Não se crê que tenha sido por ter sido o primeiro a discursar, antes de o estômago reclamar comida, mas por ser o homem da terra. João Azevedo, ou o autarca que ficou chateado por ganhar “6 a 1” nas autárquicas e não ter conseguido o sétimo vereador, fez um discurso inflamado falando nas “campanhas negras” que “tentaram fazer”. Não especificou a quem ou ao que se referia, mas ditou a sentença para quem o fez: “Quem com ferros mata, com ferros morre”.

Para gáudio da plateia, que ainda ouvia atentamente, lembrou um feito dos socialistas pela terra: a requalificação do IP3. “Só foi possível com um primeiro-ministro e um ex-ministro das infra-estruturas quiseram esta solução. Conseguiram resolver um problema de décadas para a região”. O anúncio dessa solução chegou esta semana pela voz do deputado socialista por Coimbra Pedro Coimbra, quatro dias antes da chegada da campanha socialista a Mangualde.

No fim de contas, o PS arranca para a campanha oficial com um almoço em que mostrou a sua força na mobilização de pessoas. Costa haveria de usar esta mobilização como argumento. Numa altura em que as sondagens mostram uma vitória pouco mais do que por “poucochinho”, o secretário-geral do PS, lembraria que quem dizia que o distrito de Viseu era o “Cavaquistão e que isto não estava a correr bem ao PS, é aqui que mostramos a força, a energia e a dedicação do PS”. Ou, como recordou, “em todas as circunstancias há sempre um lema que nunca esquecemos: é que quando a luta aquece, mais força tem o PS”. Diz 26 saberá o resultado.

Ouça aqui o podcast P24 sobre o arranque da campanha socialista:

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